Sofia chegou em casa nervosa, com palpitações no peito, as mãos formigavam e tremiam, os lábios estavam ressecados e a garganta seca como se tivesse corrido uma maratona. Por um momento pensou que pudesse estar tendo um ataque cardíaco, mas afastou o pensamento e tentou ser racional.
Curiosa como era, buscava todas as informações que necessitava, fosse em livros ou na internet, chegando a parar tudo que estivesse fazendo para descobrir por que razão as pessoas espirravam ou quando inventaram a caneta esferográfica mesmo que isso não lhe servisse de nada além de puro conhecimento inútil que preenchia seu cérebro para momentos em que precisava se sentir inteligente. O acesso constante à internet no celular facilitava suas pesquisas e podia fazer isso em qualquer lugar.
De qualquer modo, Sofia já sabia que um ataque cardíaco, ou ataque agudo do miocárdio, causaria um aperto forte no peito, aumento da pressão e dos batimentos (o que sentia naquele exato momento), exceto que a pressão deveria se irradiar para ombros e braços, e não deixar uma sensação de formigamento nas mãos e nos lábios. Era mais provável que fosse apenas um ataque de ansiedade.
E não era a primeira vez que aquilo acontecia.
Por causa do final do Ensino Médio (ela estava no último ano), ter que estudar para as provas e ainda para os vestibulares que enfrentaria logo mais, Sofia já havia tido uns quatro episódios. Só naquele ano.
Os ataques começaram no ano anterior, quando se deu conta de que o curso que desejava fazer era imensamente concorrido, e seus pais, apesar de terem dinheiro suficiente para uma universidade particular, não o tinham para a temida Medicina.
Bem, quem realmente tinha sobrando oito mil reais por mês?
A diferença é que esses episódios estavam relacionados à falta de tempo e aos estudos, nunca a algo como o que havia acontecido momentos antes. E Sofia não fazia ideia de por que havia ficado assim tão nervosa.
Há quinze minutos havia saído da escola. Eram três e quarenta, como mostrara o relógio assim que pisou na calçada e tirou o celular do silencioso. Suas aulas eram no turno da manhã, no entanto aquela era uma semana de provas de recuperação no turno inverso e a garota não perderia a oportunidade de aumentar suas notas, embora já tivesse notas excelentes. Estudar para recuperações a ajudava a estudar para o vestibular.
Ainda que estivesse frio, por volta de 10ºC com aquele vento cortante de Porto Alegre que irradiava para dentro de seus ossos, era uma sexta-feira ensolarada de agosto, o que era ótimo depois de tantos dias nublados. Sofia ficara até mais do que o permitido pela escola para poder completar toda a prova de matemática, já que havia perdido muito tempo na de sociologia, feita no início da tarde (eram duas por dia). Seria a última a sair da sala se o professor não tivesse dito que recolheria a prova exatamente às três e trinta e cinco, dando apenas cinco minutos de tolerância para ela e seus colegas.
Exceto que não havia mais colegas, no plural, e sim colega. Um único. E não qualquer. Guilherme, seu ex-melhor-amigo, ex-colega do Ensino Fundamental. Mas ela estava no último ano do Ensino Médio e eles não andavam mais juntos desde o nono ano, três anos antes.
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Entre provas e beijos (DEGUSTAÇÃO)
Fiksi RemajaSofia e Guilherme costumavam ser melhores amigos, até que por um desentendimento e muita falta de comunicação, as coisas mudaram. Três anos de afastamento, no entanto, não foram suficientes para apagar o amor que havia surgido no inicio da adolescên...