Cap. 4: A Procura da Filha

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  Uma coisa que todos esquecem é que aqueles que consideram vilões em suas histórias se veem, na verdade, como heróis. Na mente deles, cada ato de maldade é justificado por uma narrativa de dor, vingança ou sobrevivência. No entanto, a verdadeira tragédia reside nas vítimas. Elas podem perdoar, mas nunca esquecerão. As cicatrizes emocionais permanecem, marcadas em suas memórias como traumas que os acompanham ao longo da vida, levando-os a consultar psiquiatras e psicólogos, enquanto os vilões, mesmo quando perdoados, continuam suas vidas como se nada tivesse acontecido. É um ciclo que não se rompe facilmente, e a sociedade, muitas vezes cega, prefere ignorar a realidade.

No final das contas, quem foi o responsável pela dor que infligeu? O número de assassinos pode permanecer o mesmo mesmo quando um é eliminado, mas isso não significa que a culpa se dissolve nas sombras. Se um homem mata um assassino, a balança da justiça não se equilibra; apenas troca-se um mal por outro. Para que o número de vilões não continue a crescer, o sistema, falho e distorcido, parece sugerir que a única solução é eliminar mais um. Mas a sociedade não enxerga isso. A injustiça se perpetua.

E assim, em um final de tarde quente de 10 de setembro de 2019, um carro percorre uma estrada de terra em direção a um local isolado. O motorista, um homem cujos olhos refletiam o peso de suas escolhas, olha para o painel onde o celular toca. Ele atende, colocando a chamada em viva-voz.

— Fala, Emilly — diz ele, a tensão em sua voz ecoando nas palavras.

— Você tem certeza que quer fazer isso? — a preocupação na voz de Emilly é palpável, como uma sombra que se recusa a deixar o homem em paz.

— Sim. Os policiais disseram que só podem registrar boletim de ocorrência de desaparecidos depois de 48 horas. E já se passaram 45 horas — ele responde, a determinação endurecendo seu tom.

— Nossa filha desapareceu, e você sabe o porquê, não é? Por sua causa e da sua infidelidade.

Ele sente o peso da acusação, cada palavra como uma lâmina afiada, cortando sua resistência.

— Eu sei, e não precisa dizer mais nada — ele interrompe, sua voz um sussurro sombrio, a culpa martelando em sua mente.

— Está bem. Se encontrar realmente nossa filha, diz que eu a amo. Que vamos criá-la e prestar atenção em dobro a partir de agora — Emilly fala com um misto de esperança e dor.

— Sim, falarei. Até logo — ele diz, desligando o celular e ligando o rádio, tentando abafar a tempestade de emoções dentro de si.

As notas da música que toca no rádio se misturam com os pensamentos pesados que o cercam. Ele sabe que as sombras do passado são implacáveis, e enquanto dirige em direção ao desconhecido, o peso de suas ações antigas parece mais denso do que nunca. O que ele está prestes a fazer não é apenas uma busca por sua filha; é um confronto com os demônios que ele deixou para trás, aqueles que o acompanharão na jornada em busca da redenção e do perdão.

A estrada de terra continua à frente, cheia de curvas e segredos, enquanto ele se aproxima de um destino que pode mudar tudo. E assim, a história se desenrola, revelando que cada escolha feita, cada ação tomada, não se apaga facilmente. A vida é um ciclo de dor e redenção, e em meio a tudo isso, o homem se pergunta: até onde você irá por aqueles que ama, mesmo que isso signifique enfrentar suas próprias sombras?

No rádio, a voz do repórter se destaca entre o silêncio inquietante do carro. O motorista, a mente turbilhonando com a angústia do desaparecimento da filha, aumenta o volume.

— O número de pessoas desaparecidas aumentou nas últimas duas semanas em comparação aos anos anteriores neste mesmo período. Relatos de pesquisadores indicam que as vítimas incluem crianças de 12 a 15 anos e adultos de 18 a 35. Agora, a próxima notícia...

Noites Sombrias: Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora