O primo Giuseppe

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*Na foto acima o bairro de Santa Tereza no inicio do século XX

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*Na foto acima o bairro de Santa Tereza no inicio do século XX. Estima-se que nesse período residissem em torno de 35.000 imigrantes italianos no Estado do Rio de Janeiro, sendo somente na cidade do Rio de Janeiro entre 21.000 a 25.000.

Sete anos haviam se passado desde a chegada de Lorenzo ao Rio de Janeiro. A noite daquele dia era especial e por isso trazia junto consigo seus melhores amigos no seu lugar preferido, o lugar estava agitado, tratava-se do bar do "Seu Mota", hoje estavam ali presentes os preciosos amigos que Lorenzo colecionara pelo Rio de Janeiro, sendo que não passavam de meia-dúzia, estavam ali Laura e Eva, as duas eram irmãs sendo que a primeira a mais velha, a qual tinha vinte e dois anos, enquanto sua irmã mais nova dezoito. A irmã mais velha tinha tido um namorico com Lorenzo depois os dois romperam, no fundo ela trazia esperanças de um eventual retorno, já Eva era interessada em Giuseppe, porém esse só tinha olhos para Nina que hoje não se encontrava presente, ainda junto ao grupo estava Estevão, o qual era tido por todos como um malandro, digamos que ele vivia de métodos não convencionais, nada de muito grave, apenas era perito em falsificações das mais varias possíveis, no seu último golpe tinha falsificado um quadro de um pintor famoso e vendido a peça como original. Todos se conheceram por aquele bairro, o bairro de Santa Teresa também apelidado de Calábria Carioca, nesse local formara-se um verdadeiro reduto de italianos sendo que nessa época no Rio de Janeiro viviam em torno de trinta e cinco mil italianos ao contrário de outros lugares os italianos que por aqui se encontravam eram quase todos urbanos e foram atraídos para ali pelas oportunidades que somente a cidade oferecia, sendo que a maioria possuía algum tipo de negócio próprio. Bem, Lorenzo não poderia ter procurado lugar melhor para ficar que nessa região, na verdade, nem foi ele quem escolheu, já que ao chegar na estação perguntou onde conseguiria uma pensão para se hospedar e fora de imediato indicado para que pegasse o bonde para Santa Tereza. As garotas naquela noite pareciam eufóricas e trocavam vários cochichos entre si, já Estevão parecia mais interessado na mulata que estava sentada numa mesa ao lado, enquanto Lorenzo acompanhava a cara desenxabida de Giuseppe que ainda continuava a lamentar a perca de sua Nina. Por sinal foi através dela, Nina, que os dois primos vieram a se conhecer. A garota em questão vinha de uma família rica, mas que já viveu dias melhores, seu pai não conseguiu se adaptar ao fim do império ou melhor com a falta de conchavos, e agora vivia em dilapidar o patrimônio que um dia herdara. Apesar da família estar a bancarrotas ainda mantinham bons contatos e fruto de um desses surgira um bom pretendente a Nina e por tal motivo Giuseppe ficara angustiado.

Giuseppe era pouca coisa mais novo que Lorenzo, no máximo um ano, os dois eram tão parecidos que facilmente os tinham como irmãos, quando não confundiam um pelo outro. Foi isso justamente que aconteceu com Nina ao dar de cara com Lorenzo e correr ao seu encontro pensado que fosse Giuseppe, tal fato ocorreu enquanto ambos caminhavam pelo centro do Rio de Janeiro, ao perceber o engano ela ficou tão maravilhada que tratou de apresentar os dois. Sim, Nina sempre foi muito supersticiosa e por isso acreditava que tudo na vida tinha um motivo, uma razão, para acontecer e sim, ela estava certa, havia uma razão para tamanha semelhança entre os dois, uma vez que, os dois estavam ligados por laços de sangue. Não demorou para Lorenzo descobrir que aquele desconhecido era seu primo, filho de Dominico o homem que odiava sem ao menos conhecer. Ao fazer a descoberta pensou em romper amizades com Giuseppe, depois reconsiderou e passou a matutar um modo de usá-lo em sua vingança, para no fim desistir por completo e apenas o ter como amigo. Apesar do ódio que mantinha do seu pai, ele sabia que o seu filho era inocente e que o filho não poderia pagar pelos pecados do pai. Ainda descobriu que a história de Giuseppe nunca fora das melhores, uma vez que, quando pequeno foi enviado para a capital a fim de iniciar os seus estudos, de alguma forma seu pai queria que o filho estudasse e se tornasse doutor não importava em qual área fosse, apenas que fosse "douto". No Rio de Janeiro acabou matriculado num colégio interno dirigido por freiras e por lá ficou até que finalmente estivesse pronto para cursar uma faculdade. Giuseppe sempre fora tímido e ao sair do colégio interno tinha poucos conhecidos na cidade sendo que nunca havia retornado desde então para a sua terra natal, apenas conversava com eles através de cartas sendo que quem mais lhe escrevia era sua mãe, do seu pai guardava apenas rancor por tê-lo mandado para longe, não conseguia entender por qual motivo fora enviado em tenra idade para terras tão distantes, imaginava que por algum motivo o seu pai o odiava, já que nas inúmeras vezes que pedira para retornar sempre obtinha como resposta um "não": "Apenas lhe aceitarei de volta com um diploma em mãos!". Diante disso Giuseppe crescera sozinho no meio de estranhos e sem qualquer carinho, algo similar que passara Lorenzo no período que viveu abandonado pelas ruas de São Paulo e esse sentimento de alguma forma o ligou ao seu primo e não demorou para que o considerasse como um irmão, por sinal um sentimento mutuo.

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