O Machado Maldito de Edeinar

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Obrigado, senhorita. Se não tivesse me aberto a porta eu morreria congelado esta noite. Desculpe pela bagunça, faço questão de limpar seu assoalho depois que aquecer um pouco as minhas mãos. Um chá quente? Quanta gentileza! Sim, também aceito ficar para o jantar, se eu não estiver abusando demais. A senhorita é uma ótima anfitriã!

Sim, sou um bardo. Ah, você me reconheceu daquela noite na taverna? Gostou de minha apresentação? Fico honrado! Sim, aceito o que tiver. Pão de ontem? Sopa de ossos? Sem problema! Junto com o chá e a sua companhia, será um manjar para divindades. Não, não! Pode me entregar o pano, eu faço questão de limpar o chão que sujei com minhas botas.

Gostaria de poder pagar sua boa acolhida com ouro, mas tenho apenas as minhas histórias para esbanjar. Talvez, para passar o tempo, você queira ouvir uma de minhas histórias? Claro, eu tenho muitas! Pode escolher: que tal uma narrativa sobre alguma batalha épica? Ou quem sabe um poema de amor? Tenho ótimas anedotas, se quiser! O que prefere?

Hmmm, a julgar pelas armas penduradas na sua parede, a senhorita deve gostar de histórias com lutas, não é? Maravilha! Uma acabou de me vir à mente agora, principalmente ao encarar esta neve que não para de cair lá fora, é a história de um guerreiro trágico do extremo norte. A senhorita incomoda-se com finais infelizes? Muito bem, então. Vou contar-lhe a história do Berserkr Edeinar.

Não sabe o que é um Berserkr? Bem, no idioma dos povos do norte, Berserkr significa "filho do urso". São guerreiros imbatíveis, abençoados com uma fúria e uma sede de sangue implacável. Trata-se de uma dádiva concedida pelos deuses e que é passada de pai para filho, embora nem todos cheguem a desenvolver tais poderes. Eles nascem com esta fúria interior escondida no seu cerne e, quando a despertam, fazem jus ao nome "urso" e se tornam bestas temíveis no campo de batalha.

Há muitos anos atrás, em uma ignorada vila no norte gelado, surgiu um Berserkr que se tornou notório em muitas lendas. Edeinar Björn, o Urso-Caolho. Nascido numa família pacífica, despertou para sua vocação após um traumático evento que vitimou seus pais. 

Quando entrava no seu frenesi de sangue, Edeinar se tornava um matador que não poupava nenhum oponente. Colecionava troféus aos montes e jamais voltava de uma batalha sem ter matado pelo menos cem homens. Os inimigos tremiam só de ouvir o seu nome, e o povo de tinha muito orgulho dele.

Porém, Edeinar não apreciava a besta que habitava em seu ser. Detestava lutar, sempre tentando arrumar uma forma pacífica para resolver desentendimentos. Mas quando pisavam em seu calo, não havia sangue suficiente que o saciasse. Jamais teve filhos, pois não desejava passar adiante a linhagem que, muito longe de uma bênção, considerava uma maldição. Procurava sempre viver afastado das pessoas, pois temia que sua fúria acabasse matando os que lhes eram caros. Em seu frenesi, um Berserkr dificilmente consegue diferenciar um amigo de um inimigo.

Porém, houve uma pessoa em especial que ele amou mais do que a própria vida: Grainne, a Lâmina Dourada. Uma das mais belas guerreiras que já pisou no norte. E uma das mais imbatíveis. Quando cavalgava nas florestas, presa alguma escapava do seu arco e flecha. Quando lutava, sua espada movia-se com tamanha graciosidade que muitos inimigos hesitavam antes de serem golpeados só para apreciá-la. E nos momentos de tranquilidade cantava para seus companheiros.

Ela era a única que não temia Edeinar quando ele estava furioso, pois a ligação deles era tão forte que bastava a guerreira se colocar na frente dele que o frenesi passava. Não se conhece nada que possa interromper a fúria de um Berserkr, a não ser sua própria força de vontade. E era exatamente isso que acontecia. Ambos se amavam tanto que Grainne não precisava temer Edeinar, fosse em qualquer situação.

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