22ª Carta

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17 de outubro

Há três regras básicas que devem ser levadas em conta quando se mata aula: primeiro, nunca se deve fazer isso várias vezes, pois acaba por deixar essa experiência sem graça; segundo, quando fizer isso, não fique de bobeira, você tem que aproveitar o máximo, fazendo coisas que você gosta; e terceiro, nunca seja pego fazendo isso. Sabe, a vida passa rápido demais, e se você não parar de vez em quando para vivê-la, acaba perdendo o seu tempo.

Sorri, pois não era a primeira vez que ela citava aquela frase retirada do filme Curtindo a Vida Adoidado, o clássico juvenil, que, por coincidência ou não, conta a história de um garoto que decide matar aula junto com sua namorada e seu melhor amigo para viver um dia inesquecível. E foi esse argumento que Beatriz usou para me convencer a matarmos a aula. Cada um inventou uma desculpa para sair na segunda aula. Depois de passarmos pelo portão da escola sem que ninguém nos visse, fomos diretamente para a parada de ônibus. Então perguntei a ela o que faríamos. Sem pensar muito, ela respondeu:

— Bem, temos exatamente quatro horas e cinco minutos para aproveitarmos. Por isso vamos fazer coisas do qual gostamos. Não se preocupe, vai ser legal. Está com medo? Se quiser, podemos desistir.

— Tudo bem. Não é primeira vez que faço isso, quer dizer, nunca fiquei fora por tanto tempo.

Nesse momento, o ônibus chegou, ela ajeitou a mochila nas costas, olhou em meus olhos e falou:

— E então, vamos?

Qual a escolha você faria em um dia tão bonito como esse? Ficar assistindo aulas intermináveis, algumas delas muito chatas, ou sair com uma pessoa legal, de quem você está a fim, para curtir momentos incríveis ao seu lado? Pois é, não tinha outra resposta em minha mente que não fosse essa:

— Sim!

Durante o caminho, enquanto conversávamos, Beatriz revelou que iríamos para o shopping, encontraríamos mais opções de diversão. Eu sei que não parece ser tão divertido, porém é o que temos nos dias de hoje. Ao chegar, fomos diretamente para um parque de jogos e passamos um bom tempo lá. Por um momento, voltamos a ser crianças quando nos jogamos em uma piscina cheia de bolas coloridas. Foi muito engraçado.

Em seguida, fomos para o cinema, compramos um imerso balde de pipoca e assistimos a uma comédia romântica chamada O Maravilhoso Agora. Para encerrar a nossa escapada, pegamos outro ônibus e seguimos para a cafeteria, onde tivemos nosso primeiro encontro. Conversamos sobre o que faríamos em nosso futuro. Eu disse que pensava em fazer faculdade de Letras ou Psicologia, mas que não tinha muito certeza disso. Ela falou que sua mãe era formada em Fisioterapia, porém não queria seguir a mesma profissão. Sorrimos ao concordar que não tínhamos certeza do que queríamos fazer da vida. Só porque faltavam alguns meses para nos formarmos no ensino médio, não éramos obrigados a saber o que desejaríamos fazer pelos próximos anos de nossas vidas.

Voltamos para escola ao final da última aula, antes que a tia de Beatriz e meu pai fossem nos buscar. De repente, fomos surpreendidos pelo diretor perguntando aonde tínhamos ido. Fiquei gelado nesse momento. Então Beatriz tirou dois crachás da sua bolsa e falou que havíamos ido à feira de ciências escolar. Ele deu uma olhada e saiu. Em seguida, perguntei:

— Como você arrumou isso?

Ela respondeu que tinha conseguido com uma colega do conselho estudantil.

— E por que você não me disse isso?

— Não queria estragar a sensação de que poderíamos ser pegos.

Então ela me beijou e perguntou se eu estava bem. Eu disse que precisaria de mais beijos para compensar. O sinal tocou e logo o corredor ficou cheio, mesmo assim, continuamos nos beijando.

Sei que não parece certo o que fizemos. Mas, entenda, somos adolescentes e, como já disse outra vez, estamos vivendo uma fase cheia de dúvidas e conflitos. É normal agirmos dessa forma, ainda não amadurecemos. Às vezes mentimos, mas quem nunca fez isso? Quebrar uma regra de vez enquanto talvez não seja algo tão ruim, desde que isso não traga problemas para você ou para outras pessoas. Lembre-se, a vida passa rápido demais, e se você não parar de vez em quando para vivê-la, acaba perdendo o seu tempo.

Será que você já fez algo assim?

Atenciosamente, Daniel.

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