Last To Know

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  O tilintar da porcelana me faz sair do transe, levo meus olhos ao chão da cozinha e enxergo os milhares de cacos espalhados da ex xícara de porcelana por lá. Subitamente me direciono para lavanderia e pego a vassoura limpando ali, os motivos por eu estar tão avoado são essas minhas náuses sem sentido. Não sei ao certo o que tem me feito perder o apetite constantemente, são os prazos de entrega dos quadros? Ou é pelo fato de eu ter quase certeza de que meu namorado me trai com seu secretário?
Eu passei a perceber o modo como o garoto fala dele, quando Frank me avisa por telefone que vai chegar mais tarde e escuto sua ofegação através da ligação, tão descuidado. Sigo sem animação alguma para o meu “lugar de trabalho”, o pequeno quarto que tranformei em ateliê para pintar meus quadros, lembro de quando pintei as paredes com a ajuda de Frank, quando ele me amava.
Passo o dia pintando aquela tela, eu terei de entregar-lá daqui à três dias, respectivamente sexta-feira. Hoje Frank avisou que jantaria em casa, o que é algo incomum, já que ele sempre sai tarde do trabalho. Minha comida nunca foi a melhor de todas, principalmente depois que eu comecei a vomitar toda vez que sentia o cheiro dela, não por seu um cheiro ruim, mas por simplesmente me deixar enjoado.
O horário dele chegar se aproxima e eu consigo sentir uma felicidade invadir meu ser por completo, não jantamos juntos faz bastante tempo, também preciso dizer à ele sobre meus exames. Compro comida em seu restaurante preferido e espero ele chegar, começo a perceber que talvez eu tenha exagerado nos perfume, droga!
Escuto meticulosamente o som da porta abrir e me levanto ajeitando minhas roupas, sorrio álacre, é inevitável não me contiagiar em sua presença.

— Gerard? — Escuto seu chamado e me prontifico à encontra ele.

Chego ao hall e encontro Frank pendurando seu casaco, ele me fita indiferente e passa por mim beijando minha bochecha.

— Está cheiroso, qual seria o motivo? — Ele segue até a cozinha e o acompanho.

— Eu… acabei passando perfume demais, desculpa. — Digo instintivamente e ele se senta em seu lugar como de costume.

— Senta, vamos jantar. — Ele se ajeita pegando sua faca e garfo.

Me sento de frente para ele, olho a comida em meu prato mas a vontade de comer-lá não me chega. Não sei o que dizer, tenho medo de estragar esse jantar tão raro, eu quero saber como foi o seu dia e quero conversar sobre as coisas que conversávamos antes.

— Como foi o seu dia? — Minha voz saiu mais oscilante do que o normal. Ele me olhou, me deixando maravilhado por sua atenção.

— Foi… normal. E o seu? — Voltou a encarar seu prato enquanto comia.

Pra falar a verdade? Bom, estive pensando em você o dia inteiro e chorando de saudade, minhas pinturas não são criadas mais com amor, e sim por obrigação, meu dia foi como todos os outros.

— O de sempre. — Respondi e tomei coragem para responde algo que ele nem tinha perguntado, sempre é assim. — Eu terminei o quadro.

Frank sorri ameno, me fazendo sorrir junto, seus pequenos gestos me fazem ficar tão feliz.

— Que bom, e como ficou? — Ele pergunta e coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Não sei, acho que está razoável. — Respondo e ele então parece desistir de um assunto.

Antigamente nós mais conversávamos do que comíamos, eu era tão feliz e nem me dava conta. Junto as palavras na minha cabeça formulando modos de abordar sobre esse assunto tão ridículo para ele, a minha doença.

— Farei alguns exames amanhã, na parte da tarde… — Solto e fito seu rosto esperando alguma resposta ou sinal de preocupação. Eu tenho o dom de me iludir.

— Hum, okay. — Ele diz parecendo não prestar atenção. — Você nem encostou na comida.

Se você se pusesse a me escutar, saberia o motivo de eu não comer. Tudo dói, minha garganta está machucada por conta das diversas vezes que vomitei hoje, sinto meu estômago doer a cada dez minutos, eu não sei se amanhã estarei aqui, eu não sei qual será o nosso destino.

— Eu não tenho fome. — Respondo e ele termina o seu prato, comeu tão rapidamente.

— Vou tomar banho. — Ele se levanta e sai da cozinha.

Ele não notou que mudei de perfume, eu já previa.
Me lembro da primeira noite que passamos nessa casa, ela parecia ser mais agitada e alegre. Gritávamos um pelo outro a todo momento, toda vez que eu passava por você, nos beijávamos apaixonadamente, quando o nosso amor tinha fogo.

(...)

Dormimos juntos, mas sempre acordo sozinho. Ter alguém ao seu lado nunca é algo ruim, muito pelo contrário. A coisa que eu mais tinha medo era morrer sozinho e no final, vai acabar exatamente assim.
Me encolho na cama pressionando minha barriga por conta da dor insuportável, isso logo pela manhã, é algo com que eu já me acostumei. Não contenho as minhas lágrimas e começo a chorar, minha vida está desmoronando e eu estou começando a cair com ela. Quando Frank me propôs que morássemos juntos, eu não pensei duas vezes, deixar a minha família foi bem difícil. Eu sinto saudades deles. Se alguém me perguntasse se eu voltaria no tempo pra não ter vindo com ele para Seattle, eu responderia claramente, não.
A dor vai diminuindo e eu deveria parar de chorar agora, mas eu continuo até adormecer novamente, tudo se apaga e com a escuridão vai embora toda a minha dor.

(...)

Acordo com o despertador do meu celular avisando sobre os exames, me levanto apressado e corro até o banheiro. Tomo um rápido banho e me troco depressa, assim que termino, eu sigo para a clínica com um Uber e levo as minhas coisas.
    Confesso que estou sentindo um pequeno medo, eu não quero estar doente e não poder mais ver ele, ver ele é a melhor parte do meu dia. Meus olhos marejam só de pensar, a sala de espera me deixa apreensivo, apenas cadeiras e um filtro com água mas sem copos para usufruir dele.
    A minha família tem a tendência à ter câncer, não um específico, mas ainda sim. Eu sempre pensei que coisas ruins não acontecesse comigo, que era coisa de filme. Ficou pensando no que poderia acontecer se eu morresse, será que Frank ficaria triste ou feliz por finalmente se livrar de mim?
    O chamado do meu nome me faz levantar instantaneamente, sigo para a sala do doutor e realizo os exames pedidos.
    

I Don't Love You - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora