2 ◎ ¦hurts like hell¦

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Tudo veio à tona de uma vez só, sem intervalos para respirar ou sequer associar tudo isso.

Meus pais morreram no primeiro dia de março deste ano, cuja investigação foi arquivada por não conterem provas concretas nem testemunhas do assassinato. Os policiais e detetives apontaram que não haviam digitais, nem suspeitos, e, por isso, era um crime que provavelmente jamais seria resolvido.

Eles morreram no quarto ao lado, e nem eu, nem Junghyun ao menos vimos o rosto do filho da mãe.

Imperceptível durante bons segundos, minha respiração tornou-se irregular ao mergulhar em minhas lembranças, e, na tentativa de acalmar meu corpo, tomei outro copo d'água quase de uma vez . Depois, virei o rosto em direção ao meu hyung e expulsei uma grande quantidade de ar antes das simples e únicas palavras:

— Sim, é — murmurei, quase inaudível, e travei meu maxilar para obter o mínimo de autocontrole.

— Desculpa tocar no assunto, Kookie — pediu, acuado, e aproximou seu pequeno corpo do meu, tocando seus dedos nos meus com receio. — Às vezes sai, e você sabe que eu também era próximo deles...

Ofereci-lhe um sorriso sereno e reconfortante, embora não fosse tão aberto, e deslizei meu polegar no dorso de sua mão macia. Não pude deixar de notar seu olhar repleto de expectativas ao descê-lo até nossas mãos e voltá-lo ao meu rosto, agora exibindo um sorriso de alívio.

— Não se preocupe, Jimin. Acontece com todo mundo.

Ele assentiu num único movimento e me puxou de volta para o quarto, e eu não fiz nenhuma menção de contrariá-lo. Quando nos acomodamos na cama novamente e pegamos nosso material de estudo, o observei atentamente durante algum tempo antes que levantasse a voz outra vez:

— Jimin hyung? — chamei e vi suas íris correrem em direção às minhas. — Está tudo bem, não está?

Ele apertou um pouco as sobrancelhas e curvou seus lábios num sorriso desajeitado, talvez preocupado por consequência da minha pergunta.

— Claro que sim, Kook.

Eu gesticulei em concordância e com a primeira oportunidade em mãos, nos agarramos aos estudos para colocarmos um fim ao assunto desconcertante.

A tarde voou após iniciarmos nossos deveres, que foi especialmente agradável com a presença de Jimin durante todo o período. Porém, ao anoitecer, infelizmente, ele teve que voltar à sua casa, e eu fiz questão de acompanhá-lo até o ponto de ônibus.

A rua não estava tão movimentada e o busão demorou para chegar, por isso ainda conversamos mais um pouco enquanto o esperávamos. Todas as minhas confusões e os enigmas da manhã foram deixados de lado e a minha atenção foi focada apenas em meu melhor amigo.

E eu estava eternamente grato por tê-lo comigo.

Quando o ônibus chegou, nos despedimos, e eu aguardei até que o veículo sumisse de vista para finalmente começar a caminhar de volta para casa, mesmo com medo de esquecer o caminho.

Talvez Jimin fosse literalmente meu porto seguro, a ponto de depender de sua presença para não sentir medo de esquecer meu próprio nome.

Embora o trajeto para minha casa tenha sido tranquilo e seguro, a mesma situação angustiante se repetiu e eu concluí que é inevitável afirmar que hoje está tudo muito estranho. Parado diante da porta semiaberta, eu arrastei meu olhar por todo o meu redor e pude notar, no canto da esquina, quase imperceptível, uma sombra.

A mesma silhueta que eu vi mais cedo, tão próxima à mim que eu poderia ter um infarto.

Meu corpo tremeu e eu senti, em frações de segundos, todos os meus músculos se contraírem enquanto o contato visual era firme sobre aquela sombra. A familiar agonia de ser observado por aquilo me consumia ao ponto de me paralisar.

missing busan ◎ jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora