24ª Carta

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24 de outubro

Ontem à tarde, quando cheguei em casa, encontrei Bianca um pouco nervosa me esperando no meu quarto. Ela disse que precisava muito falar comigo, que uma colega suspeitava que Aline e ela fossem lésbicas.

Ajeitei-me na cama, e logo ela me falou que tudo começou quando a colega de sala a viu fazendo carinho na cabeça de Aline, na porta, antes que começasse a terceira aula. Elas tentaram disfarçar quando perceberam que essa colega estava as observando. Na sala, como Bianca e Aline sempre sentavam uma do lado outra, a garota, de vez em quando, olhava para trás, visivelmente espiando o que estavam fazendo durante aula. Em certo momento, isso começou a ficar chato, ainda mais para Bianca, que odeia pessoas bisbilhoteiras.

A professora passou um trabalho em dupla para que todos entregassem na próxima semana. Como sempre, Bianca escolheu Aline para que ficassem juntas. Mas a garota que estava de olho nelas foi até a Aline e disse que queria fazer o trabalho com ela, falou até com a professora.

Irritada, Bianca disse que havia falado com Aline primeiro e que já tinham formado a dupla. A garota continuou insistindo e, nesse momento, a professora tomou uma decisão, dizendo para ela procurar outra parceira, já que Aline estava com Bianca. Assim, ela teve que aceitar e procurar outra pessoa.

Mais tarde, no intervalo, ela continuava observando minha prima e Aline. Bianca ficava se perguntando o que aquela garota, que ela mal conhecia — sabia apenas o nome e que estudavam na mesma sala —, queria com elas. Foi quando Bianca decidiu ir falar com a menina. A conversa se deu mais ou menos assim:

— Ei, garota, o que você quer comigo e com a Aline?

— Nada, estou só aqui lanchando e observando as pessoas. Não posso?

— Sim, você pode, desde que nós duas não sejamos as únicas pessoas que você fica olhando. E por que você queria tanto formar dupla com a Aline?

— Nada de mais, eu apenas queria variar as pessoas com quem faço trabalho. Por que ficou irritada? Vocês gostam de fazer tudo juntas, é isso?

— O que você está querendo insinuar?

— Por enquanto, nada. É que, ultimamente, vocês andam muito coladas uma na outra. Não é?

— Claro, somos amigas, e isso muito antes de você vir para essa escola.

— Sim, já observei, vocês são amigas do peito.

— Espera aí, o que você está querendo dizer com isso, garota?

Aline percebeu que o clima estava esquentando, então puxou Bianca daquela conversa e foram para a sala de aula.

Em certo momento, Bianca e Aline deram um jeito de sair da sala. Elas estavam conversando no banheiro quando Nídia, a garota intrometida, apareceu e disse:

— Oi, garotas!

— Você está nos perseguindo? — perguntou Aline.

— Calma, eu só vim apenas retocar meu batom.

— Você veio nos espionar. O que você quer, garota? — perguntou Bianca.

— Bem, já que insistem... Vocês são lésbicas?

Minha prima ficou furiosa e falou que ela estava louca por fazer aquela pergunta idiota. Disse que era tudo imaginação da cabeça dela e saíram sem dizer mais nada.

Na saída da escola, Aline e minha prima estavam conversando e esperando os pais irem buscá-las. E lá estava novamente Nídia, repetindo a mesma pergunta que fizera no banheiro. Nesse momento, o ex-namorado de Aline — o único na escola a saber sobre o relacionamento delas — passava por perto, ouviu a conversa e disse:

— Não, elas não são. Namorei Aline e posso te afirmar isso. Satisfeita?

Nídia pediu desculpas e foi embora. Elas o agradeceram, e ele, em seguida, pediu que elas tivessem mais cuidado.

— E foi isso o que aconteceu — terminou Bianca.

Antes que minha prima voltasse para casa, eu aconselhei que Aline e ela se preparassem, pois em algum momento terão de assumir o namoro.

Você não acha ridículo ver nos dias de hoje pessoas que se preocupam mais com a vida dos outros? Todos têm direito à felicidade, independentemente da sua orientação sexual. Mesmo as pessoas tendo opinião contrária, deve-se respeitar a escolha de cada um.

Atenciosamente, Daniel.

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