Cap. 7: Bem Vindo ao Século 21

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Johnny vagava pela floresta, os passos pesados ecoando entre as árvores enquanto as folhas secas e os galhos estalavam sob seus pés. Ele estava perdido, não apenas geograficamente, mas em uma nebulosa de confusão e dor. Cada respiração parecia um esforço, e a máscara roxa que cobria seu rosto apenas amplificava a claustrofobia que se instalava em seu peito.

Depois de algum tempo caminhando, seus olhos cansados avistaram uma cabana ao longe. Era uma visão estranha e solitária, mas também um abrigo temporário. Ele se aproximou, sua mão tremendo enquanto colocava a palma na maçaneta. A porta estava fechada. Um golpe de frustração o impulsionou a quebrar o vidro da janela, o som estalando no silêncio da floresta. Com um impulso de adrenalina, ele adentrou a cabana, o cheiro de madeira velha e mofo invadindo suas narinas.

Dentro, o espaço estava vazio, mas havia uma sensação de abandono que o acolheu. Johnny deixou suas armas sobre a mesa e, com um cansaço profundo, sentou-se no sofá. As mãos tremiam enquanto ele as passava pela máscara, deslizando até os cabelos desgrenhados, tentando organizar seus pensamentos e compreender a tempestade de emoções que o dominava.

Levantando-se, a necessidade de um banho se tornou urgente. Ele caminhou até o banheiro, a água era um bálsamo para suas feridas não apenas físicas, mas emocionais. Ao abrir o chuveiro, removeu uma luva, testando a temperatura. Assim que a água quente começou a escorrer sobre seu corpo acinzentado, Johnny sentiu um alívio momentâneo. Ele lavou cuidadosamente as marcas de suas últimas batalhas, as feridas recentes se curando lentamente, mas as cicatrizes antigas permaneciam, eternamente lembrando-o de quem ele era e do que já havia enfrentado.

Após o banho, a realidade da sua aparência se fez presente. Olhando-se no espelho embaçado, ele percebeu que a máscara era a única coisa que o mantinha parcialmente separado da imagem que não conseguia suportar. Colocando-a de volta, ele sentiu que ainda era Johnny, mas ao mesmo tempo, algo dentro dele se quebrava a cada dia que passava.

Com o corpo limpo, ele decidiu que precisava de roupas novas. As suas estavam tão sujas e desgastadas que se tornaram um símbolo de sua luta. Ele explorou os dois quartos da cabana, abrindo armários e gavetas, mas as opções eram limitadas. Uma calça grande demais para seu corpo magro fez com que ele fruncisse a testa. Mesmo com um cinto, a situação não parecia resolver. Finalmente, encontrou uma camiseta azul marinho e um casaco preto, que, embora grandes, eram melhores do que continuar com as roupas sujas.

Ao se arrumar, um impulso o levou até a geladeira, onde, para sua decepção, havia pouco mais do que água e um refrigerante de guaraná. Ele abriu a garrafa, o gás fazendo um som refrescante enquanto ele tomava um gole. Enquanto bebia, algo chamou sua atenção. Um quadrado preto e gigante em cima do móvel da sala parecia completamente fora de lugar.

Intrigado, Johnny se aproximou e encontrou um controle remoto. Com um toque hesitante, apertou o botão vermelho e assistiu enquanto a tela ganhava vida, imagens piscando e cores vibrantes dançando diante de seus olhos.

— Nossa! Isso é uma televisão? — ele exclamou, surpreso com a mudança drástica desde a última vez que viu uma. — Como mudou muito desde a última vez que pude assistir! Essa imagem está bonita, as cores estão tão reais.

Johnny se sentou na beirada do sofá, completamente absorvido pela nova descoberta. Ele se lembrou de como a televisão costumava ser uma caixa grande e pesada, com um sinal que muitas vezes falhava. Agora, a tela fina e preta parecia quase mágica, como uma janela para um mundo que havia mudado enquanto ele permanecia preso em seu próprio pesadelo.

Por um momento, ele se perdeu nas imagens que passavam, as histórias e vidas que desfilavam diante dele. Era um pequeno consolo em meio ao turbilhão de sua existência. Mas a sensação de que algo estava faltando nunca o abandonou. As sombras do passado continuavam a dançar nas bordas de sua mente, lembrando-o de que, mesmo em um novo mundo, ele não era verdadeiramente livre.

Noites Sombrias: Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora