8ª Carta

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25 de agosto

Ontem à noite, deitado na cama, eu tentava ler as poesias do escritor brasileiro Cruz e Sousa, mas não conseguia me concentrar devido ao que Bianca tinha me falado algumas horas antes. É incrível como as coisas podem mudar de uma hora para outra, e a sua vida, que parecia estar no caminho certo, agora fica tão confusa. Você quer saber do que eu estou falando? Pois bem, vou te contar o que aconteceu.

Eu havia acabado de chegar em casa quando encontrei minha prima no meu quarto, então falei:

— Oi, Bianca, tem sido uma rotina te encontrar aqui!

— Desculpe, vim devolver o seu livro.

Pressenti que, como da última vez em que esteve aqui, estaria angustiada. Então fechei a porta, sentei na cama e perguntei:

— Me fala, o que está rolando? — E Bianca me falou:

— É que minha vida está de cabeça para baixo!

— Como assim? O que foi dessa vez? — Ela se ajeitou na cadeira e começou a me falar tudo o que aconteceu.

— Já tinha uns dois dias que minha amiga não aparecia na escola. Até que no dia seguinte, ela apareceu. Ficamos apenas trocando olhares durante as aulas e no intervalo. Na saída da escola, ela veio falar comigo. Combinamos de nos encontrar à tarde na minha casa, para termos mais privacidade e podermos falar sobre o beijo. Como a minha mãe estava em casa, tivemos que ir para o meu quarto. Sentamos na cama e começamos a conversar.

Bianca contou que a amiga afirmou ter sido a primeira vez que beijara uma garota e que não foi nada planejado; simplesmente sentiu vontade de beijá-la. Tinha sido só por curiosidade mesmo e que não teve nenhuma intenção de brincar com os sentimentos dela. Falou, também, que a amiga tinha pedido desculpa e que ela acabou aceitado, dizendo que tudo bem, que não queria ficar de mal com a sua melhor amiga. Então ambas concordaram em esquecer tudo o que tinha acontecido e continuar com a amizade. Nesse momento, sorriram uma para outra, o que fez Bianca se sentir bem mais leve.

Em seguida, minha prima contou que após um tempo falando sobre a escola, música, roupas e outras coisas, ela tinha percebido que já estavam bem mais tranquilas, sem nenhuma pressão. Então, a amiga disse que já estava na hora de ir embora; levantou-se da cama e a abraçou forte.

Bianca relatou que teve uma reação estranha após alguns segundos abraçada com ela:

— Comecei a sentir um intenso calor percorrendo todo o meu corpo, arrepiando minha pele. Enquanto isso, o rosto dela roçava delicadamente o meu. De repente, ela colocou a mão esquerda em volta da minha cintura e outra por trás da minha cabeça. Foi quando senti o coração dela batendo em ritmo acelerado. Então começamos a nos beijar; o quarto todo parecia girar ao nosso redor, e a confusão do trânsito lá fora transparecia em nossos corpos. Ela se afastou de mim com a cara assustada e me pediu mil desculpas, dizendo que não queria ter me beijado de novo. Depois ela saiu rapidamente do meu quarto, sem falar mais nada. Em seguida, a minha mãe entrou perguntando se havíamos brigado, e eu respondi, com uma grande tristeza nos olhos, que não — concluiu.

Bianca se levantou da cadeira e sentou comigo na cama. Depois de alguns segundos calada, olhou para mim com lágrimas nos olhos e perguntou:

— O que faço, Daniel? Estou tão confusa! — Eu a abracei com todo carinho e disse:

— Bianca, eu não sei o que vem pela frente, gostaria muito de ter essa resposta, mas calma, ainda é muito cedo para dizer se o que você está sentindo agora é algo verdadeiro ou apenas passageiro. Dá um tempo e vê o que acontece.

Ela me agradeceu pelo conselho e foi embora. Sabe, acredito que elas podem se dar bem. Você não acha?

Atenciosamente,  Daniel.

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