Shut up, Tony

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Bruce é acordado pelo relógio às oito horas da manhã, com um humor volúvel. Sentindo-se lento e com a cabeça pesada. Aparvalhado, ele vai até o banheiro tomar uma ducha para despertar, deixando com que a água morna caísse sobre os ombros por um longo momento, relaxando apenas.

Ele não era um cara do passado, mas as lembranças sempre lhe vinham na cabeça com rapidez. Não focava em nenhuma, pois sabia que era um erro. De olhos fechados, deixava-as escorrer como a espuma de seu cabelo que passava por suas costas e ia embora pelo ralo. Bruce não tinha cicatrizes na pele, mas possuía feridas profundas.

Ele tinha muitos defeitos, olhar para trás não era um deles.

Ele tinha muitos defeitos, enxergá-los no espelho era o maior deles.

Ás vezes perdia longos minutos julgando o próprio reflexo antes e depois de fazer a barba, contemplando-se com um misto de vergonha e medo. Não de si, mas do seu inquilino. O cara grande e irresponsável dentro de si, aquele que ele vinha aprendendo a domar, mantendo-o sob uma rédea tão curta quanto o possível.

...

– Bom dia, amor – diz Tony ao ver o amigo entrar no laboratório com uma caneca nas mãos e o jaleco sobre o ombro.

Ele olha para o engenheiro com um sorriso acanhado no rosto enquanto deixa seu chá sobre a mesa e veste o jaleco, lembrando-se da sua demonstração de afeto da noite anterior.

– Bom dia, buddy – ele responde. – Viu o Coulson? Ele estava na cozinha com a Pepper... – Bruce disse puxando conversa. – Eu achei que ele tinha morrido, sabe... não consigo me acostumar com essa gente.

– É. O pirata soube tirar proveito daquela situação – comentou Tony. – E eu acreditei que ele tinha morrido. Não consigo confiar nessa gente.

Tony arregala os olhos por um instante e lança uma projeção holográfica na direção de Bruce.

– Vida que segue – Tony citou.

Bruce olhou rapidamente para o gráfico à sua frente, situando-se.

– Do que... – ele gesticula ao colocar os óculos. – Parece promissor... Os níveis de radiação diminuíram em um terço, mas... – Bruce faz uma pausa, analisando os dados com uma expressão fechada. Tony sabia que aquelas feições eram presságios de uma negação, já o viu reagir assim inúmeras vezes. – A organização das células é caótica... isso é ruim, muito vulnerável. Sua multiplicação é exponencial e...

– Pode ser controlada – Tony conclui sentando-se na cadeira ao lado do doutor. – É alguma coisa.

– Mas não o suficiente – constatou. Bruce encosta-se à mesa cruzando os braços e olha para o amigo.

– Qual é, Bruce? É o melhor que temos até agora – declarou Tony. – Pode dar certo...

– Ou pode dar muito errado...

– ... Um membro a mais, talvez sete dedos em cada mão... – brincou. – É cedo pra descartar isso.

– Chernobyl, Tony. Já ouviu falar? – Bruce referiu-se à cidade contaminada por radiação com naturalidade, descruzando os braços e pegando sua caneca. – Você quer que Manhattan seja a Chernobyl capitalista?

– Você é muito careta, cara – Tony retrucou. Ele até tinha bons argumentos para continuar, mas Bruce era um moralista desgraçado e sempre conseguia convencê-lo ao fim.

– E você é muito moderno – disse antes de beber um longo gole do seu chá, já morno. – Não quero descartar nenhuma opção viável, mas este não é o caso.

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