Meus batimentos reagiam de acordo com o som que as palavras se repetiam na minha cabeça. O ritmo preocupante da conversa que acabamos de ter, do cuidado que tivemos que tomar para poder trocar meras informações, me fazia ter a sensação de estar me afogando.
Eu tentava controlar minha respiração, na intenção de não deixar que os meninos percebessem o quanto eu estava ansiosa de ter saído de perto dele e ainda ter levado um de seus melhores seguranças.
Por fim, os deixamos na mansão e eles, concordaram em começar o trabalho na mesma hora. Procurando algo diferente em seus programas e sistemas.
Na volta, Jackson dirigiu, pois a única coisa que eu fazia era vidrar meus olhos nos retrovisores e apertar minhas mãos suadas.
Quando chegamos, pedi para que ele e sua equipe se dividissem. Um grupo daria uma vistoria nas gravações das câmeras, procurando por um único momento em que alguém viesse a ter invadido a propriedade, enquanto o outro grupo continuaria atento na vigia noturna.
Assim que me aproximei da porta da frente, notei que a mesma estava entre aberta. Segurei na maçaneta e observei a expressão dos seguranças próximos da entrada. Eles não estariam calmos se tivessem visto algo. Suspirei e entrei, trancando a porta e passando pelo espelho do hall de entrada, reparando minha expressão de preocupação. Não é a toa que Jungkook tem tantos seguranças e um sistema de proteção, mas, isso de nada serve se há, nem que seja uma pequena falha.
Quem quer que tenha entrado aqui, pode ter o feito outras vezes e tentar outra vez, em qualquer oportunidade.
Como de costume, as luzes estavam apagadas, e a pouca iluminação partia das pequenas luminárias nas paredes e dos abajures nos cantos do cômodo. Nunca me senti desconfortável com o silêncio, mas agora ele me assusta, assim como me deixa nervosa saber que nesse escuro pode ter alguém.
Continuei parada no hall, com as mãos apoiadas no aparador*, observando meu reflexo, quando alguém se aproximou de mim.
Aquelas mãos grandes, com suas veias firmes e saltadas, ficaram visíveis, aterrissando a ponta de seus dedos na superfície plana do aparador, e seu perfume, aroma diabólico e puro, surtiram os efeitos costumeiros em cada partícula minha.
Seu rosto apareceu no reflexo do espelho, acima do meu ombro, e seu olhar chegava a ser visto com tons vermelhos, transmitindo sua total raiva.
Nos olhávamos através dele, enquanto eu aguardava que algo saísse por seus lábios rígidos, vazios de ternura ou qualquer sentimento bom que pudesse andar sobre sua pele.
-Onde esteve?-sua voz, por mais que estivesse rouca, podia gerar arrepios, como o rugido de um leão que almeja marcar seu território.
Após olhar para baixo por uma fração de segundos, notei as pontas de seus dedos ficarem esbranquiçadas, pela força com que ele os pressionava sobre a madeira a nossa frente.
Sua impaciência penetrava em minhas costas, como uma faca afiada em sua língua perigosa.
-Saí com as meninas!-menti.
Claro que mentiria, que diria a ele se não, algo que o deixasse livre de pensamentos paranóicos? Como ele se sentiria se soubesse que fiquei exposta a qualquer um que tenha pisado aqui sem ter entrado pela porta da frente?
Entretanto, Jeon sabia os trejeitos dos mentirosos, caso contrário, não teria assassinado sócios ou parceiros que ousaram debochar de sua fidelidade.
-Vire-se para mim!-ele mandou.
Já não me olhava mais pelo reflexo, e mantinha um maxilar firme, dolorido.
Podia sentir minha pressão sanguínea me sacanear, rir de mim, como o Jungkook poderia estar fazendo internamente.
-Eu mandei se virar!-ele repetiu.
Girei levemente meus pés e depois, meu corpo, sentindo-me arrepiada.
Agora, seus olhos, fulminantes e exasperados, direcionavam seus sentimentos coercitivos a mim.
Tudo isso, diretamente olho a olho.
-Mais uma vez, onde você esteve? Ou melhor, o que estava fazendo e com quem, a essa hora?
O semblante dele, sua voz, o modo como seu corpo se comunicava, descortinava um Jeon tirânico, talvez, despótico.
-Eu saí com as meninas!-repeti, sem ao menos responder as demais perguntas.
Resposta errada, miseravelmente, errada. Jungkook apoiou novamente suas mãos no aparador e se aproximou de mim, tentando olhar absurdamente dentro dos meus olhos, algo que não fez, já que os desviei para o vazio do cômodo escuro.
Depois, suas mãos foram subindo por minhas costas, até chegar aos frágeis cabelos da minha nuca, onde, com extrema belicosidade e ainda sim, com certa blandícia, ele os agarrou me fazendo olhar para si. Minhas mãos seguravam seus braços, como reação instantânea, enquanto eu sequer conseguia unir meus lábios e manter uma respiração normal.
-Não minta para mim!-ele disse.
O hálito periculoso dele explodiu em meu rosto, me deixando tonta e entorpecida. Ao tempo que suas mãos quentes me mantiam perto e eu continuava inalando seu perfume, minhas pernas enfraqueciam ao ponto de ter que me apoiar no aparador.
-Eu não menti!-rebater era a única solução, ainda que desse continuidade a mentira.
-Lisa, não faça isso!-o tom era de aviso.
-O que estou fazendo?-perguntei, baixo.
-Odeio quando mentem para mim, mas, quando você mente, seus olhos me convidam a tirar a verdade de você!-ele respondeu.
-Eu já disse a verdade, Jeon!-prossegui.
Puxando meus cabelos de forma firme e singela para o lado, ele teve total acesso ao meu pescoço.
-Não, não disse!
-Jeon...
-Essa é sua última chance! Onde esteve até essa hora, Lisa? O que estava fazendo que não pode me contar?
-Não tenho nada a esconder!
-Resposta errada, miseravelmente, errada!
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Soul Criminal: BLACK - Vol. II [CONCLUÍDO]
FanfictionDepois de ter sua vida revirada e se apaixonar por Jeon Jungkook, um dos maiores criminosos de Atlanta, Lalisa resolve rever seus objetivos e inicia uma busca por seus amigos sequestrados. Em busca de respostas para as lacunas vazias de seu passado...