Goodbye

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    Agora eu estou esperando Frank conversar com o doutor, já deve ser bem tarde, eu acordei aqui e Frank me disse que eu havia desmaiado de repente. Eu não entendo, estava tudo bem e de repente aconteceu tudo de uma vez. Sinto meus ossos mais enfraquecidos do que nunca e noto a cor amarelada em minha pele, eu estou morrendo?

— Vem, esses idiotas não sabem de nada. — Ele me ajuda a levantar e olho para o doutor que me fita preocupado.

Doutor Weinsber não está aqui, se estivesse eu poderia falar com ele e reclamar sobre os remédios. Talvez se eu trocar de remédio as coisas mudem e eu melhore. O casaco quente de Frank aquece meu corpo, na correria até aqui ele não pôde pegar algo pra mim então me emprestou o seu, voltamos para o carro e eu entro com sua ajuda. Frank entra no carro bufando, para e parece pensar enquanto repousa as mãos no volante.
Resolvo me pronunciar na tentativa de acalmá-lo um pouco

   — Amor, não se preocupa. — Digo num tom baixo.

   — Como não? Gerard, você não tá bem e qualquer um que te olhar vai perceber isso. — Frank me olha e me calo, ele está certo, pareço um zumbi e isso não tem como ser deixado de lado. — Eles disseram que não podem fazer um exame de última hora, dá pra acreditar? Você desmaiou do nada e eles dizem que não podem fazer nada.

  Sua indignação tomava conta de todo seu ser, Frank estava nervoso porque não podia cuidar de mim, infelizmente você pensou tarde Frank. Eu não sei o que vai ser de mim daqui pra frente, o doutor só volta daqui três dias e até lá eu vou ter que ir me virando com esses remédios. Eu tenho medo do que pode acontecer, será que isso é um problema hereditário ou uma hora vai passar?

  — Eu não vou morrer. — Sorrio e pego sua mão me sentindo um pouco receoso. — Eu só preciso trocar meus remédios, eu tenho alguns problemas no estômago mas com o tratamento dos remédios eu vou ficar bem.

— Quando você for falar com o doutor, eu vou com você. — Ele me diz e sorrio.

— Eu vou pela manhã, você vai estar trabalhando.

  — Não importa, eu vou. — Insistiu.

— Teimoso. — Digo e ele sorri convencido e dá partida no carro.

Voltamos pra casa e ele insiste pra eu comer alguma coisa, tento explicar que se eu comer provavelmente vou colocar pra fora em seguida mas ele praticamente me obriga, ele faz macarrão instantâneo e me serve. Rio percebendo sua falta de experiência com a culinária e ele se senta ao meu lado esperando que eu comece a comer, se mantém vidrado em mim:

— Se ficar me olhando assim eu não vou conseguir comer. — Digo o olhando de soslaio.

— Ah, desculpa. — Ele se vira pra frente juntando as mãos. — Quer que eu saia?

— Não, me conta sobre o seu dia… — Digo me preparando pra comer aquela grande quantidade de macarrão, grande pra mim, se fosse para qualquer outra pessoa seria uma quantidade normal.

— Depois que saiu da empresa eu conversei com o diretor, você me ajudou muito com a pasta… — Ele diz e direciona os olhos à meu pulso. — Não queria ter te machucado.

— Eu não deveria ter subido, você me mandou esperar e…

— Não importa, eu não tinha o direito de te destratar como fiz. — Ele diz e sorrio o olhando.

— Eu não me importo, você está arrependido e isso mostra que se importa comigo. — Eu não trocaria esse dia por mais nenhum.

Sorrimos e avanço a primeira garfada na boca, tudo por enquanto vai bem, até a terceira. Nessa que eu paro por me sentir quase explodindo, como três garfadas podem ter me enchido o estômago? Sinto que tem algo de errado.

— Eu não consigo…. — Digo largando o talher.

— Consegue, tenta. — Frank diz me olhando.

— Eu não consigo. — Digo já sabendo no que vai dar se eu comer mais um fio sequer do miojo.

— Porra, tenta! — Frank diz autoritário e me assusto com sua mudança repentina.

Tento comer mais um pouco e na primeira garfada eu sinto meu estomago se revirar e corro dali para o lavabo, novamente eu me desfaço da minha “janta da madrugada”. Deixei Frank na cozinha com cara de reprovação, eu preciso ficar bem, tudo estava perfeito e essa droga voltou pra me assombrar, o que eu fiz pra merecer isso?
  Vou até a cozinha e me escoro na parede observando ele sentado com os braços cruzados, eu devo dizer alguma coisa? Apenas sigo pro quarto e me deito, durmo esperando por ele na cama.

(...)

   Três dias se passam e eu não consigo nem andar, minha situação piorou drasticamente, o que fez Frank ficar em casa pra me ajudar a fazer praticamente tudo. Ele não reclamou, eu percebia sua falta de paciência pra algumas coisas complicadas, como me ajudar a me vestir, a descer as escadas e subir, mas isso vai mudar. Hoje passarei na clínica e vou falar com o doutor, não é possível que um estômago faça uma pessoa não conseguir nem andar. Eu tenho vivido como um idoso, minha respiração falha, minha cabeça sempre dói e minha visão me atrapalha, minha aparência então nem se fala, até meus olhos estão amarelados. Pego meus documentos e Frank me ajuda a ir até o carro, coloco um óculos escuros e roupas fechadas e largas, não quero aparentar estar doente mesmo estando.     
  Sem assunto o caminho inteiro, acho que já estressei Frank o suficiente por essa semana inteira. Fico pensando no que o doutor vai dizer, será que os novos remédios vão funcionar? Quando eu me recuperar, vou compensar Frank por ter me ajudado tanto, o que eu seria sem ele?
    Chegamos na clínica e ele me ajuda a sair do carro, seguimos até a recepção. Espero sentando enquanto ele fala com a recepcionista, olho em volta e vejo as pessoas aparentemente saudáveis, sorrio pra uma garotinha que me encara desde que cheguei. A baixinha sorri de volta e acena, aceno pra ela, imagino como seria incrível ter uma família com Frank, será que um dia nós vamos nos casar e ter filhos? Eu sempre sonhei em ter uma família, talvez esse seja meu maior sonho.
    Me assusto com a mão de Frank em meu ombro:

    — Vamos, o doutor está te esperando. — Ele diz e me ajuda a levantar.

    Me acompanha até a sala e antes de batermos, escuto gritos e sermões. A porta se abre e o doutor sai da sala deixando a pessoa com quem acabará de gritar lá dentro, ele ajeita os óculos.

     — Gerard, posso falar com você em particular? — Ele pergunta e antes de Frank dizer qualquer coisa eu digo.

       — Tudo bem amor. — Digo para Frank que assente e me ajuda a entrar na sala. Logo ele sai.

    Um enfermeiro que antes já estava na sala me fita com semblante apavorado, eu estou tão feio assim? Me sento e o doutor se posiciona ao lado do enfermeiro. Confesso que esse suspense todo está me deixando nervoso, eu nem disse ainda o que estou sentindo.

    — Gerard, sabe aquela vez que veio fazer os exames? — Pergunta e eu franzo o cenho.

     — Sei sim, o senhor disse que com os remédios eu melhoraria.

     — Gerard, os exames foram trocados.

    Espera, o que está acontecendo? Fecho as mãos me sentindo ansioso e nervoso, doutor, o que você está prestes a me dizer?

      — F-foram? Mas e então? — Pergunto.

  O enfermeiro faz cara de choro e dá  um passo a frente, meus olhos marejam, como se estivéssemos conversando telepaticamente. Ele treme aparentemente nervoso e me olha nos olhos:

    — Fui eu quem trocou os exames, me desculpa... Eu aceito todas as advertências, processos, me desculpa. — Ele se ajoelha chorando e fito o doutor ainda sem entender.

      — Gerard, você tem câncer... estágio quatro. — Ele diz sentido e meu mundo cai.

     Então... eu vou morrer?

   
    

I Don't Love You - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora