Estação Saudade

Chanson

Chanson era um estilo de música popular francesa que ganhou o mundo, se transformando em verdadeiros hinos durante a 1ª Guerra Mundial. Estilo esse que influenciaria a música popular brasileira. É importante evidenciar que na virada do século XIX para o XX a cultura e a literatura francesa de forma geral exercia a hegemonia no Brasil.

O jovem médico havia acabado de chegar no local, o lugar da recepção fora o próprio casarão do Coronel Santiago que ficava na parte mais alta da cidade a poucos metros da Matriz de Sant'ana. A matriz fora inaugurada no ano de 1910, para construção fora escolhido o italiano Nicolau Ferigotti que escolheu a arquitetura eclética, apesar de não ser novidade o estilo em questão ia pela contramão, já que a arquitetura mais usada era a greco-romana nas igrejas ocidentais. O projeto foi aprovado e o resultado foi uma obra belíssima. Em volta da catedral residia a oligarquia pontagrossense e hoje alguns desses estavam prestes a conhecer Lorenzo ou melhor Giuseppe Martino Ferrati. A decisão de convidá-lo partiu da impetuosa Maria Antonieta que exigiu a do "doutorzinho". Claro que o coronel não estava a fim de atender a sua vontade, muito pelo contrário, Santiago não topava com os imigrantes, esse descendia diretamente de portugueses e como dito atrás o mesmo fora um dia um dos coronéis do café, na sua visão não existia muita diferença entre os italianos daqueles que um dia foram escravos. E essa visão não era apenas dele, mas compartilhada por grande parte da elite pontagrossense, alguns até relevavam os italianos, mas já quanto aos ucranianos, russos, alemães e outros eram tidos como a pior espécie possível. Quando o governo iniciou a propaganda sobre a imigração europeia os relatava como pessoas trabalhadoras e que a miscigenação salvaria o Brasil. Contudo, ao chegar por aqui a impressão que a elite pontagrossense sobre esses homens  fora outra bem diferente, fruto principalmente de seus preconceitos pessoais e principalmente  pelo choque entre essa nova classe que surgia e começava a ganhar os espaços que antes eram apenas preenchidos por essa elite que por aqui dava as cartas. Esse povo que chegara da Europa andava junto com os descendentes de escravos sem pudor nenhum, o que chocava os olhos e era inadmissível para eles. Ainda para piorar gostavam de fazer festas, até mesmo a alegria deles era visto com maus olhos, e não demorou para serem tidos como bêbados e vadios, nesse ponto eles valorizavam mais os descendentes de escravos e os tidos como mestiços, pois pelo menos esses eram bons para o trabalho. Na verdade, Ponta Grossa nunca teve sua economia movida por escravos, já que antigamente a maioria das propriedades eram voltadas para a pecuária, para o gado de corte que abasteceria Minas Gerais e São Paulo, servia como espécie de corrimão e parada obrigatória para os tropeiros que por aqui passavam, esses sim moveram a economia pontagrossense por décadas. O fato que para pecuária não é necessário muita mão de obra e os cuidados eram feitos pelos próprios familiares ou por empregados remunerados. Claro que o preconceito contra os descendentes de escravos existia, mas nesse período havia um preconceito ainda maior contra aqueles que eram chamados de forma depreciativa por "polacos". E diante de tudo isso aqueles homens não desejavam a compartilhar o mesmo teto que com um "italianinho", apesar da ironia ser que foi justamente um desses que construíra a igreja que tanto se orgulhavam, mas como qualquer brasileiro bem sabe as coisas por aqui sempre foram desconexas e sem muito sentido, já que uma coisa é construir a sua igreja outra é comungar do pão e do vinho com tal pessoa. Para Maria Antonieta tudo aquilo era besteira sem maior importância e não havia quem conseguisse a convencer do contrário, por fim disse que apenas participaria da recepção se o dito cujo estivesse presente, tal situação seria um escândalo e o coronel escolhera entre os males o que julgara ser o menor.