Cap. 8: Sem Rumo

35 13 1
                                    

   Após uma longa soneca no sofá, Johnny acordou abruptamente, sem saber quanto tempo havia passado. O relógio na parede marcava 18h31min. A televisão estava ligada, e ele, ainda meio atordoado, se dirigiu ao banheiro para lavar o rosto. Enquanto a água escorria, ele ouviu o noticiário que falava sobre um caso recente que lhe causou um nó na garganta. Era a história de Rafaela Carolina, uma garota de apenas onze anos, desaparecida há dias e agora encontrada morta em uma estrada de terra, a poucos quilômetros de onde havia sumido.


— Como conseguem fazer tamanha perversidade com uma garota de onze anos?! — exclamou, colocando sua máscara e luvas, o horror pintado em seu rosto.

A repórter continuava:

"Rafaela Carolina desapareceu dias atrás e contamos em primeira mão essa história. Hoje cedo, acharam seu corpo na estrada de terra em..."

Johnny aumentou o volume, mas logo o baixou novamente, nervoso com o que estava ouvindo. Em um sussurro para si mesmo, prometeu:

— Jamais... Jamais vou fazer isso de novo... Matar pessoas. Quanto mais eu matar, mais vou me igualar a esses assassinos... Eu não vou mais fazer isso... Especialmente com crianças. Eu nunca matei e nem vou... São crianças, nem todas são ruins... Eu prometi a mim mesmo que jamais farei mal a uma criança.

Ele se lembrou de seus sobrinhos, que nada tinham a ver com suas escolhas passadas. O medo em seu olhar se transformou em uma determinação inabalável. Johnny sentiu seus punhos se fecharem enquanto assistia à reportagem, e a dor da injustiça lhe queimava no peito.

Com o celular agora carregado a 100%, decidiu que precisava entender o que havia levado as pessoas, especialmente os adolescentes, a se tornarem tão violentas. Ele relia a matéria sobre o adolescente que tinha sido solto e gravou o endereço onde o ônibus estava. Sem hesitar, saiu em direção ao local a pé.

As ruas estavam movimentadas e o engarrafamento era intenso. Depois de duas horas de caminhada, cansado e frustrado com a violência que presenciava ao seu redor, ele avistou duas pessoas em uma moto tentando assaltar um motorista. A adrenalina correu por suas veias, e, em um impulso, ele decidiu intervir.

Atacou os bandidos, derrubando o que pilotava e nocauteando-o. O outro, em pânico, tentou atirar nele, mas a bala disparou para o lado, atingindo o porta-malas de um carro próximo. As pessoas saíam de seus veículos desesperadas, e Johnny sentiu o impacto de uma bala que atravessou sua luva, perfurando a pele da mão esquerda. A dor fez com que ele ofegasse, mas a adrenalina o mantinha em movimento.

Ele arremessou a arma longe, respirando pesado, enquanto gritava:

— Dá pra parar?! — sua voz soava alta e grossa, preenchida com a frustração de quem não aguentava mais a impunidade — Eu não vou te matar, nem te espancar, só quero saber quem foi esse cara que foi solto na televisão?! Já que não revelaram o rosto.

— Não vou falar! — respondeu o bandido, caído no chão.

— Escuta aqui, seu merda! — Johnny se aproximou, sua paciência se esgotando — Não quero saber se vocês têm esse maldito código de nunca delatar seu amigo. Fala agora ou vou encravar essa foice no seu queixo e te arrastar na rua.

O bandido se contorceu, medo visível em seu olhar.

— Não vou falar! — repetiu, embora sua voz tremesse.

Johnny, então, levantou a foice, fazendo um gesto ameaçador de perfuração.

— Escuta, vou repetir mais uma vez: onde posso encontrá-lo?! — encravou a faca na canela do bandido, que gemeu de dor.

Noites Sombrias: Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora