── Eu não sei como você ainda não congelou com esses vestidinhos curtos - Chaeyoung resmungou, esfregando os próprios braços cobertos pelo moletom flanelado.
── Sinceramente? Eu também não. - Lalisa gargalhou, ajeitando o casaco sobre os ombros enquanto esfregava com a outra mão o algodão molhado pelos olhos para se livrar da maquiagem preta intensa.
── Você foi ótima hoje, Lisa. Como sempre. - A voz intensa mas baixa soou logo após o ranger melancólico da porta de madeira do camarim sendo aberta.
As duas mulheres viraram-se na direção da voz. Chae revirou os olhos, deixando bem claro o pouco caso que fazia do homem que jazia junto à porta, ocupando toda sua largura. Lisa manteve-se sem expressão, limpando os olhos.
── Eu gostaria de falar com você. A sós. - Timothy B.O. Sanderson deu uns passos para dentro do cômodo, apontando com a cabeça suavemente para Lisa, pelo reflexo do espelho.
── Dez minutos e eu ligo pra polícia. - Rose sussurou, alto o suficiente para que ele escutasse, deu um beijo estalado na bochecha da amiga e saiu andando para fora do camarim, deixando a porta aberta.
Timothy passou a se aproximar mais e o cheiro que infestou o camarim causou nauseas na mulher. Charuto mentolado e whisky caro não eram só os principais amores de Tim, eram seu odor característico também. Chae, por exemplo, de acordo com Lisa, cheirava suavemente à vodka com limão e esse cheiro combinava perfeitamente com sua personalidade; Jennie cheirava a JeanPaul Gaultier.
── Eu quero que você seja minha dama da noite. - Sanderson continuara com sua mania irritante de falar em enigmas e Lalisa torceu o nariz, não gostando da interpretação que sua mente criou. ── Seja a atração principal na minha festa. Amanhã, às oito em ponto, na minha casa.
Um sorriso surgiu nos lábios de Lalisa. Sentando-se de frente ao homem, cruzou os braços e fez um sinal com a cabeça para que ele continuasse falando.
── Faça eles me amarem por terem sido convidados. Faça eles te amarem por estar lá - Tim apoiou a mão sobre o cabideiro vazio ao lado da porta. ── Dê o seu melhor, deixe-os excitados como faz com a platéia desse lugar medíocre diariamente. Só, por favor, não termine a noite se agarrando com algum convidado na cozinha.
Uma gargalhada histérica de Lisa rompeu o silêncio que fazia desde que o homem havia adentrado aos seus aposentos.
── Em primeiro lugar, eu nunca faria isso. Em segundo, eu estou dentro; você sabe meu preço, de qualquer forma.
A mulher agarrou a alça da mochila preta de couro e a jogou sobre as costas, saindo e deixando o homem sozinho lá dentro, que saiu logo em seguida; trancou a porta e andou em direção ao saguão ainda lotado atrás de Rose.
── Ele quer que eu cante numa festa amanhã. - Foi tudo que Lisa murmurou quando parou ao lado da melhor amiga. Rose revirou os olhos e agarrou a mão da outra, entrelaçando os dedos e saindo rumo à porta.
── Um dia esse cara ainda vai te foder, e tudo que eu vou fazer é rir e dizer que eu avisei. -
Lalisa freou os passos bruscamente, lançando à Chaeyoung um olhar incrédulo e ao mesmo tempo enjoado.── Okay. Não. Eca. - Chae chacoalhou a cabeça, espantando o broto de pensamentos nojentos que tentavam surgir. ── Não era desse tipo de foder que eu estava me referindo. Eca.
{...}
Jennie estava parada ao lado de Ethan, bem no meio da luxuosa sala de estar de Timothy, enquanto analisava curiosamente cada um dos membros mentalmente. Todo homem vestia terno, cada um de uma marca mais cara e exótica que a outra, quase que numa gigantesca competição silenciosa a qual o próprio marido havia se infiltrado; era ainda pior com as mulheres, que apostavam grifes de vestidos, saltos, bolsas e jóias. Ela nunca fora desse tipo, mas fazia um esforço e consultava sua fiel escudeira Charlotte - a única moradora de Pretty Lake a qual Jennie considerava uma amiga - para conseguir os melhores resultados. A família LaBouff era tão rica quanto os Moore, e a loirinha com alguns parafusos a menos tinha se casado com um príncipe distante do trono de uma ilhazinha latina cujo nome ela não se recordava; Jennie nunca entendeu o que fez um nobre abandonar sua terra natal e ir para tão longe, mas sempre aprendeu a não questionar as loucuras ocasionadas pelo amor.
"Juntando todos daqui, acho que daria pra comprar a Europa todinha." A coreana pensou, tendo de segurar o impulso de rir baixinho.
── Você ouviu? – A voz de Ethan tirou-a de seus devaneios e a mão do homem enlaçou sua cintura, trazendo-a para mais perto. ── Tim disse que você vai gostar da atração principal.
Sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo, a mulher se conteve à lançar um sorrisinho ao homem. Jennie tinha a impressão longínqua de conhecer a figura excêntrica que fedia a charutos e pesava muitos quilos que estava parada como uma estátua em sua frente, mas sua memória curta não lhe permitia grandes e ou detalhadas análises. Ela fez sinal para que um dos garçons se aproximasse e pegou uma taça de champanhe, bebendo-a lentamente.
A escadaria que levava ao segundo andar da casa se posicionava graciosamente no extremo noroeste da sala de estar e bem aos seus pés havia sido montado um palco, onde um baixista, uma pianista e um baterista dividiam espaço, além do apoio de microfone posicionado no centro da composição. Os três se agitaram e começaram a se preparar, o que fez com que todos os convidados se aglomerassem ao seu redor. Jennie estava bem ao lado de Ethan, na segunda fileira mais próxima aos artistas.A música então começou a tocar, baixa e sensual, inundando o cômodo que se silenciara para apreciar. A atenção de todos fora atraída para o topo da escada, onde uma figura descia lentamente, com saltos tilintando contra o mármore. A primeira frase de “Put a Spell On You” de Nina Simone irradiou na tão bela e conhecida voz no exato momento em que Lisa entrava no campo de visão perfeito de Jennie; a morena praguejava baixinho a capacidade invencível da loira de estar cada vez mais bonita, a medida que se viam com mais frequência, o vestido preto de alcinhas marcava o corpo definido sem uma gordurinha fora do lugar; o batom vermelho delineava os lábios perfeitos e o sorriso que eles esboçavam deixava claro o apreço da tailandesa por toda aquela atenção. Lisa continuou descendo as escadas, até se posicionar em frente ao suporte e encaixar o microfone, e, nesse momento, seus olhos atentos captaram a feição fascinada de Jennie Kim entre sua adorada plateia e um sorriso ainda mais descarado surgiu nos lábios escarlate.
Sabendo que se tratava de uma oportunidade inesquecível, aproveitou-a para se rebolar mais do que normalmente fazia e segurar as notas longas o quanto conseguisse, adicionando nas mesmas ares sensuais. Seus olhos faziam longas viagens durante os solos instrumentais: Passeavam calmamente por toda plateia e cravavam-se na morena por incontáveis segundos, lendo cada expressão com as orbes negras profundas.Kim, do outro lado do palco, só conseguia manter-se respirando, segurando a taça de champanhe com um pouco mais de força do que deveria e se sentindo profundamente irritada com todos os suspiros que ouvia da plateia. Sentia que poderia ouvir Lalisa cantando para sempre e a facilidade com que a loira mexia com seus sentimentos a irritava. Se lembrou então de onde conhecia a figura de Timothy; era o homem gordo que lhe dissera o nome da loira no dia em que a conhecera, no bar de jazz, cerca de tres semanas atrás. Antes mesmo de a apresentação terminar, Jennie se espremeu entre os outros convidados para se afastar do palco. Precisava de ar, água e distância, sendo o último o mais urgente de todos.
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Paradise - Jenlisa
Romance"Você está a uma decisão de distância de uma vida completamente diferente." Era uma frase que sua mãe sempre lhe dizia, mas, Jennie nunca imaginara que apenas uma música e sua cantora mudariam sua vida para sempre.