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Fazia pouco mais de seis semanas desde que Lauren tinha deixado Camila ir embora. Seis semanas desde que ela tinha quebrado o coração sentindo a dor física enquanto observava os pais de Camila a levar de carro ainda presente, ainda irritante para ela a cada segundo de cada dia, a lembrando de que tinha perdido. Que a tinha perdido. Tinha se passado seis miseráveis longas semanas solitárias e Lauren não tinha ouvido falar de Camila nenhuma vez. Nenhuma carta, nenhum telefonema, mensagem de texto, nada dela. E isso a estava matando lentamente.

Lauren tinha sofrido seis semanas sem o sorriso de Camila, sem seu riso, seus olhos de chocolate, seu tom de voz rouco e baixo, seus longos cachos suaves de cabelo escuro. Ela sofreu sem a presença da forma lúdica de Camila, sua inteligência afiada e seu coração bondoso em sua vida. Durante seis semanas Lauren tinha sentiu falta de tudo sobre Camila, cada pequeno detalhe, cada pequeno capricho pessoal, cada minuto e momento insignificante de contato físico que costumavam compartilhar. Lauren tinha sentido falta da forma que Camila franzia a testa quando estava confusa, como torcia o nariz adoravelmente quando estava nervosa ou como quando fazia beicinho na tentativa de conseguir o que queria. Ela tinha sentido falta da forma que Camila olhava para ela, a maneira que seus olhos se iluminavam com malícia quando estava planejando algo, a maneira que sua pequena mão se encaixava confortavelmente com a sua.

Nas últimas seis semanas, Lauren tinha sido incapaz de identificar a cicatriz acima do olho esquerdo de Camila como costumava fazer, tinha sido incapaz de brincar com os dedos da namorada, beijar seus lábios macios com ternura ou acariciar o rosto delicadamente com a ponta de seu polegar. Todos os hábitos subconscientes desenvolvidos, todos os pequenos confortos quando ela estava preocupada, estressada ou agitada. Tudo se perdeu como Camila.

Lauren sentiu falta disso e mais um monte de coisas sobre sua namorada, mas na maior parte do tempo, ela sentia falta de Camila. Ela sentia falta dela todos os dias. Lauren sentia falta do que Camila era, tudo que conquistou na sua vida, a forma como o seu futuro parecia menos triste quando ela a imaginava nele.

Lauren sentiu falta também da pessoa que era quando Camila estava com ela, do jeito que se sentia quando estavam juntas. Ela sentia falta do jeito que seu rosto doía porque estava constantemente sorrindo, a forma como Camila conseguia suavizar tudo para ela.

Lauren realmente sentia falta de ser feliz.

Lauren desejou que pudesse falar com Camila novamente da maneira que costumavam fazer. Ela sentia falta das conversas profundas e suas brincadeiras. Ela desejou que pudessem ficar a noite toda juntas discutindo suas esperanças, seus sonhos e seu futuro como tinham feito antes, quando as coisas eram melhores, quando ela não tinha percebido a extensão dos problemas de Camila, quando ainda tinha estado vivendo em negação. Se Lauren pudesse falar com Camila, ela diria que só tinha uma esperança agora: que ela iria voltar para ela. Lauren diria a Camila seu sonho, estarem juntas mais uma vez. Isso era tudo o que Lauren queria, tudo o que ela podia pensar e ela não acreditava que ele estava pedindo demais para o universo dar uma pausa em troca de tudo que tiveram que passar como casal.

O dia em que Camila havia deixado a cidade Lauren tinha permanecido na cama, deprimida demais para ir à escola, muito chateada para enfrentar o mesmo corredor que se conheceram, passar pelo armário de Camila agora vazio ou se sentar nos mesmos lugares que normalmente faziam durante as aulas que compartilhavam, o que agora era doloroso e obviamente vago na ausência de Camila. Lauren não conseguia se lembrar de outra vez em toda a sua vida que já tinha chorado tanto como fez no primeiro dia. Ela sentiu como se estivesse sufocando com a força de seus soluços, a tristeza abrangente que tinha experimentado rasgando suas entranhas violentamente, a fazendo se sentir enjoada e tonta.

Ela não tinha comido nada naquele primeiro dia, o apetite desaparecido e substituído por uma fome insaciável por apenas uma coisa, uma pessoa, Camila. Isso era tudo o que o seu corpo ansiava, o único sustento que queria, mas isso foi exatamente o que não podia ter, a pessoa que cobiçava agora há quilômetros de distância, condenada a uma estadia prolongada e involuntária em um centro de tratamento especializado em reabilitação de pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático e depressão.

Camila era tudo o que Lauren podia pensar e cada momento do dia era gasto lembrando-se dela, a maneira que seu sorriso fazia vibrar o estômago de Lauren, a forma como os lábios pressionados suavemente contra o seu enviava um arrepio pra espinha, a forma como os dedos entrelaçados a fazia se sentir quente e amada. Lauren era incapaz de esquecer Camila por um minuto sequer, ela não poderia mesmo ter um momento de alívio porque tudo recordava as coisas que tinham feito juntas, dos lugares e experiências que tinham compartilhado.

Lauren tinha tentado focar nos trabalhos da escola, tinha estudado muito para tentar recuperar suas notas, mas mesmo isso trazia de volta lembranças vivas de todas as vezes que tinham ficado lado a lado na cama, seus narizes enterrados em seus respectivos livros enquanto faziam a lição de casa juntas. Lauren não poderia mesmo desfrutar do softball mais, o efeito das endorfinas liberadas a partir do exercício físico esmagado pela memória delas praticando o jogo juntas.

Lauren sempre tinha pensado que era perspicaz quando para a depressão de Camila. Ela pensou que tinha entendido o que significava, como se sentia, mas não tinha, não até agora. Essas ocasiões em que Camila tinha dito a ela que se odiava, que preferia estar morta do que ter que lutar por mais um dia, que às vezes ela achava difícil até mesmo levantar da cama, tudo fazia muito mais sentido para ela agora, porque sem Camila é exatamente assim que Lauren se sentia. Ela se odiava por ter deixado Camila ir, por deixar as coisas do jeito como ficaram, por não ter a oportunidade de dizer um adeus apropriado. Ela se odiava por ter duvidado de sua decisão, porque no fundo ela sabia que era a coisa certa a fazer, ela sabia que Camila precisava de ajuda, que precisava ficar sozinha para realmente se recuperar do impacto do acidente, ainda profundo em sua vida, tinha causado.

No fundo, Lauren sabia que era a coisa certa a fazer por ela também, que estar com Camila no meio de um episódio grave de depressão ou de um ataque paralisante de estresse pós-traumático não era bom para ela e estava começando a afetar a sua própria saúde mental, aos poucos a minando também.

Lauren não era uma suicida, ela nunca imaginou morrer ou pensou que seria melhor se deixasse de existir. Nunca nem tinha passado pela sua mente, a depressão que sentia era leve em comparação com a de Camila, mas ainda muito real. Não era complicada como uma recuperação física, exacerbada por flashbacks ou pesadelos horríveis como Camila tinha. Lauren não tinha que lidar com a dor terrível causada por danos corporais como Camila, sua agonia era puramente emocional, mas a consciência de que ela teve um vislumbre da cabeça de Camila como experiência própria, finalmente a fez perceber o quão forte sua namorada tinha sido, a fez se perguntar como ela ainda conseguiu funcionar no dia-a-dia, como durou tanto tempo sem ter um colapso mental completo.

De acordo com Dinah, era exatamente o que Camila tinha experimentado no primeiro dia no centro de tratamento, quando no meio de um episódio depressivo maior, ela tinha mostrado sinais de uma psicose aguda, o pessoal do centro a encontrando em numerosas ocasiões sentada em seu quarto e falando para si mesma, repetindo os comandos para alguém ‘calar a boca’, as mãos sobre sua cabeça, seu corpo enrolado enquanto ela chorava ouvindo coisas que não estavam lá, tendo alucinações auditivas que a terapeuta tinha descoberto mais tarde, eram depreciativos sobre si mesma, dizendo que ela era inútil, que ela deveria se matar, que deveria ter morrido no acidente. Camila também havia se tornado rapidamente paranoica achando que todo mundo estava lá para pegá-la, obstruindo a porta de seu quarto com a mesa e a equipe do local precisou forçar sua entrada.

