What if I don't want to?

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Banner se permitiu relaxar e dormir enquanto Tony e Pepper sussurravam e tentavam conter suas risadinhas, ambos escondendo os rostos contra o travesseiro.

Os sonhos borbulharam em seu subconsciente, vinham como fragmentos de memórias borradas, como uma estrada sinuosa vista através de um nevoeiro. Conectando-se de uma forma aleatória, sem respeitar qualquer ordem cronológica ou emocional. Algumas vezes era difícil distinguir a diferença entre estar sonhando ou estar à mercê do outro cara. Desta vez foi ainda mais difícil. Ele sonhou que era o outro cara. Era ele quem destruía a mansão de Tony, ao invés dos mísseis lançados pelos terroristas. Ele abriu caminho através das paredes até chegar ao quarto. Pepper e Tony estavam lá, perdidos entre os lençóis e a luxuria, e eles gemeram e sorriram enquanto ele tirava a vida de seus pequenos e frágeis corpos. Ele conseguia sentir os ossos se partindo e a pele deles se rasgando em suas mãos.

Bruce acordou tenso e apavorado, com os cabelos molhados pelo suor. Ele rolou para fora da cama e caiu no chão, batendo o cotovelo contra o criado mudo. Estava tão assustado que sequer sentiu dor, apenas uma dormência irritante se espalhando pelo braço inteiro. Então ele reconheceu o ambiente a sua volta, um instante antes de se preparar para correr. A noite anterior começou a surgir em sua mente como ondas, forçando-o de volta para realidade e amenizando sua ansiedade. Ele se levantou o mais silenciosamente que pôde, pegou suas roupas e os óculos sobre a cadeira e saiu do quarto rapidamente.

Após tomar um banho muito rápido e vestir uma calça de moletom e uma camisa de mangas comprida — que ficou muito larga nele —, Bruce foi para a cozinha. Ele não sabia exatamente o que estava fazendo ali, mas tinha certeza de que não iria conseguir voltar a dormir. Ele andava de um lado para o outro e eventualmente parava de braços cruzados, escorando-se contra o balcão de pedra da ilha da cozinha.

Bruce sabia que todo tipo de proximidade trazia consigo o medo. E na última vez que ele tentou se aproximar emocionalmente de alguém, o resultado foi desastrosamente ruim, não só para ele.

Talvez isso tudo seja um erro, ele pensou. Um erro que já foi longe demais.

Ele suspirou e descruzou os braços para esfregar o rosto com as mãos. Um leve ruído no corredor chamou sua atenção. Bruce olhou para frente e viu que Tony estava entrando na cozinha, vestindo apenas uma calça jeans e um par de meias.

— Aí está você. O que houve? Não conseguiu dormir? — ele perguntou parando no corredor.

— Consegui, um pouco — Bruce respondeu. — Tive um pesadelo.

— Ah, cara, eu te entendo. É foda. Acontece comigo toda noite — ele disse colocando as mãos nos bolsos e escorando-se de lado contra a parede. — Sabe quando a gente acorda, mas ainda está dormindo? — Tony perguntou de forma impulsiva, sem esperar pela resposta. — Então, eu acordei, estiquei a mão para o lado e sorri porque a Pepper estava ali, mas então eu estiquei a mão para o outro lado e acordei de verdade. Eu abri os olhos e você não estava mais na cama e eu fiquei olhando para o teto por um tempo, tentando dormir de novo, mas não consegui. Eu já tinha despertado.

Bruce encarou-o sem saber ao certo que resposta dar. Ele cruzou os braços de novo e olhou para o lado. O silêncio era melhor resposta que ele tinha para oferecer, considerando que ele raramente tinha algo a oferecer. Tony notou a tensão inquieta do doutor pela forma que sua testa se franziu. Ele achou melhor não pressioná-lo com emoções àquela hora da madrugada. Algo lhe dizia para dar tempo e espaço ao doutor, deixá-lo digerir as coisas no seu ritmo.

Porém, Tony conhecia a frustração inquieta de perder o sono após despertar de um pesadelo. Ele não seria capaz de imaginar o estrago que tamanha adrenalina poderia causar em Bruce, mas sabia que não era nada saudável.

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