Três É Demais

If you don't want, say it

O quão desconfortável uma situação pode ser até que ela se torne insuportável?

É difícil de especificar o limite do suportável quando se trata do Dr. Bruce Banner. O homem já passou por tanta coisa, viu o fim do mundo diversas vezes e, na manhã seguinte, apenas ele havia mudado.

Uma noite em claro, deitado em uma cama boa em um quarto com ar condicionado, era suportável. Ele já teve noites piores. Ao menos ele ainda era ele mesmo e não estava nu... Se isso era algo confortável? Talvez. Eu diria que não, visto que ele passou a noite virando de um lado para o outro na cama, como se sua pele estivesse queimada pelo sol, incapaz de achar uma posição agradável – e acredite quando eu digo que ele tentou todas; de lado, de bruços, fetal, com um pé no chão...

Até que ele percebeu que não era apenas o seu corpo que o impedia de dormir.

Naquela noite seu cérebro funcionava como uma cafeteira velha, espirrando água quente para todos os lados. Ele tinha muitas coisas na cabeça, muitos pensamentos ao mesmo tempo e isso não lhe dava alívio algum. Ele não confiava no próprio julgamento e se negava a crer que ouviu Pepper gemer seu nome, mas a ereção persistente era uma prova... Se é que ela comprovava algo além do fato de ele ser um pervertido por ter ficado excitado ouvindo atrás de uma porta.

Ele tentou se reconectar ao tic-tac periódico do relógio, mas quando fechava os olhos para diminuir os estímulos, as coisas pioravam. Sua mente o traia. Sua imaginação era uma areia movediça na qual ele afundava cada vez mais na tentativa de sair dela. Ele é o mestre do auto-controle, mas se sentiu inútil; Impotente e incapaz de entender o quê ou o porquê disso estar acontecendo com ele... Se perguntando como isso aconteceu, ou melhor, quando. Em que momento ele entrou na intimidade deles? Ele não viu a mudança... Se é que houve uma mudança, ele pensou. As coisas estavam exatamente como antes, eu é que não percebi então... Não. Não era do perfil de Tony. Tony Stark não pede permissão, ele pede perdão... A não ser quando a Pepper... Claro.

E assim ele passou uma noite, deixando com que um pensamento levasse-o a outro. As introspecções eram rápidas, ele mal conseguia acompanhá-las. Era difícil manter-se pleno com esse tipo de desconforto. Seus batimentos cardíacos estavam normais e, apesar da carga de adrenalina que produziu antes, seu inquilino não se manifestou... A única manifestação perigosa em sua mente era uma visão na qual Tony se move rápido contra Pepper, as costas úmidas de suor refletem em tons diferentes à medida em quem seus músculos trabalham. Ela envolve-o com as pernas, pedindo por alívio imediato, procurando seus lábios. Ela crava suas unhas nas costas dele, Tony deixa escapar um som muito rouco de sua garganta então ele beija a curva do pescoço dela enquanto Pepper se desfaz, apertando-o em um abraço desesperado e gemendo "Bruce... Oh, Bruce!".

Bruce pisca algumas vezes.

Já fazia longas semanas desde a última vez em que ele tirou um tempo para si. E ele não iria conseguir dormir mesmo, então tanto faz, a essa altura ele precisava apenas respirar fundo e ir com calma. Ele não estava com pressa e era só uma ideia, talvez desse certo... Geralmente dá certo. O truque é não ter pressa, não alterar a respiração e, principalmente, não pensar em nada.

Mas ele já começou falhando pela parte mais importante. Bruce já estava mentalmente sobrecarregado quando colocou a mão dentro da calça do pijama. Ele sussurrou um palavrão, frustrado. Aquilo não foi nem perto do que ele desejava. Ele se estimulou e fechou os olhos por um momento, soltando o ar que estava prendendo há alguns segundos. Ah, ele estava com pressa e isso não ia dar certo.

Isso é loucura, ele cruzou os braços sobre o peito e disse a si mesmo. Não para o outro de si, mas sim para a parte irracional do Dr. Banner. A parte que estava criando seus próprios estímulos mentais e dragando sua serenidade. Loucura, ele repetia olhando para o teto até que aquela parte irracional começasse a provocá-lo novamente, formando um loop de frustração que o manteve acordado e alerta durante toda a noite.