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D E Z

A chuva forte caía sobre Mainport há quase dois dias, e não parecia querer dar trégua tão cedo, trazendo consigo raios estrondosos que atraíam meus olhos para as janelas de casa toda a vez que um relâmpago rasgava o céu.

A ideia de estar de volta à Mainport parecia bastante atrativa nos últimos dias de viagem. Contudo, mal haviam se passado 24 horas e eu já estava começando a sentir falta da cabana em que havíamos passado nossa última semana de férias. Além do mais, minhas aulas voltariam em dois dias e eu não sabia se estava pronta para lidar com um terceiro semestre prestando Direito.

— Eu não consigo entender por que vocês, jovens, não podem comemorar as festas aos sábados ao invés dos domingos — ouvi minha mãe dizer.

Dillon revirou os olhos ao outro lado da mesa, claramente contendo a vontade de bufar, e encostou suas costas na cadeira antes de falar:

— Claro que comemoramos aos sábados, mãe. Mas a festa de amanhã foi feita exatamente com o intuito de irmos todos ressacados para a universidade na segunda-feira.

Por quê? — questionou novamente, sem entender. — Céus. Nunca vou entender essa geração.

— E essa festa na casa da Luna... — começou meu pai. — Os pais dela estão sabendo que terão a casa destruída amanhã?

Eu revirei minha comida no prato com um garfo, antes de voltar meus olhos a ele.

— Pai, quanto menos você souber, melhor — eu disse.

Ele apertou os lábios, claramente contrariado, mas já acostumado a ficar por fora de todos os assuntos que envolviam festas, bebidas e provavelmente drogas, visto que ele era o xerife da cidade.

Então ele soltou um suspiro cansado, largando os talheres no prato e recostando-se sob a cadeira.

— Tanto faz — limpou a garganta. — Desde que eu não receba nenhuma denúncia de menores de idade bebendo ou de jovens quase se matando, vocês podem fazer o que quiserem. Só não me deem trabalho em pleno domingo à noite.

Dillon soltou uma risada nasalar.

— Você não acha que seu trabalho precisa de um pouquinho mais de emoção? — ele arqueou as sobrancelhas, dando de ombros em seguida. — Não sei. Não me parece muito emocionante apenas patrulhar as ruas de uma cidade minúscula no interior da Inglaterra.

— Você fala como se nunca tivesse se divertido quando eu te levava para patrulhar as ruas comigo.

— Pai, eu tinha dez anos!

Meu pai revirou os olhos, jogando a cabeça levemente para trás em um ato cansado.

— Certo, certo... — Ele apoiou os cotovelos sob a mesa, após limpar a boca com um guardanapo. — Porém, se animar meu trabalho significa aparecer em uma festa universitária em pleno domingo à noite, para conter um bando de jovens inconsequentes e descontrolados, eu passo.

— Você tá ficando velho, pai — foi minha vez de provocar, lançando lhe um sorriso zombeteiro.

— Velho e chato — acrescentou Dillon.

Ele se levantou da mesa.

— Bem, o pai velho e chato de vocês vai para a cama. — Então deu um beijo estalado em nossas bochechas e sussurrou algo para minha mãe, que soltou um risinho.

Eu encarei meu irmão, e nós dois franzimos o cenho, tentando não pensar no que quer que fosse que ele teria sussurrado a ela. Não demoramos para tirar a mesa e arrumar as coisas, e minha mãe não hesitou em fugir para o quarto no meio do processo, parecendo uma adolescente apaixonada.

SIX (COMPLETO NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora