Save Me

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  Eu não sinto essa empolgação há tanto tempo, é surreal.
  Vou testando minhas peças de roupa pra ver com qual fico melhor, me ajudaria muito se ele tivesse me dito onde vamos. Eu fiquei tão animado que até me esqueci de perguntar, será que vamos à uma balada? À um jantar? Deus, eu devo ligar de volta e perguntar?
    Não.
    Ele com certeza está ocupado já que subiu de cargo, ele deve ser muito bom no que faz. Estou orgulhoso dele.
  
     — Foco, Gerard. — Digo à mim mesmo e suspiro, acabo sorrindo bobo.

    Eu deveria me preparar pra algo depois da nossa saída? Nossa, faz tanto tempo desde que não fazemos nada. Sorrio provalmente corando, é inevitável.
    Conto os segundos pra chegar a hora de sua saída do escritório, se eu não me engano, ele sai pelas nove e meia, eu costumava esperar antes de saber sobre seu amante. Começo a me preparar e tomo um demorado banho, canto animado durante a ducha e saio do banheiro saltitante. Me troco colocando a melhor roupa que tenho, passo gel no cabelo ajeitando ele e uso meu perfume mais caro. Estou tão ansioso com essa comemoração, sinceramente eu não sabia que era tão importante pra ele a ponto de ser a pessoa que comemora com ele.
    O horário finalmente chega e me sento no sofá esperando, qualquer movimento eu já me levanto verificando, rio da minha loucura. "Calma, Gerard, ele vai chegar em breve", digo a mim mesmo.
   Dez e meia, uma hora desde que acabou seu turno, ele deve estar chegando e eu aqui roendo as unhas.
   O tempo passa e começo a repensar na minha roupa, será mesmo que está boa? Talvez eu devesse colocar algo mais informal? Não sei se ele vai chegar e tomar banho pra se arrumar de novo ou se vamos direto, eu deveria ter perguntado, droga!
     Escuto o som de um carro se aproximando e ando apressado até a janela da sala que dá vista ao jardim e rua, é apenas o carro do vizinho, sorrio me sentindo idiota por aquela inquietação. Eu só vou sair com meu namorado, não é nada demais.
    Onze e dez. Ele provavelmente vai sair um pouco mais tarde hoje, já que ele deve estar resolvendo as coisas pro novo cargo, eu devo tentar comer alguma coisa?
     Envio uma mensagem perguntando se está tudo bem, começo a me preocupar com a sua demora. Será que aconteceu alguma coisa?
    
    (...)

   Penso em tirar minha roupa, já são uma e trinta e cinco da manhã e ele ainda não apareceu. Começo a ficar com sono e meu estômago começa a se contorcer, aquela dor insuportável tinha que aparecer bem agora?
    Minha visão embaça de tanta dor, me sento em posição fetal pra tentar amenizar a dor, penso em tomar mais um dos remédios do doutor mas não quero atrapalhar a ordem deles. Aos poucos a dor vai passando e abraço uma almofada, ansioso, olho o celular e noto, três horas em ponto.
    É, ele não vai vir. Como eu posso ser tão ingênuo a ponto de pensar que alguém se importa comigo? Que sou especial pra alguém?
   Desabo. Começo a chorar, eu pensei que por essa noite eu dormiria feliz, com o homem que eu amo. Eu não estou conseguindo tirar coragem pra tirar essa roupa, meu perfume não deve estar tão forte quanto antes e meu penteado já deve estar todo bagunçado. Eu não quero ver a minha cara horrível no espelho, tentar imaginar o porquê dele não me amar mais, ficar tentando imaginar como deve ser o rosto e corpo do seu outro garoto. Eu odeio me sentir assim, feio, insuficiente, mas toda vez que eu olho pra ele, sei que nunca vou chegar aos seus pés.
     Escuto a porta abrir e ele entra por ela, nem direciono os olhos pra Frank, só fico ali parado chorando. Ele liga a luz, notando a minha cara de morte.

    — Gee... — Ele diz num tom baixo e arrependido e levanto os olhos à ele. — Me desculpa, ficou me esperando?

     Não deveria? Acho que quando uma pessoa diz pra você esperar ela, é isso que você deve fazer.

    — Meus parabéns pela promoção. — Me levanto desanimado e caminho até o quarto mas ele me impede com suas palavras.

     — Amor, eu não quis te deixar esperando. — Ele caminha até mim. — Acabei bebendo demais com meus colegas e...

     — Eu não sou idiota, Frank. — Digo limpando meu rosto molhado e me viro à ele. — Sei o horário que sai do trabalho, também sei que você tem outra pessoa. — Solto e ele fica perplexo.

     — Eu não...

     — Eu não ligo, tá bem? — Digo já sentindo as lágrimas escorrerem novamente e minha barriga apertar por dentro. — Eu só queria que ficasse comigo pelo menos nos jantares, que conversasse comigo como dois namorados fazem, que me beijasse como fazia antes. Sabe como é ficar o dia inteiro sozinho?

    — Porra, Gee. Eu não sou o culpado disso, eu nunca te disse que precisava ficar sozinho. Você fez as coisas esfriarem, Gerard, eu não tive culpa de nada.

     Era isso, eu fiz as coisas esfriarem entre nós? Eu aceito, eu realmente nunca soube como ser um bom namorado, eu nem sei o que significa.

     — Frank... Você não me acha mais atraente? — Meu choro silencioso me faz tremer, misturado à dor.

      — Eu nunca disse isso. — Ele diz cruzando os braços.

      — Eu não sou tão interessante como seu amante? — Pergunto tendo a visão interrompida pelas lágrimas.

       — Vamos parar de falar sobre isso, não quero falar sobre ele.

       — Então é isso... — Sorrio fraco e começo a chorar novamente seguindo até o banheiro e ele me segue.

      — Gerard, eu não quis dizer aquilo. Podemos sair amanhã. — Ele diz andando atrás de mim.

    Sai de perto de mim, Frank, eu sinto que vou vomitar. Eu não quero que veja como eu estou, não vai querer um estorvo pra sua vida. Por favor, se afasta...
     Encontro o banheiro e corro até a pia vomitando e sentindo a gargantar rasgar com o sangue passando por ali, meu corpo está frágil, eu sinto que vou cair. Viro meu rosto à porta e o encontro parado me olhando, seus olhos arregalados e ao mesmo tempo curiosos sobre mim, fecho a porta me trancando no banheiro.
    Tarde demais, ele vai me deixar.

  (...)

   Saio do banheiro me sentindo mais leve do que nunca, devo ter vomitado meus ossos. As dores tem expandindo pelo meu corpo, tudo passou a doer bastante e os remédios parecem não funcionar. Vou até a cama e vejo Frank virado para o lado oposto e coberto, me deito e me viro à seu oposto também, fecho meus olhos:

    — Você está muito mal, né?  — Sua voz preocupada me desperta.

   — Eu vou ficar bem. — Sussurro de volta.

    — Me desculpa por brigar com você, a culpa não é sua. — Diz.

    — Tudo bem, você estava certo.

    Um silêncio toma conta do quarto novamente e sem respostas, acabo dormindo.
     Tudo água abaixo, eu vou ser enxotado daqui. Eu não posso viver sem você, Frank, por favor, me ame.

   

I Don't Love You - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora