39ª Carta

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17 de dezembro

Hoje, alguns dias depois de aceitar ser amigo de Beatriz, ao acordar, me senti diferente. Não tinha muito certeza do que eu estava sentindo. Sabe quando você está vivendo um momento difícil e depois de um certo tempo consegue superar isso, deixando um pouco daquela dor para trás e retorna à sua vida? Não estou dizendo que tudo passou, ainda existem certas coisas que guardo comigo. Mas depois de tanta tristeza, sinto que algo está mudando dentro de mim.

Pela primeira vez em muito tempo, eu observei o céu, em um tom bastante azul, ao sair de casa. O sol brilhava tão intensamente, que chegava a ofuscar a minha visão, o ar estava mais puro, e os pássaros festejavam o lindo dia. Talvez, para algumas pessoas, seja bobagem o que estou falando, porém muitas vezes esquecemos de agradecer por mais um dia de vida, por estarmos com saúde e ao lado das pessoas que realmente nos amam. Mas esse é só um pensamento de um garoto de dezessete anos com a sensação de que algo de bom está para acontecer.

Mais tarde, eu estava na biblioteca, sentado à mesa, quando Beatriz apareceu, entusiasmada.

— Ei, te procurei por toda escola. Queria muito falar uma coisa.

— Vim fazer uma pesquisa. Mas o que de tão importante você tem para me dizer?

— Bem, na verdade, é um convite.

— Convite?

— Sim, para o show da banda baiana de indie rock Vivendo do Ócio. Você conhece?

— Já escutei algumas músicas dessa banda.

— Pois é, o som deles é muito legal. Eles vão tocar em Teresina no próximo final de semana. Então gostaria de saber se não quer ir comigo.

— Para o show?

— Sim! Não está a fim de ir?

— Estou, é que você me pegou de surpresa com esse convite.

— Vamos ficar na casa dos meus pais, vai ser muito legal. Não aceito um não como resposta.

— Vou falar com os meus pais, mas acho que eles vão deixar.

— Tudo bem, fico esperando a sua resposta.

Ela me deu um beijo no rosto e disse que depois a gente se via na sala de aula. Era muito bom ver Beatriz daquele jeito, e isso me fazia bem.

Algumas horas depois, no meu quarto, conversava com a minha prima sobre o que Beatriz havia me revelado e a fiz prometer que não diria nada para ninguém. Falei, também, sobre o convite para o show. Bianca disse que eu deveria ir, mesmo a gente mantendo a relação somente como uma amizade. Seria legal estar ao lado dela, ajudá-la a superar o que aconteceu.

Bianca estava certa. Apesar do meu sentimento, naquele momento Beatriz precisava de alguém em que pudesse confiar. Seria egoísmo meu não aceitar ser essa pessoa, afinal todos queremos ver as pessoas que amamos felizes.

Em seguida, falei como meu pais, e eles me deixaram ir, desde que eu ligasse de vez em quando para eles. Concordei. Fiquei tão empolgado, que não esperei o dia seguinte para dar a resposta à Beatriz. Então enviei uma mensagem dizendo que aceitava ir com ela.

Como previ, hoje foi um dia legal. A questão é: será que vou me conformar em ser apenas um amigo? Acho que já sabemos qual é a resposta.

Atenciosamente, Daniel.

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