If you say so

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Tony gostava de ouvir música alta, pois o ajudava a se concentrar. Por mais contraditório que pareça, os riffs de guitarra – muito agitados para o gosto de Bruce – limpavam a mente de Tony, impedindo-o de pensar em algo além das tarefas a sua frente.

Já Bruce, por outro lado, preferia algo menos barulhento. A explicação se torna redundante quando você conhece o homem e sua dualidade. Mas o doutor era flexível, acostumado a ceder. E Tony era um bom anfitrião. Era fácil para eles chegar a um acordo, um meio termo entre o ensurdecedor e inaudível para a playlist de Tony.

No entanto, a música não estava surtindo-lhe o mesmo efeito naquela tarde, e isso não tinha nada haver com a sua intensidade ou gênero. O desfalque era interno. O engenheiro tentava manter o foco enquanto soldava os pequenos transmissores da armadura, mas seu subconsciente o traía e, entre os flashes de luz de uma solda e outra, um pensamento distante preenchia sua cabeça e só abandonava-o depois que o clarão azulado se findava.

Banner estava sentado há poucos metros de Tony, com um exemplar de George Orwell em mãos, mas seus olhos não se fixavam nos parágrafos já familiares de 1984 e sim no semblante vazio de Tony sob os óculos protetores. Bruce não era um engenheiro, mas mesmo assim se ofereceu para ajudar o amigo. O Stark recusou sua ajuda, mas fez questão de verbalizar que sua companhia era indispensável. Então Bruce se acomodou ao lado de Tony, chamando sua atenção eventualmente para alguma trivialidade que lhe vinha à mente. Ocasionalmente sondando o engenheiro, a fim de desvendar o motivo de sua ausência de espírito, já que Tony aparentava estar presente apenas fisicamente enquanto se distraia ao desmontar e remontar a armadura danificada.

Bruce viu-o parar repentinamente por uma dúzia de vezes com uma expressão abstraída e balançando a cabeça levemente ao retomar suas ações. Em um desses momentos Bruce decidiu ser mais direto com o amigo.

– Tony – Bruce chamou-o. O homem ergueu o olhar em direção ao doutor, tão rápido quanto uma criança que fica sem reação ao ser pega aprontando. Bruce colocou um marcador de páginas em seu livro antes dizer a Tony: – Um dólar por seus pensamentos.

Tony franziu o cenho rapidamente. Pego de surpresa, ele se desvencilhou do assunto:

– Não quero um dólar – ele disse com um tom sarcástico.

– Nem sempre queremos o que precisamos – Bruce rebateu com cautela. Ele olhou para Tony com um ar especulativo que lhe era comum. O olhar curioso de um cientista, analisando as variáveis e instabilidades daquele evento.

Ele não gostava de ser analisado daquela forma. Talvez ninguém goste. Tony pareceu contrariado por um momento, mas logo percebeu que o amigo já havia lhe decifrado e expirou profundamente ao retirar os óculos de proteção. Ele olhou para os olhos castanhos de Bruce durante um breve e silencioso momento antes de dizer:

– Na verdade não há nada que eu... hã... sei lá – ele encolheu os ombros, dando-se por vencido. – Eu não estava pensando, na verdade. Acho que eu estava só...

– Distraído? – Bruce sugeriu ao completar a frase de Tony. Tony comprimiu os lábios e afirmou de forma resignada.

Bruce balançou a cabeça. Ele olhou para Tony e, mesmo sabendo que poderia se arrepender, falou:

– Você quer... conversar sobre isso? Ou só conversar sobre qualquer outra coisa?

– Achei que você não fosse esse tipo de doutor – Tony retrucou.

– Não sou. Mas isso não muda o fato de eu ser seu amigo – ele disse em tom de pergunta. – E me parece que você precisa largar isso um pouco e relaxar.

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