Décimo Quarto Capítulo - Entrevista com Barba Azul

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Ginnifer encarou o soldado, analisando-o desde o cabelo cor de rato, os olhos escuros e opacos, até as botas sujas de lama. Ela arqueou a sobrancelha e, teria feito o maior escarcéu, se Genevieve não estivesse logo ali, pendurada na árvore e correndo riscos por causa dela.

_Pode me dizer o motivo?

_Estou apenas cumprindo ordens.

_Ah. Bom, acho que não tenho escolha, certo?

Ela foi com o soldado, torcendo para que Genevieve ficasse na árvore até que eles estivessem longe. Passaram pelo mesmo caminho que Ginny cruzara atrás de Max. "O que será que querem comigo?"

_Qual seu nome?

_Cillian Petit.

_Petit? É sério? Vocês, franceses, têm sobrenomes estranhos.

_O que quer dizer com isso?

_Ah, nada. Foi só uma expressão.

Chegaram ao acampamento, agora um local tão familiar para Ginnifer. Ela quase seguiu direto para a tenda de Loïc, mas o soldado mudou de direção e ela o seguiu, confusa. Uma tenda do mesmo tamanho encontrava-se numa parte afastada do acampamento. O material era mais escuro, beirando o preto, com alguns entalhes coloridos. O dono daquilo devia ser rico e, um pouco, ostensivo.

_Senhorita. – o soldado abriu a tenda para que ela entrasse –

Ginny respirou fundo, engoliu em seco e entrou. O ar ali dentro era estranhamente pesado, ainda mais para uma tenda, com um cheiro característico esquisito. Parecia cheiro de... Carne queimada?

_Cristo, depenaram uma galinha aqui? – ela resmungou –

Foi então que percebeu estar sozinha na tenda. Ginnifer olhou a habitação, reparando na cama coberta com peles, a mesa lotada de papeis e com respingos de tinta. Quem quer que morasse ali, era um tanto descuidado.

_Já observou tudo? – uma voz bizarra soou da entrada –

Ginny sentiu calafrios correndo por sua espinha. Após duas reuniões ouvindo escondida e uma pessoalmente, ela conseguiria reconhecer aquela voz: raspar de unhas e grunhido de urso. Ginnifer virou-se para encontrar o Barão de Rais observando-a da entrada.

_Observei.

_O que achou?

_Que você é um pouco bagunceiro, milorde.

_Sim. – ele riu? Ela não soube dizer –

_É você que mandou me caçarem pela cidade?

_Sim.

A conversa monossilábica a estava irritando. O homem poderia ter a decência de responder com sentenças mais complexas.

_Vai me dizer o que quer de mim?

_Primeiro, quero que me diga seu nome. Você foi muito hábil em fugir dessa pergunta em nosso último encontro.

_Perdão por ter desmaiado e frustrado seu inquérito.

_Ambos sabemos que você forjou aquele desmaio. O que me leva a crer que não quer que descubram sua identidade.

_O senhor está certo, milorde. E eu gostaria de manter tudo assim: em segredo.

_Lamento, mas isso não será possível.

_Qual seu interesse em mim?

Ginnifer quis retirar as palavras assim que as pronunciou. O brilho diabólico no olhar do Barão foi o suficiente para que ela quisesse gritar e sair correndo. Ele se aproximou dela e Ginny desceu a mão até a bainha presa na bota, pegando sua adaga.

Desipere in Loco (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora