Segundo Capítulo - O Estranho Remendado

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Três dias. Era o tempo que havia transcorrido desde que o rapaz aparecera à porta da casa. Ele estava vivo, o peito que subia e descia era um sinal disso, mas não abria os olhos por nada. Ginnifer estava ficando impaciente e os constantes lembretes de sua tia sobre a procedência dele não ajudavam.

_Não ligo se ele é francês, galês ou escocês! O que me importa é que está todo estropiado e não vou jogá-lo na rua só porque nasceu no lugar errado!

_Ginny, não está sendo razoável. – Tia Mirabella observou – Já forneceu ajuda.

_Tia, o que espera que eu faça? Ele nem acordou! Vou desovar o corpo dele em alguma latrina?

_Que coisa mais nojenta de se dizer.

Ela abriu a boca para retorquir, mas resolveu que o silêncio seria mais eficaz. Seu tio balançava nos pés de trás da cadeira, produzindo um rangido irritante, mas que o ajudava a pensar.

_Bell, ela não pode colocá-lo na rua nesse estado. Espere que o rapaz melhore, depois decidiremos o que fazer com ele.

_Está bem, querido. Mas não podemos deixar que ninguém descubra sobre isso.

_Ninguém irá descobrir, tia Bell. A não ser que um de nós abra o bico. – e olhou incisivamente para a tia –

_Ora, eu não vou contar para ninguém. Hmpf, muita audácia sua pensar que eu iria espalhar isso para todos.

_Eu não disse nada.

Estavam tão distraídos que quase não ouviram o burburinho que o "paciente" fazia. Ginnifer aproximou-se para tentar discernir o que estava sendo dito.

_Maison...

_Acho que ele está falando sobre a casa dele.

_A casa francesa?

_Que outra casa seria, tia Bell? Duvido que ele tenha uma casa de veraneio em Castela.

Sem dizer mais nada, o desconhecido voltou a dormir tranquilamente. Ginnifer sacudiu a cabeça, externando sua irritação. Por que ele não acordava logo? Assim ela poderia enchê-lo de perguntas e, depois, mandá-lo procurar seu rumo. Mas não, tudo tinha de ser da forma mais complicada.

_Que seja. Tio George, tome conta dele. Se qualquer coisa, mesmo que um suspiro mais forte, acontecer, mande me chamar. Tenho afazeres no castelo.

_Claro, Ginny. Não se preocupe.

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Genevieve percorrera alguns quilômetros nos três dias que se passaram. Calais estava para trás, mas ela continuava sentindo um peso estranho em deixar a cidade portuária. E se Max realmente voltasse? Ele procuraria por ela em La Rochelle? Ou desistiria? Ela pensava nessas perguntas quando uma carroça cruzou seu caminho.

_Para onde, jeune fille? – perguntou o condutor –

_Estou indo para La Rochelle.

_Vinda de onde?

_Calais.

_Mon Dieu, está andando sem parar?

_Eu... Não sei. Parei um pouco para dormir, mas faz algum tempo. Onde estou?

_Perto de Orleans.

Orleans não ficava longe de La Rochelle. Mas Genevieve perguntou-se se realmente valia a pena ir para outra cidade portuária, procurar um destino semelhante ao que tivera em Calais.

Desipere in Loco (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora