Levou algum tempo, uma porção de gritos, tanto humanos quanto animais, alguns arranhões, mas, finalmente, Max e Ginny conseguiram apanhar o porco selvagem. Ginnifer reconheceu a relutância do bicho em abandonar esse mundo, mas ela também reconhecia que estava com fome e que o estoque de comida deles havia acabado.
_Esse bicho teve algo a nos ensinar sobre o conceito de joie de vivre. – Max observou –
_Sobre o que?
_Nós, franceses, temos esse conceito sobre a joie de vivre. A alegria de viver. Esse porco tinha isso.
_Que... Poético.
Max limitou-se a sorrir, enquanto tentava acender uma fogueira. A noite estava se aproximando e Ginny tinha dúvidas quanto a ficarem no mato.
_Não se preocupe. Está muito escuro para continuarmos, de qualquer forma. Depois de comermos, podemos dormir. Partimos pela manhã.
_Acha que vamos chegar a alguma cidade? Temos de repor nossos suprimentos.
_Creio que sim. Devemos estar há algumas horas de Compiègne. Podemos parar lá, reabastecer e continuar em seguida. Mais um ou dois dias até Orleans.
Eles ficaram em silêncio, ouvindo os estalos da fogueira. O jantar foi ficando pronto conforme o bicho assava e Ginnifer resolveu conseguir algumas informações com Max.
_Deixou sua irmã com seus familiares?
_Eu não tenho familiares. Eles morreram há uns dez anos.
_Deixou sua irmã sozinha!? Que tipo de irmão é você?
_Antes de me jogar na fogueira, saiba que eu sempre mandava dinheiro quando podia.
_Isso não é digno de nota, seu cabeça oca. Soldados quase nunca tem dinheiro. E, quem garante que não roubaram na estrada? Surpreendente. Primeiro, você não escreve há sete anos! E, agora, não manda dinheiro. Pft...
_Eu... Tenho razões para não ter escrito.
_Jura? E quais são? O grande Maximilliam Dumont não pôde pegar uma droga de pena e escrever para a irmãzinha mais nova?
Max ficou quieto, olhando o fogo. Eles comeram quase tudo do porco, que não era muito grande.
_O que foi? O gato comeu sua língua? Por que não escreveu?
_Por dois motivos. Eu não... Não sei escrever. E, o mais importante, minha irmã foi clara quando parti. Ela não queria saber nada de mim.
_Por que, Max?
_Porque, quando deixei Calais há sete anos, eu havia assassinado o noivo dela.
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Sete anos atrás, 1423. Calais.
Ele tinha treze anos na época. Ela tinha nove. Eles eram grudados como unha e carne. Três anos haviam se passado desde a morte de seus pais. Eles aprenderam a viver sozinhos. A situação nunca fora fácil, mas, ultimamente, andava ainda pior em decorrência da guerra. Fome assolava o país, doenças corriam soltas pelas ruas. Empregos eram escassos, todos brigavam pela chance de sustentar suas famílias e, os que não conseguiam, alistavam-se em busca de uma condição melhor.
_Eu tive uma ideia. – a menina falou – Posso nos salvar.
_Como?
_Fiz um acordo com o dono do açougue. O filho dele está procurando uma esposa.
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Desipere in Loco (Completo)
Historische RomaneHá uma teoria de que, para cada uma pessoa no mundo, existem outras sete que se parecem quase que exatamente. Para conseguir encontrar esse gêmeo perdido, você teria de viajar muito... Ou não. A história que quero contar é sobre duas garotas que não...