2° Capítulo

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── Eu não sei por que você está tão nervosa. - Ethan riu, sentado no sofá marrom aveludado enquanto Jennie caminhava de um lado para o outro na outra extremidade da mesinha de centro, bem em frente à lareira.

_"Não é você que está indo almoçar com uma sogra que critica cada passo seu."_ foi a primeira coisa que a mulher pensou e cogitou falar, mas sabia que magoaria o marido, afinal, por mais ácida que a senhora pudesse ser consigo, ainda era a mãe querida que nunca havia criticado um só passo do tão amado filho. Ao contrário, apenas lançou à Ethan um sorrisinho nervoso enquanto ajeitava a jaqueta jeans clara nos braços; o outono londrino começava a dar as caras cada dia mais e isso intristecia profundamente a morena, que sempre fora fã de calor.
Jennie sentiu um arrepio na espinha quando ouviu a tão conhecida buzina do Omega CD soar do lado de fora da casa, o que significava que sua carona para o abate estava estacionada e ela sabia bem o quanto Elizabeth odiava esperar. Lançou ao homem sentado outro sorriso nervoso, apontando com a cabeça para a porta. A morena tinha certeza que um grande "socorro" estava estampado no meio de sua testa, e torcia para que ele ficasse pelo menos um pouco menos invisível até a hora de entrar no carro.

── Você vai se dar bem. - O moreno de belos e profundos olhos azuis sorriu, depositando um selinho suave nos lábios da coreana, que apenas assentiu com a cabeça, antes de virar as costas e sair pela porta frontal.

Já do lado de fora, Jennie fixou os olhos na única figura que destoava da visão pacífica do jardim frontal, agora sem flores devido ao frio. Bem na entrada, o tão conhecido Ômega preto fosco estava estacionado; era exatamente o mesmo modelo que Ethan havia ganhado de presente de casamento dos pais, só divergindo na cor, já que o do casal mais jovem era vinho.
O motorista passou bem ao lado da morena, dando-lhe um curto aceno de cabeça como cumprimento e seguindo caminho até o interior da casa. Elizabeth nunca tinha dirigido. Jennie no fundo entendia, afinal, a mulher tinha crescido em uma época muito menos liberal para as mulheres e o ato de segurar um volante havia sido uma função explicitamente masculina até pouco tempo atrás. A coreana, ao contrário da inglesa, era apaixonada pela liberdada entregue pelos carros e havia dado as ordens por si só que dirigiria até o tal restaurante.

── Boa tarde, srta. Moore. - Lançou-lhe um sorrisinho leve, enquanto se sentava no banco do motorista e girava a chave na ignição.

── Jennie... - Uma menção apática ao nome da nora foi tudo que escapou dos lábios da mulher, seguido por uma análise milimétrica do vestuário e apresentação da mesma. Elizabeth sempre fora uma mulher extravagante, abusando de jóias gloriosas e vestidos justos demais para sua idade, ao passo que Jennie preferira sempre as jaquetas, calças e vestidos mais despojados.

Não pode notar um sorriso discreto surgir nos lábios da sogra quando os olhos cor de céu capturaram a visão do colar de diamantes preso ao seu pescoço. Havia sido um presente do marido, que a mesma insistia em usar em ocasiões especiais; e aquela definitivamente era uma.
O caminho até o restaurante havia sido calmo e silencioso. Jennie estranhava constatemente o trânsito central da cidade se tornando cada dia mais turbulento, mas forçava-se sempre para não perder as belezas urbanas pelo caminho, admirando construções como o Big Ben e o Green Park. Elizabeth mantinha os olhos fixos no painel do carro, murmurando baixinho maldições à empregada sempre que encontrava tufos de poeira entre os filetes do rádio.

Quando finalmente entregou as chaves do carro ao manobrista é que a asiática pôde contemplar a beleza externa do estabelecimento. Jennie chutaria tranquilamente que as paredes tinham mais de 5 metros de altura, adornados por janelas de madeira escura e encerada reluzente, um caminho de pedras levava até uma porta dupla de vidro, onde uma recepcionista muito bem vestida aguardava os clientes com um caderno de capa preta lisa.

── Mesa para dois. Rezerva no nome de Elizabeth Moore. - A voz baixa e firme da mulher soou e pelo sorrisinho nos lábios da recepcionista, aquela estava longe de ser a primeira visita de Elizabeth ao estabelecimento.

Jennie e sua sogra foram gentilmente levadas em direção à uma mesa pequena na área central; uma passada de olho pelos vizinhos de mesa indicavam uma "vizinhança" de membros da elite, tão impotentes quanto ambas, mesmo a coreana se negando a aceitar tal título prepotente.

Dois cardápios foram delicadamente deixados sobre a mesa por mãos ágeis de dedos esguios. Estendendo a mão, a morena segurou na base da taça de água previamente servida e bebericou de leve, levando-a de volta para o tecido branco.

── Basta me chamarem quando estiverem escolhido seus pedidos. - Uma voz soou acima das cabeças das mulheres focadas em seus cardápios.

Uma voz que martelara na cabeça de Jennie como uma memória não muito distante; ela sentia que aquela voz não lhe era estranha, mesmo nunca tendo visitado o restaurante antes.
Quando largou o amontoado de nomes de pratos sobre a mesa e ergueu seus olhos; agradeceu aos céus por já ter engolido sua bebida ou definitivamente teria se engasgado. Seus olhos fixaram-se no mesmo par de olhos negros e profundos, no mesmo cabelo dourado e na mesma boca carnuda - mesmo que dessa vez não tão vermelha - da cantora responsável por roubar seus pensamentos e invadir seus sonhos na noite anterior. Mas, dessa vez, não havia maquiagem ou estolas de plumas, e sim uma camisa social branca com os dois primeiros botões abertos e uma gravata preta.

Paradise  - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora