Preto.
Era tudo o que eu via naquele instante.
Meus sentidos estavam aguçados e um incômodo cutucava minha garganta constantemente, me dando a sensação de que havia um grito encurralado, como se não o tivesse libertado a tempo.
Num sopro violento, o vento passou sobre meu corpo e foi contra minhas roupas encharcadas, espalhando o frio por todos os nervos atiçados. Como consequência, forcei meu maxilar, sendo meu primeiro movimento racional e acessível naquela hora.
Então, num susto, abri meus olhos ao mesmo tempo em que me sentei bruscamente no asfalto molhado, sem entender absolutamente nada. Arrastei meu olhar pela escuridão que cercava a estrada desértica, no meio do nada, com a sintonia do som da chuva.
Minha mente estava vazia, como se tivesse sido formatada sem mais nem menos. Franzi o cenho e olhei meus palmos antes de usá-los como sustentação para o meu corpo fraco. Eu sentia que minhas pernas iriam derreter a qualquer momento e minha consciência iria se esvair mais uma vez, entretanto, comecei a dar passos lentos, embora não soubesse sequer onde me encontrava.
E eu continuei. E continuei. E continuei.
Quando eu cogitava a possibilidade de não ter mais maneira alguma de escapar daquela imensidão escura e vazia e minhas esperanças estavam esgotadas quase que por completo, algo bem longe, mas que claramente podia ser distinguido da rua, me chamou a atenção e me fez suspirar, provavelmente de alívio.
Foi assim que ganhei forças do além para apressar o passo o máximo que pude, correndo até a placa que dizia a seguinte frase:
BUSAN A 40 KM.
Busan. Eu conhecia esse lugar de alguma forma. Por outro lado, não me vinha nada à mente. Contudo, familiar ou não, aquilo realmente não me importava. Meu desespero era tamanho que eu não me importava com questões de localização, apenas desejava um sinal de população, qualquer coisa que pudesse indicar que eu não estava completamente sozinho.
Apesar da motivação de seguir em frente e a vontade de sair daquele inferno de uma vez por todas, meu desgaste físico limitava meus esforços e era inútil tentar dar mais um passo. Forcei minhas pernas doloridas até chegar mais próximo da placa, onde me recostei e tentei recuperar o fôlego, mas, sempre que respirava fundo, a impressão que eu tinha era que meus pulmões recebiam a menor quantidade de ar que poderiam ter.
Sem a mínima noção de tempo, eu fiquei o quanto achei necessário até me recompor e voltar a caminhar, ainda que com os músculos doloridos e minha estrutura gritando por ajuda e mais descanso.
Era como se eu houvesse andado milhões de quilômetros, todavia, Busan não chegava nunca. A rua prosseguia desértica, a noite seguia rodeando tudo juntamente à escuridão e o som da chuva era ensurdecedor, além do frio que agravava minhas dores pela sensibilidade da derme.
Entretanto, como uma pontada de esperança, pude identificar um barulho diferente, bem baixo e distante, que vinha bem atrás de mim.
E foi em questão de segundos.
Em segundos, eu girei meu corpo com o resto de energia que sobrava em mim e meus olhos estremeceram pelo reflexo forte da luz que se aproximava rapidamente.
Assim que me dei conta de que o carro estava a centímetros de mim como se eu não estivesse presente, já era tarde demais. E, mais uma vez, a sensação do grito entalado em minha garganta surgiu e, mais uma vez, era impossível libertá-lo.
Num impulso, reabri minhas pálpebras e senti os brônquios queimarem pelo esforço de puxar oxigênio tantas vezes e com tanta pressa. Quando vasculhei o meu redor com mais atenção, todo o ambiente que antes me causava agonia e desespero sumiu, me deixando confuso.
Engoli minha saliva, que desceu dolorosamente, e reparei em cada detalhe do lugar, reconhecendo o então pátio de uma escola, num canto não tão movimentado.