Finalmente, após depois de injetar uma dose de Haloperidol, Camila se acalmou um pouco e foi levada para a cama, ironicamente incapaz de dormir, se recusando a falar, comer, a fazer qualquer coisa.

Lauren se sentia profundamente culpada pela condição de Camila, mas ao mesmo tempo se sentia extremamente grata que Camila estava num lugar onde poderiam gerenciar seus sintomas corretamente, onde ela era acompanhada de perto e incapaz de ferir a si mesma.

Lauren ainda ficava preocupada com Camila constantemente apesar da distância. Mas ela estava grata pelas atualizações regulares de Dinah, todas acalmando um pouco sua mente, informações que a amiga tinha de Sinu e da própria Camila, ajudando em sua ansiedade e a fazendo silenciosamente acreditar que Camila estava lentamente começando a se recuperar. Por outro lado, Lauren odiava falar com Dinah sobre Camila, saber que ela estava começando gradualmente a se reconstruir, lidando com seus problemas enquanto ela continuava a convalescer. Lauren odiava ouvir que Camila estava bem porque a machucava saber que, apesar de seu progresso, Camila ainda não tinha falado com ela e, aparentemente, ainda queria absolutamente nada com ela.

Lauren tinha tentado entrar em contato com Camila inúmeras vezes ao longo das últimas seis semanas. Ela tentou telefonar, mensagens de texto, escrever, mas Camila ignorou todas as tentativas de comunicação, tinha evitado todos os esforços que Lauren tinha feito para iniciar um diálogo, para se desculpar. Lauren ainda tinha ido ao centro de tratamento num fim de semana na esperança de ver Camila, desesperada para falar com ela mesmo que apenas por um momento, para que ela pudesse ver com seus próprios olhos que ela estava bem. No entanto, eles se recusaram a deixar Lauren entrar, Camila negando qualquer visitante.

Finalmente, depois de seis semanas sem se falarem, Lauren tinha chegado à conclusão de que o que ela e Camila tinham compartilhado não existia mais. Ela já não era a metade de um todo, parte de um casal. Ela já não fazia parte de um 'nós’ e as coisas já não eram 'elas’. Agora só havia ela e quanto mais cedo começasse a aceitar isso, mais feliz ela pensou que seria. Ela não podia nem culpar Camila por não se sentir do mesmo jeito que ela afinal de contas tinha sido Lauren que a tinha condenado para a sua realidade atual, onde estava escondida de todos que ela conhecia e amava, sozinha. Ela tinha sido a pessoa que Camila tinha se apoiado quando estava desesperada, para salvá-la, protegê-la e ajudá-la. Lauren tinha sido sua salvadora e agora era sua vilã. Camila tinha confiado nela, mas não mais. Camila era apaixonada por ela, mas não mais.

“Hey” Dinah cumprimentou tirando Lauren de seus pensamentos melancólicos enquanto se sentava ao lado dela em sua mesa de sempre no refeitório da escola.

Ao longo das últimas seis semanas Lauren tinha passado muito tempo com Dinah, a outra garota também sentindo a perda de Camila e sua atitude normal e alegre, agora subjugada sem sua melhor amiga.

“Oi” Lauren, Normani e Ally cumprimentaram juntas enquanto Dinah tirava seu lanche da mochila.

“Você está atrasada hoje” observou Normani enquanto começavam a lanchar.

“Eu sei, me desculpe, eu acabei de falar com a Camila” Dinah informou lançando um olhar de soslaio para Lauren que havia mostrado interesse ao ouvir o nome da menina.

“Você falou?” perguntou se virando para Dinah ansiosa para ouvir o que sua namorada, ou mais do que provável, ex-namorada tinha dito.

“Sim. Eu pensei em ligar rapidamente porque me lembro quando eu falei com ela no fim de semana e ela disse que teria uma sessão de terapia realmente importante esta manhã e eu queria ver como tinha sido.”

