Olhei uma última vez ao espelho na tentativa de arranjar o meu cabelo, suspirando. Não havia maneira de ele ficar no sítio hoje, porque é que eu ainda tentava?
Ouvi a voz da minha mãe a chamar-me lá em baixo. Despedi-me uma última vez do meu adorável quarto, agora vazio. Olhei em redor para as paredes vazias e sem vida, onde antes estavam fotografias, quadros e posters. Passei os dedos na minha confortável cama, agora sem lençóis. Desci as escadas olhando para todos os cantos da casa agora vazia e sem vida, onde eu cresci.
Um monte de recordações passava na minha cabeça como se a quisessem fazer explodir. Uma dor permanecia no meu peito. Sentia saudades disto antes de ir embora.
Eu não queria ir embora. Eu não queria deixar a maior parte da minha vida apenas como uma recordação (apenas as partes boas), eu queria ficar. Sinto que é aqui que eu pertenço.
Parei perto de onde costumava de ser a nossa sala de estar. Estava vazia como o resto da casa, como era de esperar. Memórias de eu a brincar com as minhas bonecas no nosso grande tapete castanho passavam-me pela cabeça, tais como as memórias das noites de filmes que eu fazia com as minhas amigas, aqui mesmo.
Tinha-me despedido de todos os meus amigos no dia anterior. Não é que eu tivesse muitos amigos, mas os que tinha bastavam-me. Não queria deixar estas boas memórias simplesmente ir, mas tinha de ser. Tentava segurar as minhas lágrimas. Tinha de parecer forte.
Caminhei até à porta das traseiras e olhei para o nosso pequeno jardim. O jardim era, sem dúvida, uma das minhas partes favoritas da casa. Eu era capaz de passar aqui horas, a ler, a ouvir música, a conversar com a minha mãe ou com as minhas amigas, … Sentei-me no banco de jardim e olhei em redor, despedindo-me assim da casa onde cresci. Caminhei novamente para dentro da casa, passando pela cozinha e pela sala de estar e dirigindo-me até á porta que dava para a rua, não muito movimentada. Parei e olhei de novo para a casa. Uma lágrima, que eu já estava a conter à algum tempo, ateimou em escapar e escorrer pela minha face.
Ivy, temos de ir. – Disse a minha mãe, já no carro.
Fechei a porta devagar e caminhei até ao carro. Abri a porta, sentei-me e coloquei o sinto de segurança. A minha mãe liga o motor do carro e eu fico a ver a casa onde cresci, com uma grande placa a dizer ‘VENDE-SE’, a desaparecer devido à distância. Teria de me habituar à ideia de que nunca mais lá voltaria.
Navegava nos meus tristes pensamentos, até que a minha mãe decide romper o silêncio.
Não fiques assim Ivy, vais ver que vais gostar de Sidney – Disse na tentativa de ajudar a sentir-me melhor.
Sidney não é o Kansas. – Disse com tristeza, olhando ainda pela janela.
Sem dúvida que Sidney não se compararia com o Kansas, isso era mais do que obvio. No Kansas tinha todos os meus amigos, que agora tinha de deixar para trás. Tinha crescido aqui, tinha passado aqui os 17 anos da minha existência e não queria ir embora. Agora, teria de recomeçar tudo.
Lamento Ivy, mas tem de ser. – Disse docemente.
Não respondi. Aliás, não tinha resposta para dar. Liguei o rádio e continuei a olhar para a janela.
(…)