Semanas se passaram desde que Johnny se fechou em sua cabana, mergulhando em um mundo de solidão e reflexão. Ele saiu do banheiro, a água ainda escorrendo do rosto, e olhou para o calendário preso na parede ao lado da geladeira. Os dias haviam sido riscados um a um, como se cada marca representasse uma pequena parte de sua vida que havia se esvaído.
Com o controle remoto na mão, ele hesitou diante da televisão, seu instinto o alertando para não ligar. Lembrou-se de que as notícias apenas traziam mais desgraça, e seu olhar se desviou para um rádio empoeirado no canto da sala. Ligou o aparelho, buscando uma estação que o transportasse para tempos mais simples, onde as músicas contavam histórias e não traziam as dores do presente.
Após alguns ajustes, encontrou uma estação que transmitia os últimos acordes de "My Way", de Frank Sinatra. O som melancólico envolveu-o, e logo após a música, o locutor começou a falar, sua voz ecoando informações que pareciam distantes, mas que, de alguma forma, ressoavam com Johnny.
— ...novos protestos e manifestações estão ocorrendo no Brasil, com o foco na luta por aumentos salariais para os professores que não recebem há meses — dizia o locutor. — Entretanto, o que mais chama a atenção é o uso de máscaras roxas e casacos pretos, como os do infame Johnny Johnson, um símbolo de resistência para muitos.
Johnny sentiu um frio na barriga ao ouvir seu próprio nome. O locutor continuou, relembrando um caso que havia sido amplamente discutido anos atrás, sobre um garoto que, assim como ele, vestia-se de maneira peculiar e estava envolvido em uma tragédia que chocou a nação.
— Atualmente, surgem hipóteses de que o rapaz mascarado se inspirou na história de Johnny Johnson, e as pessoas estão lutando pelos seus direitos.
Um sorriso tímido brotou no rosto de Johnny, misturado com um toque de vergonha. A sensação de ser notado por suas ações, de se tornar um símbolo, era um fardo e um alívio ao mesmo tempo. Terminou de ouvir as músicas clássicas, a melodia ainda ecoando em sua mente, antes de decidir ir encontrar Kimberly.
Ao chegar atrás da escola, onde haviam marcado o encontro, seu coração pulsava um pouco mais rápido. A brisa suave trazia consigo a esperança de um momento de conexão.
— Oi — disseram ambos, as vozes entrelaçando-se.
— Como estão suas férias? — Johnny perguntou, tentando esconder a tristeza que o acompanhava.
— Está indo bem, só estou em casa mesmo. E você? Está bem? — Kimberly respondeu, segurando uma sacola que exalava um aroma convidativo.
— Estou tentando, como sempre — ele respondeu, sua voz carregada de uma fragilidade que não podia ignorar.
— Sei que é difícil se adaptar no futuro. Eu que nasci pouco tempo nem consigo — disse ela, olhando para ele com um misto de preocupação e carinho. — Você está triste ou com fome?
— Eu não sinto fome, mas é pesado saber que faz tempo que não como nada — Johnny admitiu, sua expressão se tornando um reflexo da luta interna que vivia.
— Toma aqui para você. Comprei esses salgadinhos — ela disse, entregando a sacola cheia de guloseimas.
— Obrigado por isso. Está sem comida lá mesmo — ele respondeu, a gratidão se misturando à sua dor.
— Você está sem máscara. Se sente bem com isso? — Kimberly perguntou, uma pontada de preocupação em sua voz.
— As pessoas ficam me olhando, mas me sinto sim. Posso ser eu mesmo. Só queria ter uma vida normal — ele confessou, a sinceridade em suas palavras soando como um lamento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Noites Sombrias: Volume I
HorrorQue pode acontecer quando uma pessoa não tem família, amigos, infância, ou coisas boas na vida além de desprezo dos outros por ser ele mesmo? Nessa história vai contar sobre Johnny que cansado dessa vida, decide matar as pessoas que te fizeram mal...