── Ethan, pelo amor de Deus, eu já disse que isso está fora de cogitação. – Jennie permitiu que sua voz soasse mais alta pelo cômodo. Estava sentada na beirada da cama de casal, chacoalhando ansiosamente os pés que apenas roçavam o chão devido a pouca altura.
── Por quê? – Ethan exclamou, sem parar de andar de um lado para o outro em frente à cama, sem se dar ao trabalho de olhar na direção da esposa.
── Porque eu não quero ter um filho. Não agora. Não com vinte anos de idade! – Kim respondeu como se aquela fosse a pergunta mais estúpida do universo, e, em sua cabeça, realmente era.
── Qual o problema nisso? Minha mãe me teve com vinte anos de idade.
── É. A trinta anos atrás. – Jennie revirou os olhos quando viu o marido fazer o mesmo. ── Me pergunte novamente daqui uns dez anos.
── Eu não posso ser pai com quarenta anos, Jennie. E essa não é uma decisão só sua. – Ethan caminhou em direção a cama, parando frente a frente com a esposa ainda sentada e a encarando de cima ── Esse é seu único papel como mulher, você não pode nega-lo para sempre.
Irritada e ao mesmo tempo triste, Kim fez questão de se colocar de pé entre o espaço de centímetros que o marido lhe dava e o encarar de cabeça erguida, diminuindo para pouco mais de dez centímetros a diferença de tamanho entre as duas cabeças. Tinha vontade de xinga-lo até as próximas gerações. Achava o maior dos absurdos ser rebaixada a uma mera parideira como ele havia acabado de fazer
── Então comece a procurar outra mãe. – As palavras foram cuspidas na direção do homem moreno. A mulher se desvencilhou do corpo alto e forte para agarrar a bolsa posicionada sobre a escrivaninha e sair pisando alto do quarto.
Ethan gritava por Jennie no andar de cima, chamando-a de volta para resolver a discussão mal encerrada. Ela, por outro lado, só era capaz de ouvir o próprio coração acelerado e os próprios passos altos e barulhentos pela escada do casarão construído no século passado.
Depois de uma checada rápida sobre a mesa central da sala de jantares e pelo escritório, constatou a ausência das chaves de Ômega em posição capturável; provavelmente estava atracado ao passante lateral da calça de Moore, como sempre._”Ótimo.”_ Pensou, irritada, enquanto saia pela porta ajeitando a blusa de frio, pronta para uma longa caminhada. Para sua sorte, Pretty Lake – O bairro dos casarões antigos, das famílias nobres donas de empresas ou indústrias – ficava próximo ao centro velho de Londres, aquele com mais praças e restaurantes do que prédios e centros tecnológicos.
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Jennie sentia a brisa fresca do outono roçar sua face como um carinho singelo. Suas bochechas ainda levemente úmidas devido às lágrimas recém escorridas deixavam as maçãs do rosto gélidas ao toque do vento. Ela estava irritada, triste e decepcionada ao mesmo tempo com tudo que havia acontecido; a convivência quase diária com os sogros tornava a coexistência com Ethan cada dia mais difícil e implantava nele cada dia mais doses morais dos anos 60 e 70 as quais ela raramente concordava. Não conseguia entender a dificuldade que todos tinham em aceitar suas decisões, questionando-as como se ela não passasse de uma criança ingênua ou uma adolescente revoltada que fugia de responsabilidades intrínsecas.
Mesmo de olhos fechados, conseguira ouvir o barulho da madeira abaixo de seu corpo ranger, indicando que alguma alma viva sem um pingo de empatia ou noções de espaço pessoal havia sentado ao seu lado no banco. Não emitiu nenhum som, esperando que a pessoa se tocasse e lhe deixasse em paz.── Cada dia eu tenho mais certeza que você não consegue fugir de mim por muito tempo. – A voz ridiculamente conhecida de Lalisa soou mais perto de sua orelha esquerda do que deveria.
── Que tipo de pecado mortal eu cometi para te encontrar em todo lugar que tento ir? – A voz e a frase nada amigáveis escaparam em um tom baixo dos lábios da morena.
── Wow... – Lisa não conseguiu conter uma risada surpresa. Não tinha tido chance de imaginar um ser doce como Jennie lançando lhe tão rude sentença. ── O que houve? Seu humor estava bem melhor uma semana atrás.
Percebendo a terrível injustiça que havia cometido, afundou o rosto ainda de olhos fechados nas palmas das mãos, soltando um suspiro pesaroso. Muitas coisas passavam por sua cabeça, inclusive a vontade descomunal de descontar no causador de sua raiva toda ela; Lisa não tinha absolutamente nada a ver com aquela situação e acabara de receber gratuitamente todo o rancor acumulado.
── Desculpa. – A voz anasalada pelo choro e abafada pelas mãos sobre a boca soou mais baixa do que o calculado. Jennie esfregara as mãos nos olhos no intuito de arrancar-lhe as lágrimas, mas só os deixou mais irritados, vermelhos e inchados.
Os olhos atentos de Lisa analisavam cada detalhe do rosto da morena. Sua expressão perguntava silenciosamente o que havia acontecido, num misto de absurda curiosidade e medo, provavelmente de tocar uma ferida aberta.
── Eu tive uma discussão... Com meu marido – Ela sentia como se um peso gigantesco estivesse sendo lentamente tirado de suas costas. Geralmente só Jisoo ouvia seus longos desabafos, mas por algum motivo curioso, sentia que podia contar com Lisa. ── Ele... Ele quer ... – Com a palavra “gravidez” atravessada na garganta, Jennie apoiou a mão horizontalmente abaixo dos seios e fez um movimento de semicírculo acima do ventre, torcendo para que a mensagem fosse corretamente interpretada.
── Quantos anos você tem?
── Completo vinte em algumas semanas.
O queixo de Lisa caiu na mais pura indignação. Jennie só conseguiu consentir fracamente com a cabeça
── Eu disse que não queria isso e nós discutimos. Ele disse que a mãe dele o teve com essa idade, mas isso foi há trinta anos.
Lalisa parou por alguns instantes, reorganizando na cabeça a enorme quantidade de novas informações que havia recebido.
A primeira delas que rebatia bruscamente em sua cabeça era essa história de gravidez. A loira não conseguia raciocinar que tipo de lunático esperava que uma ainda adolescente de dezenove anos tivesse um filho; talvez alguém mentalmente preso em 1950 ao invés de 1990. Acreditava veementemente que Jennie deveria brigar por isso do modo que aparentemente o fazia, mas não era fã da ideia de vê-la mais vezes tão triste.
A segunda era a palavra marido. Ela estava claramente interessada na morena à sua esquerda, o suficiente para que todos menos a própria se tocassem facilmente disso, mas, agora as coisas tomavam um rumo diferente. Talvez, em alguma realidade paralela, as duas fossem feitas para acabarem juntas, mas, não nessa. Lisa entendia que havia trombado com Jennie suficientemente tarde para que outra pessoa já tivesse chego antes e prometera para si mesma respeitar a rígida premissa contra traições a qual ela e Chaeyoung tinham estabelecido desde os 13 anos, quando começaram a sentir pequenas atrações por colegas de classe.Mas... Nutrir uma amizade com a mulher não mataria ninguém.
Na verdade, provavelmente mataria a ela mesma. Uma morte lenta e dolorosa, mas o mesmo tempo inevitável.
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Paradise - Jenlisa
Romantizm"Você está a uma decisão de distância de uma vida completamente diferente." Era uma frase que sua mãe sempre lhe dizia, mas, Jennie nunca imaginara que apenas uma música e sua cantora mudariam sua vida para sempre.