34ª Carta

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6 de dezembro

Hoje aconteceu uma coisa que me fez perceber que, de certa forma, ainda sentia algo pela Beatriz. Eu sei que não deveria sentir falta de alguém que sequer explicou o motivo de não querer namorar comigo. Também sabia que, depois de sofrer por tantos dias trancado em um quarto escuro, eu não deveria voltar a pensar nela, mas, infelizmente, existem certas coisas que não tem explicação. Às vezes, o coração fala mais alto que a razão. Será que eu ainda gosto dela? Bem, vou explicar como isso aconteceu.

Foi durante uma gincana, realizada no ginásio da escola. Não gosto de nada que envolva esforço físico e, como já disse, sou meio sedentário — eu sei que tenho de mudar isso. Eu não queria participar, mas fui obrigado, já que valia pontos em quase todas as disciplinas. Estávamos em lados diferentes: Beatriz estava na equipe do Marcelo, e eu, na equipe de Clarice. Acho que eram por volta de dez equipes competindo.

Ao longo do dia, várias tarefas foram sendo realizadas, como caçar objetos escondidos, perguntas de verdadeiro ou falso, charadas, encontrar pessoas com nomes diferentes e outras mais. Porém o ruim foi quando começaram as provas físicas. Nesse momento, a equipe de Beatriz começou a ganhar quase todas as provas, já que o grupo dela era formado, em sua maioria, por atletas.

No momento de pausa da competição para a contabilização dos pontos, para assim apontar quais equipes estavam na final, vi algo que nunca queria ter testemunhando: perto do bebedouro, Beatriz e Marcelo se beijavam. Nossa, como foi duro ver aquilo, uma sensação que algo foi esquecido, não somente uma história, mas um sentimento. Quando ela percebeu que eu estava olhando, disfarcei e imediatamente beijei Clarice, que ficou surpresa por estarmos pela primeira vez nos beijando em público. Sei que não deveria ter feito isso, mas foi uma reação súbita.

Chegamos à final da gincana junto com a equipe de Beatriz. Restavam duas provas para saber qual das equipes seria a campeã — para mim, em nada importava estar participando daquela competição. Porém, por um breve momento, tive vontade de ganhar, mostrar que éramos os melhores. Eu sei que no fundo estava apenas querendo vencer a equipe rival e, assim, demonstrar que Beatriz não significava mais nada para mim, que eu já tinha esquecido o que rolou entre a gente.

Na prova do cabo guerra, a organização, para ser justa, colocou a mesma quantidade de homens e mulheres de cada lado da corda. Por coincidência ou não, ambos estávamos na frente, olhando um para outro. Fiquei imaginando o que ela estava pensando naquele momento; talvez, como eu, ela quisesse vencer, mostrar que poderia me superar. O sinal foi dado, colocamos o máximo de força que podíamos, porém não foi o bastante e, sem nenhuma explicação plausível, caí em cima de Beatriz. Por alguns segundos, ficamos no chão nos olhando.

Naquele instante, eu percebi que ela também havia sentindo algo, então a levantei, perguntando se estava tudo bem. Ela respondeu que sim e, em seguida, cada um foi para o seu canto. A equipe dela acabou ganhando a gincana.

Às vezes, negamos o que sentimos, tentamos esconder, disfarçar, porém não adianta, se você realmente ama alguém de verdade e essa pessoa também te ama, o sentimento continuará dentro do seu coração, porque sentimentos são movidos por nossas emoções, e isso não tem explicação. Será que você entende?

Atenciosamente, Daniel.

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