Todas As Cores

Fatídico

Agora eu sei, 

sei exatamente o que minha mãe quis me dizer, quando falava sobre os erros do passado dela, quando o peso da voz dela entrava nos meus pensamentos e por segundos ficavam, e apenas segundos.

Sabe quando você se pega abraçando o passado? 

Quando seus olhos marejam e tudo o que consegue fazer, é continuar passando e repassando o dedo, sob a tela do celular. 

Você conhece esse sentimento?

Por instantes você consegue lembrar daquele exato momento, do que foi dito, e se tentar, e se, se esforçar um pouco mais, consegue lembrar do fatídico sentimento, e fatídico, eu digo: porque somente por ele, você está ali. Procurando antigas verdades, procurando a felicidade que a foto parece transmitir.

E então, o fatídico erro que te trouxe aqui, que te fez abraçar o passado e não soltar mais.

Parece que é por isso o que sempre passou minha mãe, quando vidrava os olhos na parede e seus lábios se soltavam como um carretel de linha infinito, e a sua vida era contada em pequenas histórias. 

Mesmo que seus dedos não pudera passar sob uma tela, ela se esforçava para que sua mente buscasse tudo, ou quase tudo que tivesse vivido.

Nossa vida é como um carretel de linha, porem, finito.

O fatídico erro, talvez seja exatamente o que está fazendo agora. 

Escrever isto, você estar lendo isto, pode ser o nosso erro.

Mas talvez, seja pensar que existiu um erro que nos trouxe aqui. Talvez fatídico mesmo, seja o ato de abraçar o passado e não deixa-lo lá, por que se pudéssemos voltar com certeza os dias que estávamos tristes, como estamos hoje, foram muito mais do que os felizes.

Entende?

Quando minha mãe me contava sua vida em pequenas histórias, quase sempre eram ótimas e felizes, e quase sempre ficávamos sentados por 20 ou 30 minutos. 

Ela por instantes conseguia lembrar dos momentos exatos, do que foi dito, e se ela tentava um pouco mais, e se, se esforçava um pouco mais, conseguia lembrar do fatídico sentimento, e fatídico, eu digo: Por que chega em um momento que escolhemos um carretel de linha menor, para que caiba somente os momentos bons, mesmo que somados deem poucas coisas.

Escolhemos o nosso passado, e então, escolhemos como exatamente queremos abraçar o passado. 

Escolhemos como sofrer por ele.