(Preste atenção quando digo estar trancado) Trancado em meu quarto por esses dias, meus pensamentos começaram a correr livremente, como sempre acontece quando meu cérebro finalmente recebe uma folga das "coisas úteis" e se entrega totalmente a análise, julgamento e absorção de "coisas inúteis". Tenho notado, não falando apenas propriamente, que chegamos à uma idade em que deixamos de estar seguros até mesmo dentro de nossa casa. São nesses momentos da vida que até quem amamos se volta contra nós. Somos impulsionados a esconder nossos medos, nossos desejos, nossas opiniões... Tudo por medo de sermos julgados ou simplesmente mal interpretados. Porque no geral não há problema quando a opinião ou crítica negativa vem de fora, mas ela dilacera implacavelmente quando vem do âmbito familiar, de quem cuidou de nós e que deveria continuar cuidando, que deveria nos deixar ser livres. Por vezes ocultamos até nossos sentimentos! Em nossa busca desesperada por agradar nossos pais e sermos perfeitos diante de seu julgamento fazemos e dizemos coisas absurdas. Coisas estas que por vezes não condiz com o que sentimos ou com o que somos. Nossos progenitores tentam nos moldar à sua imagem e semelhança, esquecendo completamente que nós não coexistimos neles. Ignorando deliberadamente o fato de que somos seres pensantes, que sentem e agem e pensam de forma diferente. Eles nos magoam para se defender: defender seu modo de criação, defender a sua filosofia, defender o que eles impuseram a nós quando éramos menores e que agora nós passamos a questionar. Fingem-se de surdos quando levantamos questões difíceis como depressão e suicídio; preferem ignorar quando tentamos conversar sobre ansiedade; e ainda nos chamam de geração esquisita, problemática e idiota quando levantamos a questão da baixa auto-estima e a insuficiência consigo mesmo. Pais e mães acham que nossas coisas, nossos terrores, os fantasmas do século XXI, podem ser solucionados com métodos de sua época. É extremamente enervante quando os ouço dizendo: "Na minha época não era assim...", "Eu com sua idade já trabalhava...", "Tudo era melhor antigamente...". No geral não percebem que essas falas nos desmotivam e nos põem para baixo porque, admitindo ou não, nós buscamos incessantemente por sua aprovação, para que eles nos achem incríveis e que nos ame. E quando não recebemos isso dos nossos próprios pais, temos a tendência a achar que não somos bons o suficiente para ninguém, porque se nem a pessoa que me deu a luz pode me aceitar do jeito que sou, quem aceitaria?
Por que geralmente nos masturbamos escondidos em nossos quartos fazendo o mínimo de barulho possível para não sermos pegos? Por que será que um LGBT tem dificuldade de se assumir para sua família? Por que quando tira uma nota baixa você faz de tudo para que nenhum de seus responsáveis a veja? Por que quando somos adolescentes nos rebelamos contra as malditas regras que eles nos dão? Porque eles são seus pais. Eles podem te magoar, ao ver de muitos. Mas você não pode magoar eles. Eles podem te tratar como quiserem, mas você tem que aceitar eles do jeito que são. E eles não nos aceitam! Isso é ironicamente fodido. Alguns pais tem uns conceitos estranhos sobre como criar os próprios filhos. E tais conceitos, descritos anteriormente, nos fazem pensar que somos nada, o que por sua vez nos gera inseguranças e temores, o que consequentemente nos torna uma geração "problemática".
Enfim me pergunto: quando minha casa deixou de ser um local seguro? Será que foi quando comecei a querer ter minha própria identidade ou quando de fato eu a assumi? Foi no instante em que eu quis ter minhas próprias opiniões e vontades ou quando eu as aceitei de um vez?
Existe alguma forma de voltar atrás? E, se existisse, eu estaria disposto a voltar?
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Textos Não Tão Cruéis Que Devem Ser Lidos Rapidamente [Concluído]
RandomEscrever é como respirar. A inspiração invade meus pulmões, corre por minhas veias e é expirada em uma corrente ininterrupta de palavras. Confusas, desordenadas e um tanto poéticas. Nesse contexto, respirar é como ser livre. Sem medos, sem amarras...