Paradise - Jenlisa

1° Capítulo

── Eu juro por Deus que ainda mato a Lali... - A abertura abrupta da porta de madeira velha do camarim cortou de uma só vez a fala irritada de Chaeyoung, que encarava o relógio, indicando exatos cinco minutos para o horário em que a apresentação da melhor amiga teria início.

── Tô atrasada, eu sei. - A loira exclamou enquanto empurrava a porta com o pé, despindo-se com a maior agilidade que conseguia. ── Vai me ajudar ou só ficar assistindo? - Esbravejou, enquanto recebia o vestido preto justo das mãos da outra. ── A garçonete da noite demorou pra chegar, e você sabe como eles só me liberam depois que ela chega.

Chaeyoung apenas revirou os olhos e pegou a escova de cabelo dentro da primeira gaveta da penteadeira, deslizando-a sobre os fios rebeldes da amiga enquanto a atrasada concentrava-se no costumeiro deliado longo e sexy, que quase sabia fazer de olhos fechados.

── Um dia, Lisa, você vai ser demitida, e nem vai poder reclamar. - Rose resmungou, jogando a escova de volta na gaveta, observando com o canto dos olhos a mesma esfregar os lábios para dar homogeneidade ao batom vermelho sangue.

── Não seja boba, Chae - Um riso irônico escapou dos lábios bem delineados da loira poucos milímetros mais baixa. ── Eles não podem demitir a melhor cantora. - Manoban se contentou de piscar na direção da amiga, jogar sobre os ombros nus a estola preta mais macia do universo e sair a passos curtos e rebolados pelo corredor vazio que dava à entrada traseira do palco.

Por outra porta que dava acesso ao clube lotado, Rose lançou um sinal positivo em direção à Jacob enquanto amarrava de volta o avental de bartender branco com o coração atravessado por uma flecha estampado, a logomarca principal do estabelecimento. Desde o dia em que conheceu aquele lugar, Chaeyoung se questionava como um lugar chamado "Love & Paradise" havia terminado como um clube noturno de jazz, ao invés de uma casa de prostituição.
Seguindo o tão esperado sinal positivo, o responsável pela organização, Jacob, diminuiu as luzes brancas e aumentou as rosadas por todo o grande salão. Quando somada a batida baixa da música escolhida pela "estrela da noite", a atmosfera era mais do que suficiente para causar arrepios em qualquer um.

{...}

── Cada dia que eu acato uma das suas sugestões eu me arrependo um pouco mais, sabia? - Jisoo resmungou baixo enquanto esperava a melhor amiga conversar com a moça loira responsável por aquela parte do bar. ── Você sabe o que aconteceria se algum conhecido nosso ou do seu marido vê a gente aqui? Nós estamos ferradas, Jennie, ferradas.

── Você só precisa respirar um pouco, Sosso. - A outra jovem se virou para a amiga com dois copos de vidro nas mãos. Ambos eram pequenos e cilíndricos, cheios de um líquido transparente que borbulhava levemente; além disso, tinham cubos de gelo, folhas que aparentavam hortelã e dois pequenos mirtilos. ── Bebe. Vai te ajudar a relaxar e curtir o momento.

Jennie entregou o copo de sua mão esquerda à amiga, já dando um gole no que havia permanecido em suas mãos. Ela havia gostado da primeira apresentação, mas não tinha entendido o porquê da fama exuberante daquele lugar. Guiou Jisoo até uma mesa redonda e pequena que estava vazia, não muito longe do palco. Assim que se sentaram, as luzes diminuiram drasticamente e a música voltou a soar; Jennie bebericou mais uma vez do copo, segurando uma careta devido à concentração altíssima da bebida.
Enquanto se segurava para não rir da expressão desconfiada de Jisoo olhando para os lados, Jennie viu a cortina vinho de veludo se abrir lentamente e uma figura loira surgir, ao mesmo tempo em quê a batida melodiosa se tornava mais alta. A coreana mal conseguiu conter um suspiro quando a mulher fechou os olhos e espalmou a mão ao redor do microfone, mexendo a cintura lentamente, acompanhando o ritmo doce de _Love Is a Bitch_ ; em uma mexida de ombro, o xale que cobria seu colo escorregou, mostrando sua clavícula nua.

── Q...Quem é aquela? - Foi tudo que Jennie conseguiu murmurar à mulher ao seu lado, que lhe respondeu com um murmúrio de "não faço ideia"

── Aquela é Lisa. - Uma voz rouca veio da dianteira das duas, seguido de um forte cheiro de charuto mentolado; quando ambas viraram-se para trás, depararam-se com um homem gordo afundado em uma cadeira como a delas, servido de um grande charuto enroscado entre o dedo indicador e o do meio e um copo do que parecia ser whisky, cheio até a metade. ── A asiática mais linda do mundo... Ou talvez a segunda melhor, agora que você apareceu.

A mandíbula de Jisoo caiu alguns centímetros, boquiaberta com a ousadia; ela tentou chacoalhar o antebraço da amiga e sugerir uma mudança de mesa, mas não obteve resposta. Jennie não tinha se quer ouvido a investida falha do homem, estava hipnotizada pela voz melodiosa que emanava do palco a poucos metros - e por sua dona, mesmo que não quisesse admitir -

O nome "Lisa" martelava em sua cabeça.

Apoiando o cotovelo contra a mesa gélida, pousou o queixo na palma da mão e observou a loira destacar o microfone de seu suporte com facilidade, começando a andar pelo palco, na sua direção. Seus passos eram milimetricamente cronometrados e bem na estrofe final, Lisa se encontrava na beirada extrema do palco e ela analisava a plateia; ofegante como sempre. Logo após seus lábios pronunciarem lentamente "and love is a bitch.", ela não hesitou em lançar uma piscadela em direção a plateia - a qual o coração descompassado de Jennie Kim jurava ser o receptor - e virar de costas, voltando lentamente até o apoio do microfone e o encaixando ali, voltando a apenas rebolar no ritmo suave da música até seu encerramento, quando as cortinas vermelhas cobriram seu ser e permitiram um suspiro aliviado.

Na mesa à borda do palco, Jennie havia virado em um só gole o que restava de sua bebida e tocado o braço de sua amiga, pronta para sugerir a volta ao lar, quando a voz ansiosa da outra soou antes.

── Nós podemos ficar um pouco mais? Por favooor! - Jisoo implorou com um biquinho, fazendo a outra apenas sorrir de leve e assentir com a cabeça, agradecendo aos céus pela apresentação ter se encerrado e por nunca mais ter de ver tal loira novamente.