Arrastei meus dedos pelo tecido áspero no qual minha cabeça repousava e entreabri meus lábios, observando as pernas cheinhas cobertas pela calça jeans. Logo que ergui o rosto e tive a oportunidade de enxergar de quem era o colo que me dava conforto e as mãos que me ofereciam carinho, passando de um lado para o outro no meu cabelo, meus olhos brilharam.
Cada pequeno traço do seu rosto foi marcado pela minha visão, enaltecendo aquela beleza que era surreal como a de um anjo.
Primeiro mirei sua pele leitosa, tão hidratada e reluzente que faria qualquer um ter inveja. Em seguida, reparei no quanto suas bochechas eram gordinhas e adoráveis, com um toque especial por serem rosadas. Era irresistível a vontade de apertá-las. Então, automaticamente, meus olhos desceram até sua boca perfeita e cheinha, totalmente preenchida pelo pigmento cor-de-rosa que aparentava ser natural.
E, finalmente, como o detalhe mais importante e marcante, foquei toda a minha atenção em seus olhos. Seus olhos puxados e pequenos, tão penetrantes e brilhantes, tão lindos e apaixonantes, que impressionariam a qualquer um. Aquelas íris negras me prendiam como cola, me amarravam como corda e me deixavam imóveis, e não precisavam fazer um esforço sequer. Eram intensas.
E, quando eu achava que seu visual não poderia ser mais perfeito e etéreo, seus lábios se curvaram num sorriso enorme, chegando até seus olhos e destacando as bolsinhas sob os mesmos. A forma como suas pálpebras se fechavam com aquele sorriso era única; despertava um sentimento em mim do qual é indescritível.
Minha mente estava concentrada apenas naquela visão deslumbrante, até que um estalo surgiu em minha mente carregando um nome consigo. Naquele momento, eu percebi a quem eu admirava, com sua beleza inumana.
Park Jimin.
📼
《 N O T A S F I N A I S 》
olha quem tá de volta :D
eu mesma, e dessa vez voltei pra ficar!
espero que todos estejam bem e DENTRO DE CASA, protegidos.vamos aos esclarecimentos:
• sim, eu havia retirado a publicação da minha bebê temporariamente graças ao bloqueio criativo e à necessidade de revisão. Além disso, eu não estava sabendo administrar bem o meu tempo e conciliar tudo com a fic, mas agora está tudo certinho e vocês vão ter os capítulos semanalmente.
• outro motivo para eu ter tirado a fic de publicação foi o problema que eu estava tendo com o Wattpad. Eu sempre tinha que publicar duas vezes ou mais e ainda assim dava erro, e também apareciam cópias de todos os capítulos, o que me deixava um pouco frustrada. Espero que não aconteça novamente, porque eu me dediquei muito à essa fic como nenhuma outra minha.
• as minhas outras fanfics também voltarão, mas daqui a alguns meses, porque quero ir com muita calma e organizar tudo certinho. Tenham paciência, por favor ♡
• conforme eu havia prometido, hoje serão publicados os cinco primeiros capítulos; os dois primeiros junto ao prólogo, às sete horas da noite, e os outros três às nove da noite.
• conforme eu avisei na sinopse, a fanfic contém cenas de morte, distúrbios mentais e violência. Se você é sensível a esse conteúdo, não recomendo que você a leia.
• TODO detalhe é relevante na fanfic, então prestem muita atenção nas pequenas coisas, inclusive nas minhas notas! Tudo faz parte de um quebra-cabeça, então é PROPOSITAL que vocês não entendam algumas coisas até que tudo seja esclarecido no último capítulo, ou seja, o décimo. Até lá, as teorias rolam soltas hehe
notas grandes, mas foi necessário ._.
enfim, se cuidem e se hidratem, eu amo vocês. Qualquer dúvida, estarei à disposição para responder, e não se esqueçam de votar e comentar :)
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missing busan ◎ jikook
FanfictionNa dia 1° de Junho, Jeon Jungkook acordara de seu pesadelo angustiante. Seu singular e mais perturbador sonho, que era a única coisa da qual tinha a capacidade de se recordar. Embora sofresse com o transtorno de ter perdido a memória e despertar num...