10° Capítulo

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O fim de semana chegara mais uma vez, completando uma semana desde a luxuosa festa de Timothy e todos os incidentes que nela haviam acontecido ainda martelavam na cabeça de Jennie.
Ela estava irritada com ao fato de Lisa ser bela ao ponto de afunda-la em uma transe psíquica apenas observando-a de longe; odiava o fato de apenas uma música e um toque terem sido o suficiente para fazê-la desligar todo o raciocínio e ceder a instintos animalescos nunca antes experimentados; odiava também aquela garçonete ruiva por ter destruído, sem dó nem piedade, sua única chance de realmente fazer alguma coisa com Lisa, já que revê-la estava oficialmente fora dos planos de Jennie; detestara a capacidade da loira de afundar todo o desejo e culpa no fundo da alma e sair saltitantemente pela cozinha como se nada estivesse acontecendo, e odiou ainda mais a ousadia da mesma em ir conversar com Ethan e até se convidar para um jantar, ignorando com muita facilidade o que quase fizeram na cozinha. Ela imaginava que aquela não era a primeira enrascada do tipo em que a outra se metia e estava redondamente correta.

Mas, acima de tudo, Jennie se odiava por não conseguir tirar Lalisa da cabeça.

Por alguma peça de mal gosto que o destino insistia em lhe pregar, qualquer coisa que tentou fazer durante todos os dias lhe lembrava Lisa.
Levantando do sofá, tão inquieta quanto passou todos os dias, caminhou a passos curtos e rápidos até a cozinha. Praquejava baixinho o silêncio desesperador da casa; eram sete da noite e todos os empregados já haviam ido embora, mas Ethan não havia chego do serviço.
Serviu um copo de água e apoiou a mão na pia, bebendo lentamente até fechar os olhos num susto, soltando um suspiro quase dolorido quando a imagem de Lisa pressionando sua cintura surgiu em sua cabeça, numa nitidez que daria ao cinema inveja.

Jennie largou o copo meio cheio sobre a pia de mármore e saiu quase correndo do cômodo.
Completamente entediada, foi em direção ao escritório de Ethan, interessada na bela biblioteca que o cômodo ostentava e correu os olhos por toda a fileira que ficava na altura de seu rosto quando uma capa azul pastel escrito "Lolita" em letras de mão lhe chamou a atenção. Sempre achara a história daquele livro absurdamente errada e julgara profundamente o marido quando o adquiriu; mas, estava afundada em coisas que considerava errada até poucos dias atrás. Tomando cuidado para não derrubar mais nenhum, retirou o exemplar russo e se jogou sobre a poltrona de couro onde costumava ler, abrindo o livro na primeira página.

Aquele era um dos únicos que a fã fissurada por literatura nunca havia lido

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma."

Uma sensação esquisita tomou conta do peito da mulher, uma inquietação diferente de todas que já havia sentido; era uma espécie de identificação dolorosa.

"Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu-da-boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo.Li.Ta."

Quando o último "Ta" foi pronunciado baixinho por Jennie, que se aventurou em fazer a viagem de três passos ao céu da boca como sugerido pelo livro, a realidade atingiu-a como um raio. Ela sempre foi fã de gramática e achava magnífico como a fonética incrementava a literatura, só não achava tão legal a recém descoberta: "Lalisa" era pronunciado quase da mesma maneira.

Um arrepio percorreu a espinha da morena, que fechou o livro com mais força do que o necessário, largando-a por cima da escrivaninha desocupada.
Ela estava começando a perceber que, talvez, ignorar tudo que tinha acontecido e ainda aconteciam em sua cabeça não era a melhor opção; mas, talvez, olhar diretamente naqueles olhos brilhantes e mandar sua dona se afastar para sempre colocaria um ponto final nessa confusão, ao invés da vírgula que Jennie havia ali posicionado.
A mulher morena correu escadaria acima no casarão vazio em direção ao quarto, discando no telefone fixo o número de sua melhor amiga.

Paradise  - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora