41ª Carta (parte final)

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Uma hora depois, acordei com o celular tocando e pensei que fossem os meus pais. Depois que consegui abrir os olhos, vi que era Bianca. Ao ouvir a sua voz, percebi que estava diferente.

— Desculpa se eu te acordei.

— Não, tudo bem. Aconteceu alguma coisa?

E assim Bianca começou a falar o motivo do telefonema.

Fazia algum tempo que ela e Aline vinham se encontrando às escondidas, isso depois que o pai e mãe de Aline a tiraram da escola e a colocaram em outra. Às vezes, se encontravam na casa de algum amigo, ou na casa de Bianca. Mesmo a mãe dela não achando aquilo certo, deixava, pois entendia o sentimento delas.

Elas sabiam que em algum momento seriam descobertas, e foi o que aconteceu. Quando os pais de Aline descobriram, tomaram uma decisão drástica que nenhuma duas imaginavam. Eles resolveram mandá-la para outra cidade, para morar com o tio, e Bianca tinha sabido disso na noite anterior.

Tentei confortá-la com algumas palavras, no entanto sei o quanto deve estar sendo difícil ver a pessoa que ela tanto ama ir embora por causa de um preconceito idiota. Infelizmente certas pessoas nunca aceitaram, muito menos entenderam, que pode existir amor entre duas pessoas do mesmo sexo. E isso é um fato. Minutos depois de Bianca se acalmar e desligar o telefone, acabei dormindo novamente.

Mais tarde, eu estava à mesa, almoçando com Beatriz e seus pais. Tudo ia bem, até o momento em que pai dela começou a fazer algumas perguntas. Sabe, conhecer os pais da garota de quem você está a fim significa somente uma coisa: cilada. A verdade é que eles queriam saber tudo sobre a minha vida. Por isso, esteja preparado para qualquer pergunta ou pelo menos, tente. O pai dela começou:

— Então, Daniel, fiquei sabendo que você também está no último ano do ensino médio. Já sabe qual faculdade quer fazer?

— Pai!

— O que foi, filha? Não vejo nada de mais perguntar isso.

— Tudo bem! No momento eu tenho duas opções em mente. A primeira seria fazer faculdade de Letras e me especializar em literatura portuguesa. Nas últimas semanas, venho pensando em Psicologia.

— O que faz nas suas horas vagas?

— Quando não estou estudando, geralmente estou lendo ou escutando os meus discos.

— Então gosta de vinis? Interessante, é bom saber que existem pessoas que valorizam coisas antigas.

Nesse momento, a mãe da Beatriz interrompeu a conversa, perguntando o que eu estava achando da refeição. Naquele instante só pensava numa coisa: será que iria sobreviver àquele interrogatório?

— Sim, está tudo muito bom, dona Aline.

— Que bom que está gostando.

— E então, Daniel, queria saber mais uma coisa. Está acontecendo alguma coisa entre você e a minha filha?

Claro que por alguns segundos, fiquei sem palavras. Em seguida, tomei quase todo o copo com água, enquanto ele não parava de olhar para mim, na expectativa de uma resposta. Olhei para Beatriz. Foi quando ela disse:

— Pai, que pergunta é essa? Está vendo, mãe?

— Hélio, assim você vai deixar o rapaz nervoso. Daniel, não se incomode com as perguntas do meu marido. É só preocupação de pai.

— Eu não sei por que tanta confusão, como pai, acho tenho direito de saber. E então, Daniel, está namorando com a minha filha?

Nesse momento, Beatriz piscou para mim. Fiquei surpreso, já que ainda não tínhamos falado nada sobre namoro.

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