Smother Me

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    Hoje é dia de ir no mercado, Frank deixou o carro em casa, provavelmente está arrependido por ontem. Tomo banho e me troco, decido usar o carro já que estou fraco demais pra ir andando, vou comprar vitaminas, devo estar velho.

  Eu tenho vinte e sete anos e já estou morrendo assim? Caminho até o quarto e recebo uma ligação logo pela manhã, me surpreendo, é do próprio Frank.

Oi... — Atendo.

Gee? Como você tá? — Ele pergunta.

Uau, você está mesmo se preocupando comigo?

Eu... ainda estou muito mal. Não acordei disposto hoje.

O quê eu estou fazendo? Mantendo Frank ao meu lado. Eu sei que mentir é a pior coisa que se pode fazer em um relacionamento, mas se Frank se importa comigo quando estou doente, eu pretendo fingir estar até ele se aproximar de mim novamente.

Tudo bem, quando der meu horário de almoço, eu passarei em casa. Você quer que eu leve alguma coisa? — Eu estou nas nuvens, Frank está realmente preocupado, depois de tanto tempo.

Não... não precisa me trazer nada. — Respondo em meio à um sorriso.

Bye.

Bye. — Respondo.

Ele desliga sem dar muito tempo de eu dizer que amo ele, de qualquer modo, ele não responderia um "eu também te amo", e sim um "eu também". Entro no carro e dirijo até o mercado, faço a mesma compra de sempre, não compro muita coisa pelo fato de Frank praticamente morar na empresa e eu não comer mais que uma fruta por dia.

Volto pra casa, um moço puxou assunto comigo na fila do supermercado e eu tentei acabar com aquilo, sendo que na verdade eu queria saber mais sobre ele, conversar... Mas da última vez que Frank descobriu que eu tinha um amigo, ele surtou de vez e espantou o cara. Frank ficou sem voltar pra casa por três dias, eu chorei esses três dias inteiros. Não quero arriscar fazer ele sumir de novo, eu me odiaria mais uma vez.

Frank aparece antes mesmo de dar o horário de seu almoço, me levanto em disparo ao escutar o alarme do carro. Ele entra e se depara comigo em frente à porta, sorrio ameno.

— Então veio mesmo. — Digo surpreso.

— Sim... — Ele afrouxa a gravata.

— Desculpa, eu não sabia que chegaria tão cedo, não preparei nada.

— Não estou com fome, eu só queria ter certeza de que estava tudo bem. — Caminhamos até a sala de estar e me sento.

— Eu vou melhorar, basta tomar os remédios. — Abaixo o olhar e ele se senta ao meu lado.

— Desde quando isso vem acontecendo? — Frank me pergunta com tom de preocupação.

— Um tempo...

— Vai ficar tudo bem mesmo? — Levo meus olhos aos seus.

Eu me apaixonei por esse mesmo olhar, seu olhar de preocupação.

Eu pegava impulso com meus patins novos, na minha cabeça eu já sabia andar naquela coisa. Pensei ser um bom dia pra treinar já que a rua de casa estava vazia. Eu tinha dezessete anos e ainda sim sonhava em aprender à andar naquilo.

Naquele dia eu havia inventado de não usar nenhuma proteção contra queda, o que eu tinha na cabeça? Mantia o corpo em uma perna e pegava impulso com a outra, como se fosse um patinete. O vento ia contra o meu rosto e eu estava andando, tudo ia bem até um skatista resolver esbarrar em mim ao virar a rua. Certo, talvez eu que tenha esbarrado nele, mas mesmo assim.

I Don't Love You - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora