Rio de Janeiro

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*Caricatura publicada na revista ilustrada Malho em 1904, nela retrata a derrocada dos militares da Academia Militar da Praia Vermelha, a maioria desses eram alunos, que haviam aderido ao movimento revoltoso na famosa Revolta das Vacinas

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*Caricatura publicada na revista ilustrada Malho em 1904, nela retrata a derrocada dos militares da Academia Militar da Praia Vermelha, a maioria desses eram alunos, que haviam aderido ao movimento revoltoso na famosa Revolta das Vacinas.

A senhora Carmen era viúva de um capitão do exército que morrera na Guerra do Paraguai, depois desse fato mesmo ainda jovem, na época que seu marido viria a óbito, resolveu nunca mais se casar mesmo tendo surgido algumas oportunidades. A questão que aquela senhorinha sempre teve uma espécie de idolatria pelo marido sendo comum encontrar pela sua casa quadros do capitão, o seu preferido era o do capitão montado num cavalo fazendo pose com a espada desembainhada, o finado era alto, tinha um bigode e sobrancelhas grandes, olhos cinzas e um olhar duro como estivesse a repreender quem admirava aquela tela, a expressão certamente devia ser devido a vida castrense ou quem sabe aquela expressão se deu apenas pelo pintor achasse que daquele modo ficaria melhor. Uma espada repousava exposta em uma parede, a espada representava o símbolo do oficialato o simbolo do poder em tempos antigos que ainda se mantinha, e aquela espada tinha uma história, a qual Lorenzo deveria ter ouvido incontáveis vezes de como o capitão tinha conseguido tal artefato. Segundo a senhora Carmen o finado ganhou de um superior, Coronel Rubião, depois de salva-lo de uma emboscada, haviam detalhes de como o capitão lutara ferozmente contra uma duzia de homens, que somente uma jovem apaixonada seria capaz de acreditar. Segundo outras línguas o finado ganhara aquela espada no carteado ou em outra versão a dita emboscada fora na verdade uma briga de bar. Esses dois lados da moeda era devido que outros que conheceram o capitão em vida não tinham o mesmo apreço mantido pela viúva. Se na casa da viúva o capitão mantinha um bom nome o mesmo não ocorria pela vizinhança, sendo que muitos o desdiziam espalhando aos quatro cantos que o homem nunca fora nada do que a viúva pintava. Talvez, fosse inveja, pois muitos diziam que o capitão era mesquinho, mal-humorado e cheio de si.  Mais tarde descobrira Lorenzo que o posto mesmo de capitão somente lhe fora concedido depois de sua morte e em que vida fora apenas tenente, patente essa logo abaixo da de capitão. Contudo, ainda daquele que chamasse o finado por tenente! A senhora Carmem imediatamente fechava a cara. A idolatria daquela mulher pelo falecido era tanto que mantinha em outro canto da casa  uma farda dentro de uma caixa de vidro, as má línguas diziam que se tratava do próprio caixão do falecido e que se tratava de um despautério tal ato, para Lorenzo não era para tanto não via mal nenhum em todo o apreço depositado naqueles objetos, muito menos na devoção incondicional que ela mantinha pelo finado marido.

Basicamente a Dona Carmen vivia da pensão pós morte do seu marido, para completar a renda ela costumava dar aulas de piano. A "vozinha" como era chamada por Lorenzo tinha um pouco de estudo o suficiente pelo menos para ler e fazer contas e a primeira coisa que fez foi ensinar Lorenzo a ler, depois o colocou na escola. Até que ele ia bem sendo que poucas vezes levara alguma reguada, a sua idade avançada não era problema, já quem em sua classe haviam alunos de diversas idades. Quando moço foi cursar o ensino secundário e quando estava com idade para se alistar a viúva deu um jeito de arrumar uma carta de recomendação de um coronel reformado que servira junto com o falecido e com isso despachou Lorenzo para que fosse se apresentar na Escola Militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro, antes porém deu a espada do falecido marido ao jovem e o fez prometer que escreveria cartas regularmente para ela e quando pudesse viria a São Paulo visitar a sua vozinha.

Desejava a senhorinha que Lorenzo seguisse o caminho dar armas, porém o destino às vezes parece que prega algumas peças e foi justamente quando Lorenzo chegou ao Rio de Janeiro estava ocorrendo uma tal de Revolta da Vacina, sabe lá por qual motivo as pessoas simplesmente não queriam tomar as ditas vacinas, claro que existiam motivos além de uma simples agulhada, e para piorar os alunos da academia militar aderiram a revolta, por tal motivo a Escola Militar acabou fechada. E mais uma vez Lorenzo se encontrava sem destino.

Lorenzo acreditava que logo a academia seria aberta e por isso resolveu ficar pelo Rio de Janeiro mesmo, com a notícia de que a formação de oficiais do exército seria transferido para Porto Alegre, acabou por se escrevendo na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. E justamente lá na capital do país ele acabaria sendo apresentado a um outro descendentes de italiano chamado de Giuseppe, o qual lhe era primo.

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