Entramos no quarto de Gisele, encontrando a garota brincando com algumas bonecas. Estava na hora de contar a verdade para ela e eu não sabia se ela reagiria bem a isso.
- Oi filha, tá fazendo o que?
- Brincando de casinha.
- Que legal! - Catarina disse se sentando ao lado dela - A gente veio conversar com você.Também me sentei perto da garota, que sorriu para mim, colocando as bonecas de lado.
- Olha, a mamãe quer que você tente entender, tá bom?
Ela balançou a cabeça afirmativamente. Olhando para mim demonstrando estar confusa com a situação.
- A mamãe e o papai estão passando por um momento complicado - Catarina disse segurando a mão da filha - Lembra aquela vez que ele foi embora e você ficou doentinha? Isso não pode acontecer de novo, tá bom?
- O papai vai embora? - Ela olhou rapidamente para a mãe, assustada.
- O papai precisa do espaço dele, a mamãe também.Os olhos de Gisele começaram a encher de lágrima.
- Gi, não chora - Comentei segurando em sua outra mão - Isso não quer dizer que seu pai não vai estar aqui, vocês vão se ver sempre que puderem, mas é melhor pra sua mãe assim, você não quer ver ela tristinha, quer?
Por algum motivo, Gisele sempre se confortava comigo por perto. Ela apertou fortemente minha mão e dirigiu-se a mim.
- Você vai ficar aqui comigo, tia Clara?
Olhei para Catarina, que sorriu mesmo com tudo que acabara de acontecer.
- Ela vai, filha. A gente tem um segredo pra te contar, mas você não pode contar pra ninguém, tá bom?
- Tá bom - A menina resmungou chorosa.
- A mamãe e a tia Clara gostam muito uma da outra, muito mesmo. Sei que pode ser estranho pra você, a mamãe nunca conversou sobre esse tipo de coisa... Deveria, mas não conversei. É normal dois homens gostarem um do outro, ou duas mulheres gostarem uma da outra. E a mamãe e a tia Clara se gostam.
- A tia Clara é seu namorado? - Ela perguntou confusa.
- Mais ou menos - Catarina e eu rimos - Ela é minha namorada.A garota parecia extremamente surpresa, olhando para mim boquiaberta.
- Então você vai ficar sempre aqui com a gente, né? - Ela sorriu.
- Sim, vou - Sorri de volta.Gisele me surpreendeu com um abraço, o que era a ação que eu menos esperava naquele momento. Em minha mente eu imaginei ela chorando e dizendo que queria o pai, que me odiava e não me queria ali, mas o pai parecia não importar naquele momento para ela, e aquilo para mim era um alívio.
Olhei para Catarina, ela estava chorando novamente, mas percebi que dessa vez era de alegria, já que as lágrimas escorriam e iam de encontro ao enorme sorriso estampado em seu rosto. Estendi a mão para ela, que se juntou a nós em um abraço apertado.
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Passei um tempo com Catarina e Gisele, nós 3 deitadas na cama da garota conversando e contando histórias, ela parecia nem lembrar de que havíamos contado que sua mãe não voltaria com o pai.
- Que horas são? - Perguntei.
- Vou ver - Catarina se levantou e pegou o celular - Já é mais de onze horas! Já era hora de você estar dormindo, mocinha - Disse Catarina apertando levemente o nariz de sua filha.
- Ah mamãe, deixa eu ficar só mais um pouquinho acordada, por favor!
- Nada disso, tá muito tarde já.Gisele concordou, mesmo fazendo uma cara de cachorrinho sem dono que quase me fez implorar pra Catarina deixar ela ficar acordada.
- Tia Clara, pode ficar aqui comigo um pouquinho?
- Posso? - Perguntei para Catarina.
- Olha eu não to gostando disso não ein, vou ficar com ciúmes! - Catarina disse rindo - Pode, vou esperar você lá na sala.Catarina me deu um beijo na bochecha e saiu do quarto fechando a porta. Arrumei a garota na cama deitando-me ao seu lado e abraçando-a.
- Tia Clara, canta pra mim?
A única música que vinha na minha mente era Dorme Neném, o que provavelmente não era o que ela queria.
- Qual música?
- Hum... Pode ser a da Rapunzel?
- Qual?
- A da florzinha.A sorte era que mesmo crescendo eu continuava viciada em desenhos, por isso sabia a música.
- "Brilha linda flor, teu poder venceu..." - Cantei enquanto fazia um cafuné em sua cabeça.
No final da música Gisele já estava cochilando. Sono pesado, eu diria. Fiquei mais alguns minutos para que ela não acordasse quando eu levantasse da cama, abri a porta e dei de cara com Catarina no sofá com a cabeça sustentada pelas mãos, parecendo preocupada. Sentei-me ao seu lado e deitei minha cabeça em seu ombro.
- Tá bem?
- Até que sim, mas vem um pouco de medo pensando no que ele falou.
- Ele não vai conseguir tirar a Gi de você, nem se ele abrir um processo, o que não vai acontecer.
- Por que ele não abriria?
- Porque ele sabe que tá errado.
- É - Disse Catarina se endireitando no sofá - Mas enfim, tá tudo certo por enquanto, to com a Gi, e to com você...Segurei em sua mão, acariciando-a. Passamos alguns minutos assim, ouvindo o silêncio, aproveitando a companhia uma da outra.
- Vai dormir aqui hoje?
- Não sei, meus pais voltam amanhã de tarde.
- É só acordar cedo - Catarina riu.Acordar cedo definitivamente era um problema para mim e ela sabia, já que eu havia mudado para o turno da noite na escola por esse motivo.
- É...
- Ah, dorme aqui vai. Te acordo enchendo de beijos, você nem vai se importar, e depois eu ainda te levo pra casa.
- E mais uma vez você me convencendo com todo o seu charme - Dei risada - Ta bom, mas vai ter que me emprestar outra roupa.
- Como se já não fosse normal.Levantei dando risada e estendendo a mão para que ela se levantasse também. Ela segurou sendo puxada por mim logo em seguida, sendo recebida com um abraço seguido de um beijo lento e um sorriso no final.
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Atração ou Repulsão?
RomantikClara, uma adolescente de 17 anos, se vê totalmente atraída pela sua professora de física, Catarina, cujo casamento está em meio a grandes turbulações... © Copyright • Todos os direitos reservados