A Amargura de uma Filha Abandonada

Conhecer o meu "pai".

Alex

Já fazem 3 horas que estou trancada dentro do meu quarto. Já fazem 3 horas que sei a verdade, que sei que o meu pai não é meu pai.

Como eu me sinto?
R: Nem sei direito como eu me sinto.

É uma mistura de sentimentos. Sinto...raiva, rancor...nada de bom.

Estou com raiva da minha mãe?
R: Não, certeza que não, a minha mãe errou sim por não ter me contado antes a verdade, porém sei que ela fez o que fez para me proteger.

Do quê?
R: Não faço ideia.
Talvez pra eu não sofrer, não sei, só ela pode me dar a resposta certa.

O facto é que estou a sofrer agora que sei que não sou filha do meu pai...do homem que chamei de pai todos esses anos.

Essas são as perguntas que martelam a minha mente...tem muitas mais...

Meu coração está despedaçado.
Minha mente está confusa.

Meu pai, minha mãe, vieram aqui e bateram a porta do meu quarto umas...mil vezes, mais não os deixei entrar, precisava ficar sozinha pra assimilar essa revelação que veio como um tsunami pra mim.

Saber disso me deixa vulnerável, pior é que...ele quer me conhecer, mas eu não estou pronta pra isso...
Sou interrompida dos meus pensamentos com três batidas na porta seguidas, e a pessoa não se pronucia. Se for a minha mãe ou meu pai não os deixarei entrar, não quero conversar pelo menos não agora.

Alex- Quem é?

Lúcia- Sou eu Lúcia.- Respondeu com uma voz exasperada.

Alex- Entra, a porta está destrancada!- Disse com a voz embargada de tanto chorar. É, hoje já chorei rios de lágrimas. Limpei as lágrimas logo que a Lú entrou e se sentou na ponta da minha cama olhando para mim.

Lúcia- Alex você estava a chorar?- Neguei com a cabeça ainda encostada no travisseiro.- Eu ti conheço, estavas a chorar sim.- Afirmou cruzando os braços, e olhou pra mim esperando que eu talvez rebatesse.- Consigo ver pelos seus olhos vermelhos e inchados.
O que está acontecer? A sua mãe ligou pra mim dizendo que você não está bem e que tinha que vir te consolar.- Disse desesperada.

Alex- Ela disse isso?- Assentiu. - Nem precisava, eu já estou bem.- Menti.

Lúcia- O teu semblante me diz o contrário.- Olhou nos meus olhos e constatou isso.- Me conta amiga, o que está acontecer? Porquê estás assim?- Perguntou preocupada.

Alex- Lembra quando eu ti contei que escutei os meus pais falarem de uma tal revelação? E que minha mãe tinha um assunto sério por tratar comigo logo que eu voltasse da escola?- Assentiu.

Lúcia- Sim, lembro também que você disse que escutou a conversa deles atrás da porta. Isso é muito feio menina.- Apontou o dedo pra mim, fingindo me repreender.

Logo lembrei-me de algumas horas atrás, quando minha mãe ficava me dando voltas pra me contar a verdade.

Alex- Pára Lú...- Joguei uma almofada na cabeça dela.- Se você continuar com suas gracinhas, não irei contar.- Fiz cara de brava.

Lúcia- Ai.- Coçou a cabeça, no lugar onde a almofada acertou.- Ta bom parei.

Alex- Pois bem...- Iniciei.- O meu pai não é meu pai.- Terminei.

Lúcia- Ah? Dá pra você explicar isso em vinhetas? Porque eu não entendi nada.- Bateu as mãos uma na outra dando êfase no Nada.

Alex- Lúcia, diz-se quinhentas e não vinhetas.- A corrigi.