Três dias. Era o tempo que havia transcorrido desde que o rapaz aparecera à porta da casa. Ele estava vivo, o peito que subia e descia era um sinal disso, mas não abria os olhos por nada. Ginnifer estava ficando impaciente e os constantes lembretes de sua tia sobre a procedência dele não ajudavam.
_Não ligo se ele é francês, galês ou escocês! O que me importa é que está todo estropiado e não vou jogá-lo na rua só porque nasceu no lugar errado!
_Ginny, não está sendo razoável. – Tia Mirabella observou – Já forneceu ajuda.
_Tia, o que espera que eu faça? Ele nem acordou! Vou desovar o corpo dele em alguma latrina?
_Que coisa mais nojenta de se dizer.
Ela abriu a boca para retorquir, mas resolveu que o silêncio seria mais eficaz. Seu tio balançava nos pés de trás da cadeira, produzindo um rangido irritante, mas que o ajudava a pensar.
_Bell, ela não pode colocá-lo na rua nesse estado. Espere que o rapaz melhore, depois decidiremos o que fazer com ele.
_Está bem, querido. Mas não podemos deixar que ninguém descubra sobre isso.
_Ninguém irá descobrir, tia Bell. A não ser que um de nós abra o bico. – e olhou incisivamente para a tia –
_Ora, eu não vou contar para ninguém. Hmpf, muita audácia sua pensar que eu iria espalhar isso para todos.
_Eu não disse nada.
Estavam tão distraídos que quase não ouviram o burburinho que o "paciente" fazia. Ginnifer aproximou-se para tentar discernir o que estava sendo dito.
_Maison...
_Acho que ele está falando sobre a casa dele.
_A casa francesa?
_Que outra casa seria, tia Bell? Duvido que ele tenha uma casa de veraneio em Castela.
Sem dizer mais nada, o desconhecido voltou a dormir tranquilamente. Ginnifer sacudiu a cabeça, externando sua irritação. Por que ele não acordava logo? Assim ela poderia enchê-lo de perguntas e, depois, mandá-lo procurar seu rumo. Mas não, tudo tinha de ser da forma mais complicada.
_Que seja. Tio George, tome conta dele. Se qualquer coisa, mesmo que um suspiro mais forte, acontecer, mande me chamar. Tenho afazeres no castelo.
_Claro, Ginny. Não se preocupe.
**********
Genevieve percorrera alguns quilômetros nos três dias que se passaram. Calais estava para trás, mas ela continuava sentindo um peso estranho em deixar a cidade portuária. E se Max realmente voltasse? Ele procuraria por ela em La Rochelle? Ou desistiria? Ela pensava nessas perguntas quando uma carroça cruzou seu caminho.
_Para onde, jeune fille? – perguntou o condutor –
_Estou indo para La Rochelle.
_Vinda de onde?
_Calais.
_Mon Dieu, está andando sem parar?
_Eu... Não sei. Parei um pouco para dormir, mas faz algum tempo. Onde estou?
_Perto de Orleans.
Orleans não ficava longe de La Rochelle. Mas Genevieve perguntou-se se realmente valia a pena ir para outra cidade portuária, procurar um destino semelhante ao que tivera em Calais.
![](https://img.wattpad.com/cover/191361657-288-k584568.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desipere in Loco (Completo)
Historical FictionHá uma teoria de que, para cada uma pessoa no mundo, existem outras sete que se parecem quase que exatamente. Para conseguir encontrar esse gêmeo perdido, você teria de viajar muito... Ou não. A história que quero contar é sobre duas garotas que não...