“Bem, o que ela disse?” Lauren perguntou ansiosamente olhando para as outras meninas antes de voltar sua atenção para Dinah.

“Ela disse que foi tudo bem” respondeu Dinah encolhendo os ombros enquanto estendia a mão para pegar seu refrigerante “Mas pra ser sincera, ela não falou muito. Aparentemente, ela está com uma dor de cabeça forte e queria se deitar.”

“Será que ela está tendo muitas?” Normani perguntou preocupada. “Não sei, provavelmente o mesmo de antes.”
“Você está indo vê-la em breve?” Ally perguntou e a garota mais alta balançou a cabeça em resposta.

“Ela ainda não me deixa vê-la. Ela não deixa nem seus pais entrarem.”
“Espera, nem seus pais ela liberou?” Normani questionou surpresa.
“Eu pensei que eles teriam que deixar seus pais entrarem” Lauren comentou também espantada que nem sua mãe nem seu pai tinham acesso a sua família durante esse tempo.

“Não, não se Camila não quiser vê-los. Sinu me disse que Camila não acha que iria ajudá-la na recuperação se continuassem visitando o tempo todo e o Centro concordou assim e seus pais estão honrando seu desejo.”

“Será que Camila disse quando pensa que será liberada?” perguntou Normani e Dinah balançou a cabeça em resposta.

“Ela não tem falado comigo sobre isso. Pode ser numa semana ou mais alguns meses. Eu não tenho ideia.”

“E sobre o julgamento?” perguntou Ally “Eles iriam remarcá-lo. Ou foi adiado indefinidamente?”

“Sinu disse que seu advogado conseguiu o adiamento para quando Camila estiver bem o suficiente para cuidar de si mesma ou alguém ir ao Centro para conseguir uma declaração por escrito” Dinah respondeu.

“Ela perguntou sobre mim?” Lauren questionou já sabendo a resposta, mas sentindo a necessidade de perguntar mesmo assim.

“Não, eu sinto muito Lauren” Dinah pediu desculpas colocando a mão no ombro de Lauren.

Lauren assentiu com a cabeça tristemente voltando o olhar para o chão.

“Eu tenho certeza que ela sente falta de você, Lo” Ally tentou consolar a amiga “Ela está, provavelmente, apenas ocupada ou algo assim?”

“Ally, não” disse Lauren levantando seu olhar para suas amigas por um momento antes de se virar para Dinah “Eu acho que todas nós sabemos que não é verdade. Camila, obviamente, não quer falar comigo. Quero dizer, mesmo você e Normani trocaram mensagens com ela nas últimas semanas. Eu acho que ela simplesmente não pode me perdoar pelo que fiz.”

“Lauren você fez a coisa certa” Normani a tranquilizou “Você sabe não é?” “Eu acho” respondeu Lauren.
“Não, você fez” Dinah disse a puxando para um abraço de lado “Mila precisava de ajuda e você precisava de algum espaço para se ajeitar também. Você precisava de um pouco de espaço para respirar.”

“A ironia é que, desde que ela saiu, eu me sinto como se estivesse sufocando lentamente” Lauren compartilhou miseravelmente.

“Os problemas da Camila eram grandes demais para vocês duas lidarem” disse Ally.

“Eu sei. Logo percebi que quando a encontrei. Camz era uma pessoa completamente diferente. Eu não acho que ela realmente considerou os aspectos práticos de fugirmos, ela estava apenas… eu não sei… ela estava tão desesperada…”

Lauren parou por um momento passando a mão pelo cabelo respirando profundamente, a memória fazendo seus olhos arderem com a ameaça de lágrimas, os sentimentos ainda expostos.

“Nada do que ela dizia fazia sentido. Ela estava divagando sobre as luzes e depois que ia embora… era diferente de como ela normalmente é quando está deprimida, pior em alguns aspectos, ela estava quase maníaca. Ela estava tão obcecada por nós irmos embora juntas… ela me pediu” Lauren disse com a voz cheia de emoção

Provações E Tribulações (Bíblia Do Fandom)Onde histórias criam vida. Descubra agora