Ginnifer sentiu seu maxilar se expandir; ela poderia jurar que tocou o chão com a boca. Como inglesa, ela não deveria sentir tanta admiração pela salvadora da França, mas como mulher, ela não estava nem ai para a nacionalidade.
_A mim? Ela quer conhecer minha pessoa?
_Sim. Posso ter mencionado que encontrei minha filha perdida.
Todo o ânimo que Ginny sentiu, evaporou. Joanna D'Arc não fora até ali por querer conhecer uma fã. Ela fora porque um de seus soldados dissera ter achado a filha perdida. Um gosto amargo impregnou a boca de Ginnifer. A salvadora da França aproximou-se e Ginny a analisou. Correu os olhos pelos cabelos escuros e curto, passando pela armadura. Ginnifer ficou surpresa ao constatar que ela era baixinha, da mesma altura.
_Senhorita D'Arc. – Ginny fez uma mesura –
A outra sorriu e Ginnifer lembrou-se que ela não era muito mais velha, apenas dois ou três anos.
_Não há necessidade de formalidades. Me chame de Joanna.
_Muito prazer. Ginnifer Finneghan.
_Inglesa? – a moça arqueou a sobrancelha –
_Sim. Por que não entramos? Ao invés de ficar conversando no meio do quintal.
_Ótima ideia. Gilles? Fique aqui, por favor. Avise-me se algo acontecer.
Ginnifer sentiu um arrepio correndo por sua espinha à mera menção do Barão. Ela não sabia por que tinha tanta aversão ao homem que se proclamava seu pai, mas algo naquela história a incomodava demais.
_Ginnifer, que balbúrdia é essa? – Madame Angelina estrilou – Oh, temos visitas.
_Madame Angeline, essa é Joanna D'Arc.
Os olhos da senhora arregalaram-se, brilhando fanaticamente. Quando uma mulher entrava para o exército, libertava várias cidades, conhecia o rei etc., eram muito poucas as pessoas que não sabiam nada sobre ela. Essa era Joanna D'Arc, a adolescente que comandava homens e batalhava pela liberdade da França.
_Estaremos na biblioteca. Peça para Genevieve descer, sim? – Ginny pediu –
Elas foram para a biblioteca, onde um tabuleiro de biscoitos esperava por alguém que onde comesse. "Como foi que isso veio parar aqui?" Ginnifer pensou, abismada. A francesa sentou-se, pegando um biscoito da bandeja e mordiscando.
_Imagine minha surpresa quando Gilles me contou sobre você.
"Ah, é sobre isso que ela quer falar?"
_Foi... Surpreendente para mim, também.
_Ele tem outros bastardos, é claro. Mas só conheci dois até hoje. Três, com você.
_Eu tenho irmãos?
_Sim. Ele tem uma filha legítima, Marie. Nasceu no ano passado. É um bom soldado, muito habilidoso.
_É uma boa pessoa? – Ginny deixou escapar, mordendo a língua em seguida –
_Para mim, sim. Não sei muito sobre seus tratos com outros.
_Onde estão os outros bastardos?
Aquela palavra era pegajosa na língua de Ginnifer, como se ela houvesse comido sopa estragada. "Bastarda". Ela nunca pensou em si assim. Claro, não conhecia seu pai, mas assumira que havia morrido antes de sua mãe. Mãe. Como é que sua mãe havia se envolvido com aquele homem? Um francês e uma inglesa, no meio de uma guerra entre dois povos. Não era um caso de amor proibido, disso ela tinha certeza.
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Desipere in Loco (Completo)
Historical FictionHá uma teoria de que, para cada uma pessoa no mundo, existem outras sete que se parecem quase que exatamente. Para conseguir encontrar esse gêmeo perdido, você teria de viajar muito... Ou não. A história que quero contar é sobre duas garotas que não...