d o i s

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D O I S

O céu assumiu um tom cinza-escuro pouco antes de chegarmos aos pés das montanhas. Nuvens cinzas e terríveis se estendiam em todas as direções quando a estrada se estreitou e nós começamos a passar por entre as árvores. Dillon estava com o pé afundado no acelerador, em uma tentativa claramente estupida de fazer com que chegássemos na cabana antes que a tempestade nos alcançasse. A estrada era íngreme e nós subíamos em zigue-zague. As curvas eram fechadas demais para que estivéssemos na velocidade em que estávamos, mas nenhum de nós contestou em momento algum.

Leon estava sentado no banco carona, ao lado de Dillon, com os pés no painel e o banco levemente reclinado. Seus olhos estavam atentos na estrada, mas sua postura completamente relaxada. Eu, por outro lado, estava tensa pra caramba e odiava saber não ser por conta da estrada. Uma curva equivocada e nós provavelmente perderíamos o controle do carro, mas aquilo definitivamente não parecia me deixar mais apavorada do quê Leon estar há menos de um metro de mim.

Era difícil ignorar sua presença quando tudo que minha mente conseguia pensar era nele.

E aquilo estava começando a me deixar mal-humorada pra caralho.

A chuva não demorou para nos encontrar, batendo furiosamente contra o vidro e deixando cada um de nós em um estado claro de alerta. Dillon desacelerou quando os limpadores de para-brisa deixaram de ser o suficiente para remover a água rápido o bastante, e eu não sei se aquilo fez com que o suspiro que escapou por meus lábios fosse de desespero ou alívio.

— Eu disse que deveríamos ter esperado as nuvens irem embora antes de subirmos as montanhas — falei, começando a ficar inquieta. — Por que vocês nunca me escutam?

— Porque você nunca está certa — respondeu meu irmão, sem desviar os olhos da estrada.

— Ah não? — Arqueei uma sobrancelha, olhando-o pelo retrovisor. — Tem certeza disso, idiota?

Ele revirou os olhos e abriu a boca, pronto para iniciar uma discussão das grandes.

— É só uma chuva de verão, Maeve — respondeu Leon, intervindo, com uma postura tão relaxada no banco do carona que por um momento eu me perguntei se estávamos na mesma tempestade. — Em cinco minutos ela já terá ido embora.

— Certo — eu disse, mordendo o lábio, nervosa.

— É melhor eu ligar para o Wood e avisar da tempestade, caso eles ainda não estejam nas montanhas — disse Nathan, ao meu lado.

— Wood? — perguntou Leon, provavelmente reconhecendo o sobrenome. — Matthew Wood?

Nathan Davies, meu melhor amigo, desviou seus olhos do celular para observá-lo, e eu rapidamente notei quando seu pomo de adão subiu e desceu assim que ele engoliu em seco. Seus olhos castanhos vieram de encontro aos meus segundos mais tarde, e eu provavelmente teria rido do pânico que vi em suas íris se estivéssemos em qualquer outra ocasião que não fosse essa.

O clima pesou e nenhum de nós soube ao certo o que dizer. O silêncio que se instalou entre nós foi o suficiente para que Leon concluísse por si só que Matt Wood estaria na mesma cabana que ele durante os próximos seis dias. Então ele soltou uma risada curta, desacreditado.

— É, Colleman... O mundo dá voltas — disse meu irmão, tirando uma das mãos do volante para lhe dar alguns tapas consoladores no ombro. — O filho da puta do Wood está pegando a minha...

— Como foi em Londres? — eu o cortei, esperando soar entediada.

Meu irmão soltou uma risada nasalar imediatamente e balançou a cabeça. Eu sabia o que aquele gesto significava; eu não conseguiria esconder de Leon o que quer que fosse que eu tinha com Matt por muito tempo, mas no momento a minha prioridade era manter aquele assunto o mais longe possível dos ouvidos dele. Afinal, diferente da víbora que eu chamava de irmão, eu estava tentando levar em conta a paz que deveria reinar nessa cabana durante os próximos seis dias.

SIX (COMPLETO NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora