35ª Carta

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8 de dezembro

Você, alguma vez na vida, já teve a sensação, ao acordar, que nunca deveria ter levantado da cama? Não por motivo de sono ou preguiça, mas sim por um pressentimento de que aquele dia não seria legal? Pois é, hoje isso aconteceu comigo.

Eu deveria ter ficado na cama, quietinho, debaixo do meu cobertor, esperando esse dia passar, porém deixei essa sensação de lado, me levantei, escovei os dentes, tomei banho, me arrumei, tomei café e fui encarar o mundo lá fora. Mal sabia o que esse dia me reservava. Começou na escola.

Enquanto eu presenciava Beatriz e Marcelo em cada canto da escola conversando ou se beijando, tentava entender o que estava acontecendo comigo: seria ciúmes? Será que realmente eu ainda gostava dela? A minha mente estava muito confusa, sentimentos por si próprios às vezes são confusos, e para completar essa confusão na minha cabeça, tinha a Clarice. Não sei o que sinto em relação a ela, seria algo passageiro ou mais do que isso? Apesar de achá-la uma pessoa legal e querer ficar com ela, não seria certo enganá-la. Eu sei que em algum momento ela me perguntará se eu gosto dela, ou pior, se quero namorar com ela. Até os meus dezessete anos não tinha uma garota na minha cabeça, agora tenho duas. Como já disse, ser um adolescente não é fácil.

— No que você está pensando? — perguntou Clarice, e eu tomei um susto, pois não tinha percebido sua aproximação.

— Nada de mais — respondi.

— Sério? Você parecia estar tão concentrado.

— Impressão sua.

— Então tá. Ei, você quer ir hoje à tarde comigo no shopping? Estou precisando comprar umas coisas.

— Sim, eu vou com você.

— Legal, eu passo mais tarde de carro com o meu pai para te pegar.

— Ok!

Infelizmente ainda continuava com aquela sensação de que esse dia não seria nada fácil. Cara, eu não deveria ter levantado da cama hoje.

Algumas horas depois, estávamos no shopping, caminhando de uma loja para outra, provando roupas e mais roupas, Clarice sempre pedindo a minha opinião sobre o que vestia. Aquilo estava ficando chato quando, finalmente, acabou. Fomos até a praça de alimentação e comemos algumas besteiras.

Não sei o porquê, mas tive impressão, enquanto conversávamos, que Clarice queria me dizer alguma coisa. Ela sorria e ficava meio ansiosa olhando para os lados e para baixo, com as mãos juntas às pernas. Então ela disse:

— Você quer ir para minha casa?

— Agora?

— Sim.

Olhei no relógio do celular, já passava das cinco da tarde. Clarice, com certeza, queria ficar sozinha comigo, mas por quê? Será que era apenas uma conversa ou algo mais? Na dúvida, aceitei o convite, e fomos para casa dela. Antes, apenas liguei, avisando minha mãe.

Quando chegamos, fomos direto para o quarto dela. Depois de alguns beijos, ela pegou na minha mão, me levou até à sua cama, tirou o colete e nos beijamos novamente. Por um minuto pensei: será que vai acontecer? Vai ser agora que vamos perder a nossa virgindade? Porém foi apenas uma ilusão adolescente — minha, é claro. Clarice começou uma conversa que, de certa forma, eu já havia previsto. Dizendo que gostava de mim, que eu era um cara legal, gentil e bonito. E, aí, veio a pergunta que, naquele exato momento confuso da minha vida, eu não saberia responder:

— Você quer namorar comigo?

Por uma fração de segundos, lembrei do dia em que pedi Beatriz em namoro, e ela disse não. Agora eu estava na mesma situação, e para complicar mais ainda, era a primeira vez que uma garota me pedia em namoro. O que fazer? Não consegui dar uma resposta para ela naquele momento, então pedi um tempo.

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