Os maquinistas faziam a troca das locomotivas a vapor, enquanto o jovem Lorenzo acompanhava de longe o trabalho, não porque estivesse muito interessado e sim por não ter mais nada a fazer naquele momento. O trem se encontrava parado na Estação de Itararé, a qual carregava em seu nome o de sua própria cidade, a estação estava impecável, uma vez que, havia sido a pouco tempo inaugurada. O apito da Maria Fumaça tocou em alto e bom som sinalizando que a troca havia sido realizada e logo a viagem continuaria, motivo que fez com que Lorenzo retornasse para o seu vagão, o mesmo viajava na primeira classe num vagão amplo e confortável de dezesseis lugares. Ao retornar notou que uma senhorita agora ocupava a poltrona em frente a sua, uma jovem com a qual já tinha trocado várias olhadelas. Certamente ela chamara a sua atenção em virtude de sua beleza e por cada movimento seu que denunciava pertencer a nata da sociedade brasileira e assim desfrutar de tudo o que a Belle Époque dispunha. A moça vestia um vestido cor bege, com várias flores bordadas sobre ele, e por acima uma blusa marrom com gola em "v" que deixava um pouco de sua pele a mostra, ainda usava um pequeno chapéu marrom claro com uma rosa bordado do seu lado direito, possuía um belo rosto, tinha olhos castanhos claros, pele bem clara e cabelos cacheados escuros, os quais trazia preso. Ao se aproximar da jovem Lorenzo ergueu o seu chapéu em sinal de cumprimento e disse:
- Com licença senhorita. – ela olhou em seus olhos e deu apenas um sorriso e fez um gesto com a cabeça retribuindo o cumprimento, foi quando Lorenzo percebeu que a jovem ali não sentara enganada pensando que ele teria descido naquela estação e assim o lugar estaria vago. De qualquer forma por mais que Lorenzo pensasse em como iniciar alguma conversa com ela não conseguia, além do mais naquele momento os apitos da locomotiva ficaram mais contínuos o que abafaria qualquer fala sua.
A jovem trouxe as mãos um livro cujo título estava em francês, não parecia ser muito volumoso, devia ter menos de cem páginas, puxou vagarosamente o marcador, uma fina fita vermelha, e retomou a sua leitura. Lorenzo agora tinha bem a sua frente a jovem que tanto olhara durante a viagem, porém agora já não conseguia a olhar sem se sentir incomodado afinal ela estava frente a frente com ele. Se por um momento ficou contente de a ver diante dos seus olhos, agora já não estava mais, pois se encontrava completamente embaraçado e sem reação diante de sua presença. Lorenzo nunca fora um jovem tímido, ainda esbanjava confiança sendo capaz de construir relações até mesmo na roda carioca e no período que esteve em São Paulo. Contudo, agora sem saber os motivos havia sido tomado pelo medo, sentia a boca seca e um nervosismo incomum. Ainda a cada minuto que passava se sentia cada vez mais sufocado. Quando já não se aguentava mais sentiu um leve estalo na cabeça, sorriu para si mesmo como se tivesse lembrado de algo e por fim seu espírito começou a se acalmar. A jovem ao ver aquele sorriso em plano de fundo fechou o livro e notou que o rapaz estava com os seus pensamentos longe dali, pressentindo que a conversa não se iniciaria tomou ela mesmo a dianteira da situação.
- Estas indo para aonde? – disse fechando o livro cuidadosamente e tomando o cuidado de marcar exatamente o lugar no qual tinha parado a sua leitura.
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Estação Saudade
Tarihi KurguEstação Saudade narra a história de um Lorenzo Ferrati um jovem médico que se encontra em confronto consigo mesmo, onde terá que se decidir entre o amor ou a vingança. A história se inicia no ano de 1913, apesar de ter algumas passagens pela cidade...