28ª Carta

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14 de novembro

Hoje o dia amanheceu nublado. Sabe, daquele jeito quando parece que vai chover, mas não chove. Esse clima reflete bem o meu estado de espírito. Eu sei que já deveria ter esquecido e seguindo em frente, porém a dor de um coração partido não se cura tão rapidamente, pelo menos, para mim, não funciona assim. Como já disseram, é preciso esperar algum tempo para a ferida cicatrizar, principalmente quando se trata de sentimentos. As cicatrizes da alma são mais difíceis de se curar, e você sabe muito bem disso porque, em dias como esses, ficamos trancados em um quarto escuro, imóveis, chorando, às vezes até soluçando. E isso não acontece somente com amores não correspondidos, mas em qualquer momento de dor.

São sete da manhã; estou embrulhado da cabeça aos pés. Apesar de sentir frio, meu lençol estava úmido, talvez tenha sido um sonho ou um pesadelo, não me lembro bem o que sonhei. Só que uma garota muita linda conversava comigo — acho que era na sala de aula — quando, de repente, ela começa se despir, peça por peça, bem devagar; no momento seguinte, já estou correndo de um demônio com chifres pegando fogo, parecia ser a mesma garota. Isso faz algum sentido para você? Pois é, para mim, também não.

Após alguns minutos acordado, percebi que não ia conseguir voltar a dormir. Fiquei rolando de um lado para outro da cama; eu me sentia melancólico, então levantei e comecei a caminhar pelo quarto escuro, às vezes pensando nela... Sim, Beatriz, às vezes pensava na escuridão da minha alma.

Tenho dezessete anos, já sofri algumas decepções nessa vida. Tente me entender, não estou falando só de amor, estou falando de pessoas, relações sociais, uma sociedade na qual sentimos dificuldade em nos encaixar. Vivemos em um mundo cheio de dor, de feridas que não cicatrizam.

A vida aqui parece não ter mais sentido. Pessoas se machucam e são machucadas. Até agem como animais — cometem o maior ato irracional possível ao ceifar a vida de outro ser humano, mesmo que o sentido da existência seja nascermos, vivermos e morrermos de forma natural. Deus não criou o mundo para vivermos nessa desordem.

Se fala muito em "inferno", mas será que já não estamos vivendo nele? Eu sei, parece muito negativo falar assim, porém é o que sinto quando olho através da minha janela o mundo lá fora. Mas esse é apenas um desabafo pessoal. Cada um vê o mundo da forma que quiser. Você pode até fingir que nada está acontecendo, porém os nossos olhos não mentem, estamos em uma contínua desconstrução.

Vejo no meu celular que já são quase oito horas. Coloco um disco da banda Death Cab for Cutie na vitrola e fico sentado na cama ouvindo seus lamentos pessoais e suas guitarras chorosas. Após algumas canções, escuto alguém bater na porta... É a minha mãe. Tenho que ir e fingir que está tudo bem comigo, apesar de que, no fundo, sinto que as coisas estão melhorando. Certas dores não são para sempre. Ao contrário de mim, espero que você esteja tendo um bom dia.

Atenciosamente, Daniel.

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