À menos sinto-me liberta!

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Alex

Sabe, há muito tempo que eu queria me libertar desse nó na garganta que estava a me causar comichão, irritação e dor sempre que eu passava por alguma artimanha daquela avó torta emprestada, que eu nem pedi emprestado.

Apesar do que aconteceu com ela naquele maldito dia na sala de jantar, na hora do almoço, sinto-me aliviada por enfim ter dito ao meus pais a maneira com que a Brígida me tratava sempre que eles não estavam por perto, mesmo sabendo que isso só aconteceu porque agora eu sei que não sou a neta dela, até porque isso ela deixou bem claro sempre, pelo modo de tratamento direccionado à mim, de frieza, e as minhas irmãs, de muito carinho.
Porém, sinto-me culpada pelo rumo que a minha confissão levou. Primeiro levou à discussão, segundo à desentendimento e, terceiro ao hospital. É isso, ao hospital, por um momento acreditei que fosse fingimento da parte dela, e queria que fosse, mas no outro, descubri por minha mãe, que ela verdadeiramente sofreu um infarto.
Foi o ápice da culpa em mim, por que se antes meu pai ficou decepcionado, agora com a confirmação do infarto, ele está... Acho que não existe outra palavra suficientemente adequada  para classificar a maneira que meu pai se sente em relação à mim, quiçá decepcionadíssimo. Tive a certeza dele ainda estar decepcionado pelo modo com que falava comigo, na verdade, mal me dirigia à palavra entre nós só existia um "Bom dia", "Boa tarde" caso ele estivesse em casa, "Boa noite" caso não estivesse no hospital com sua mãe. Era o mais perto de uma conversa que eu conseguia chegar com ele até que um dia, numa Quinta-feira especificamente, quatro dias após o ocorrido tivemos uma conversa longa, mas que não acabou bem:

Alex- Boa tarde papá!- Cumprimentei longo que o vi sentado no sofá mexendo o celular, eu acabava de voltar da escola.

Francisco- Boa tarde.- Respondeu ainda mexendo o celular. Antes ele dizia: Boa tarde, filha.

Alex- O pai não vai trabalhar hoje?- Tentei puxar assunto.

Francisco- Não, é meu dia de folga.- Por um momento olhou pra mim, mas no segundo seguinte voltou a dar atenção ao celular. O seu olhar era indecifrável.

Alex- Que bom, assim o senhor descansa.- Sentei-me no sofá à sua frente. Em seguida veio um silêncio constrangedor, só se fazia ouvir o som das teclas do celular, na qual não parava de mexer.- Não vai querer saber como foi meu dia na escola?

Silêncio.

Francisco- Como foi seu dia na escola, Alex?- Pela primeira vez, desde o ocorrido disse meu nome, e pára de mexer o celular.

Alex- Nooossa, em outras circunstâncias no lugar de dizer Alex teria dito filha.- Falei meio irónica.- Mas respondendo a ,"sua"...- Fiz aspas com os dedos.- ...Pergunta, o meu dia na escola foi óptimo.- Menti.

Francisco- Bom pra si. É como você disse, em outras circunstâncias.- Deu ênfase na última palavra. Isso me doeu, ele não me vê mais como filha?!- Bem, o meu descanso acabou, vou ao hospital visitar a sua avó, quero dizer, a minha mãe.- Retificou assim que percebeu que eu ia protestar. Ele se levantou com o intuíto de ir onde ia, mas o impedi com a minha indagação.

Alex- Pai, você não me vê mais como filha?- Perguntei com medo da resposta. Ele voltou a si sentar.

Francisco- Que pergunta é esta, Alex! Mas claro que não, de onde tirou isso?- Franziu o cenho, como se a pergunta que eu acabara de fazer fosse um absurdo.

Alex- Das suas atitudes perante à mim. O senhor mal fala comigo, sempre que estou o papá não está, até espanto-me que só hoje o encontro e estámos a ter esta conversa. Me trata com ignorância, se a dona Brígida estivesse morta, acreditaria se me dissessem que a alma dela encarnou no seu corpo.- Falei sem fôlego e senti meus olhos arderem.

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⏰ Última atualização: Aug 25, 2020 ⏰

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A Amargura de uma Filha AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora