A chegada

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Na foto acima, datada de 1907, é possível observar a Estação Rio Grande - São Paulo que seria renomeada mais tarde para Estação Saudade

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Na foto acima, datada de 1907, é possível observar a Estação Rio Grande - São Paulo que seria renomeada mais tarde para Estação Saudade. Antes dela operava a Estação Ponta Grossa, em virtude de ser considerada pequena para o desembargue de passageiros fora construída a nova estação sendo considerada uma estação de primeira não perdendo em nada para as grandes estações de sua época.

Os olhos de Lorenzo abriram vagarosamente depois de dar mais um leve cochilo, a sua frente continuava Maria Antonieta que agora parecia sentir o cansaço causado pela longa viagem que logo devia chegar ao fim. A jovem ainda tentara trocar mais algumas palavras com ele, que apenas a respondia, gesto que a deixava ainda mais irritada, demonstrando claramente que não fazia gosto em render a conversa. De certo modo algo em Lorenzo chamara a atenção de Maria Antonieta, algo imotivado de razão, e a jovem freudiana sabia muito bem que aquilo se devia ao desejo seja pelo poder ou pelo sexo, afinal era isso que movia todo ser humano segundo Freud. Desde que chegara ao Brasil não havia encontrado homens pelos quais se interessasse, todos pareciam obtusos e sem qualquer talento, estavam abaixo de sua estirpe, pelo menos em sua modesta opinião, até então não encontrara nenhuma presa que sentisse prazer em domina-la e o que ela mais odiava era aqueles que se arrastavam aos seus pés suplicando por sua atenção. E agora, de repente, logo quando nada mais esperava, no fim da estação que a vida a levara aparecera uma presa desse porte, poderia ser o destino? Seria se ela acreditasse no destino, ao contrário ela acreditava apenas no caos, que as coisas aconteciam na vida simplesmente por acontecer sendo tudo ao fruto do acaso, das possibilidades, dos caminhos que na vida tomara, e que a sua parte nietzschiana dizia que aquele exato momento se repetiria eternamente em virtude da infinidade de possibilidades existentes, ou seja, os dois estavam condenados a se encontrarem eternamente até os fins dos tempos, de alguma forma isso não seria o mesmo que o destino? Maria Antonieta adorava esses tipos de pensamentos e principalmente suas contradições, no entanto, para compartilha-las necessitava de alguém inteligente, letrado e que lhe atraísse de todas as formas possíveis seja pelo aspecto de sua fisionomia a sua personalidade. Por tudo isso ela mantinha em sua mente o desejo de dominação e que de qualquer forma deveria retomar a dominação sobre aquele ser pelo simples prazer de dominá-lo e que o simples fato dele não demonstrar interesse por sua pessoa era uma ofensa a sua divindade, ofendia a toda humanidade e aos próprios deuses, como poderia menosprezar a beleza de Helena combinada a sensualidade de Afrodite? Como poderia ignorar suas palavras que se comparavam aos sonetos de Camões combinadas as escritas de Shakespeare? Como poderia não desejar seus lábios de mel de Iracema que contemplavam ao Beijo Eterno de Castro Alves?

- Vive só para mim, só para minha vida, só para o meu amor. – sussurrou Maria Antonieta para o jovem alto, magro, de rosto fino, cabelos levemente aparados, de olhos negros, de beleza sui generis, que rapidamente levou reconheceu as palavras do poeta Castro Alves que saiu docemente daquela boca. No fundo ele se perguntava qual era o intento da jovem, nada fazia sentido a não ser de fazer suas vontades por mero gosto. Ou seria testa-lo como fizera com quantos outros antes? E de forma involuntária declamou o poema Tristesse de Alfred de Musset:

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