4 ◎ ¦listen while you're dancing with him¦

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Meus pensamentos se encontravam espalhados, tão despejados sobre a cama quanto eu. O tilintar do relógio da sala estalava sorrateiramente pela casa, ecoando com fraqueza no meu quarto, e o ambiente ficava mais pesado em razão disso, como todas as noites desde a minha amnésia repentina. As memórias tomaram forma mais nítida quando descansei a cabeça sobre meu travesseiro macio, e eu voltava a ser perturbado pela visão que eu tive mais cedo de Jimin gritando e chorando por apenas frações de segundos.

Era possível aceitar, sim, os pesadelos como algo irrelevante e natural do ser humano, mas como poderia concordar com visões repentinas, perda de audição e os vultos que me perseguiam cada vez com mais frequência? Era inevitável abraçar a insônia quando minha cabeça girava em torno de toda aquela bagunça que a minha vida estava se tornando, e absolutamente nada podia ser feito a respeito disso.

Ainda guardava um pesar no peito e a palpitação de estar sempre com algo pendente, como se uma intuição incomum me alertasse de um perigo. O problema era esclarecer essas intuições, e saber se era real ou um mero fruto da minha imaginação recentemente afetada. Com essa sensação horrível, eu peguei a caixinha de música que ganhei do meu melhor amigo e a abri, revelando o bailarino novamente.

Ao me deparar com a figura tão frágil e delicada, refleti sobre como é triste estar à mercê de outra pessoa ou poder, sem controle sobre sua vida. Um bailarino numa caixa de música depende de quem levante a tampa e dê corda, sem poder agir contra ou de acordo com a situação; exatamente como eu. Ele apenas segue suas funções, dança conforme a música e se mantém calado. Existe metáfora melhor para explicar o que me acontecia nos últimos dias?

— O que eu devo fazer, Jimin? — sibilei, arrastando os dedos pelo tecido aveludado.

Sem pressa, então, levei minha mão até o pequeno mecanismo de dar corda e o girei repetidas vezes, até que o soltasse e deixasse a música tocar suavemente, ativando por completo a sensibilidade e a atenção dos meus ouvidos. A cada nota que soava da caixinha, eu associava mais a música, até conseguir identificá-la como a música que Hoseok compôs para a nossa apresentação do ano passado, uma peça teatral dramática.

Boy Meets Evil, Hoseok a nomeou.

Ligando ao resto das informações, supus que o pai de Jimin fizera o mecanismo personalizado que dava som às cordas, já que ele tinha experiência e sabia mexer com mecânica e fundição incrivelmente bem. Pelo menos disso eu me recordava.

Tomado pela ansiedade, peguei o bilhete no fundo da caixa e o abri, lendo a seguinte mensagem:

"Espero que tenha gostado do presente, Kookie. Você é especial para mim."

Então, pela primeira vez sem a presença de Jimin, eu verdadeiramente sorri, sem forçá-lo ou fazê-lo pela gentileza de confortar um outro alguém. Me senti bem, sozinho, mesmo que a causa ainda fosse meu melhor amigo. Entretanto, aos poucos o sorriso se desfez em meus lábios e minha visão ficou turva, desfocada e escura. Assim, eu adormeci à companhia daquelas belas notas musicais.

Gradualmente, a música se misturava com o ruído da chuva e meus olhos capturavam imagens do meu quarto, num lugar que parecia ser um completo vazio, como um fundo preto, onde a única coisa que era identificável, além do meu corpo, era a cama na qual eu repousava. O lugar ressoava um eco e ouvia-se um sussurro atrás de mim, mas era indecifrável. Suspiros pesados.

Me sentei e torci o corpo para poder visualizar quem fazia tais sons, contudo, não havia ninguém atrás de mim, nem ao meu lado, nem à minha frente, nem em ponto algum daquele ponto. Estava vivendo em uma realidade própria, fruto da minha mente, e ainda assim não compreendia nada.

Eu tinha a mais absoluta certeza de que os sussurros se tratavam de um nome; um significativo, como se a minha vida dependesse dele. Como se fosse um aviso.

missing busan ◎ jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora