LXXIV - 75 | Amber

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Guardei o celular no bolso e peguei uma latinha de cerveja que haviam me oferecido quando saí do banheiro pela terceira vez. Lá era um ótimo lugar para ficar e se esconder, todavia, também era muito utilizado. 

- Onde elas estão? - Perguntei a mim mesma, enquanto olhava ao redor. 

Tinha as perdido de vista na primeira vez que fui ao banheiro e até então, não encontrava mais nenhum sinal de vida vindo das minhas melhores amigas. 

Sem mensagem, sem ligação. Era como se estivessem feito isso de propósito. Como se tivessem esquecido da minha existência. 

Caminhando pela multidão, o som, que deveria me animar, na realidade estava começando a incomodar. Eu amava música tanto quanto amava tirar fotos, mas essas aqui estavam sendo de longe, a pior playlist existente na fase da terra. 

Resistindo a minha vontade de ir embora, comecei a tentar curtir a música quando um garoto se aproximou. Tinha o visto na entrada da festa quando chegamos e desde então ele estava me observando. 

Claro que olhar incomodou um pouco, mas pensei que ele não fosse se aproximar pois eu me encontrava com minhas amigas. Agora, no entanto, estava sozinha. Sozinha e com uma vontade imensa de correr. 

- O que você acha de dançarmos juntos? - Ele indagou, sorrindo.

Normalmente eu não negaria, mas me envolver com alguém, mesmo que pouco, me incomodava profundamente. Ainda mais quando eu realmente não estava afim.

- Desculpe, estou acompanhada - Falei, sorrindo sem mostrar os lábios.

- Um namorado? 

Imaginei em falar que estava com minhas amigas, até porque ele havia me observado junto a elas, mas eu conhecia muito bem esse tipinho. Ele não iria sossegar. E eu não estava afim de ceder. 

- Sim - Confirmei.

Nada convencido com minha afirmação, o garoto retrucou:

- Você não parece o tipo de garota que namora. Onde ele está?

- Foi pegar bebidas.

- Não minta para mim, você está sozinha desde que chegou. Vamos lá, não é como se fosse uma garotinha tímida - Argumentou, com um sorriso nos lábios. E juro que nunca desejei tanto socar alguém. Até mesmo em momentos aleatórios, quando Jaebum me irritava, meu desejo de batê-lo era bem menor e inocente que agora. 

Sem dizer nada, continuei o encarando, num objetivo que o garoto percebesse que o assunto se encerrava ali. Eu não queria e não seria obrigada a ir. Não mesmo. Quando começou a se mover, imaginei que estivesse finalmente indo embora, mas ao invés disso ele segurou meu braço com força. 

E era exatamente por isso que eu odiava sair para festas. Era desconfortável e bagunçado. Com pessoas bêbadas agindo como loucos e homens jogando sua sanidade e caráter no lixo assim como seus próprios vômitos. 

- Me solta - Pedi, encarando-o séria.

- Não, desculpe eu não vou soltar - Falou, apertando ainda mais meu braço.

Respirando fundo, comecei a contar até três. Odiava escandá-los, mas iria fazer um se fosse necessário. Caso não funcionasse, uma forte mordida iria fazê-lo soltar meu braço e então eu teria tempo o suficiente de correr para rua, encontrar um táxi e voltar para casa. 

O que eu não iria, de jeito nenhum, era deixá-lo continuar me tratando assim, como se eu não tivesse voz alguma. Como se minha vontade não fosse importante. Que babaca de merda.

Abri minha boca levemente, prestes a dar-lhe outra chance de me soltar, mas o garoto ao invés de me encarar, olhou para algo atrás de mim. No mesmo segundo, senti uma mão ficar tocar minha cintura e um arrepio deslizar por todo meu corpo.

- Seu amigo? - Ele disse. 

No mesmo segundo, virei meu rosto em direção aquela voz e o encarei. Pensei que estivesse maluca por ouvir a voz de alguém assim em meio a uma festa, mas era, de fato, ele. Não uma miragem sagaz ou uma simples voz similar. 

- Jackson... - Murmurei, quando seus olhos encontraram o meu.

Vê-lo daquela forma tão próxima de mim fez a ansiedade crescer. Queria lhe perguntar tanta coisa nesse momento, como onde ele permaneceu durante esses meses, se esteve bem, se poderia me perdoar... 

Contudo, antes mesmo de ser capaz de formar uma frase sensata e lógica, a voz do garoto surgiu outra vez, quando ele perguntou:

- Você é o namorado dela?

- Não parecemos um casal pra você? - Jackson murmurou, olhando-o sério. Sua voz soava ameaçadora como eu nunca havia escutado antes, mas eu não tive medo.

- Não é isso, é só que...

- Você não acredita em uma garota quando ela diz estar acompanhada? - dando um passo para frente, ele indagou, atrapalhando o garoto. - Na próxima, se eu vê-lo tentando dar em cima dela outra vez, ou segurando seu pulso do jeito que estava fazendo quando me aproximei, eu corto sua mão sem nem pensar duas vezes. 

- Ei, cara, calma - O garoto se afastou, assustado. - Eu só queria conversar com ela.

- Talvez, mas não acho que o sentimento seja mútuo - Ele disse, voltando seu olhar para mim. 

Mas eu não conseguia dizer nada, mesmo que desejasse. Eu apenas o observava, recapitulando todos os acontecimentos do passado e presente. Por que ele estava me ajudando quando já se tinha passado um mês sem sequer me dar notícia de vida? Por que estava me olhando desse jeito, quando amanhã mesmo, iria juntar suas coisas e sumir da minha vida definitivamente? 

- Vem, vamos tomar um pouco de ar - Falou e, mesmo com um pouco de receio, acenei.

Se existia uma possibilidade dele ainda querer falar comigo, ou uma possibilidade de eu ainda conseguir me desculpar verdadeiramente, seria agora. 

Black hole ❄ Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora